30 de ago. de 2011

Homens, mulheres e bebês ou “o que NÃO aconteceu no VMA 2011?”

Celebutopia_net

Como se rouba a cena quando está todo mundo preparado demais para o seu esquema usual? Pelo que pode muito bem ser o terceiro ano seguido, Lady Gaga nos mostrou que o segredo é virar o jogo de cabeça pra baixo. Performance histórica em 2009, vestido de carne e mais diversos trajes bizarros/fabulosos em 2010, e agora o que ela nos faz? Aparece no palco, para abrir a premiação, vestida de homem, fumando um cigarro, e cantando com a voz puxada para o grave. Lady Gaga não foi ao VMA 2011. Quem esteve lá, em tempo integral, foi Jo Calderone, o alter-ego masculino da maior estrela do pop da atualidade, e qual não foi a surpresa quando, assim, de camiseta branca e sapato social, Jo se tornou a grande figura da noite? Katy Perry ficou apagada com suas trocas de roupas ao estilo “adorável”, entrevistas decoradas e piadinhas previsíveis. É, ela ganhou o prêmio maior da noite, e há de se reconhecer o mérito de Firework, o clipe, para vencer como Melhor Video do Ano. Mas, o show, mesmo, só ouviu ressoar quatro nomes: Gaga (ou Jo), Béyoncé, Adele e Amy Winehouse.

Justiça seja feita a quem merece, é claro. Bruno Mars brilhou também, montando mais um de seus divertidos shows naquele estilo que é só dele para homenagear Amy e entoar Valerie com muito mais propriedade do que o Twitter pode ter levado você a acreditar. Jessie J cantou para chamar os intervalos da premiação, ainda com a perna enfaixada, e ainda assim roubou algumas cenas, especialmente nas versões de Firework e Girls Just Wanna Have Fun. De novo, quem só ficou de olho nas reações a noite que iam sendo postadas no serviço de microblogs deve ter achado que o VMA 2011 não foi assim tão bom. Mas, hora de falar a verdade: em noites de premiação o Twitter é um lugar irritante pra se ficar. 80% das pessoas postando simplesmente não saem do senso comum (“Adele é gorda, Britney é sem talento, Gaga é doida, Miley é p*ta”, como bem me listou ironicamente um amigo, ao qual eu acrescentaria “Bruno é irritante, Demi engordou”), desperdiçando uma excelente oportunidade de expressar sua opinião de verdade, e não alguma piadinha de mau-gosto, num ambiente que te deixa livre para isso.

A própria Demi postou em seu Twitter, ligeiramente irritada, no fim da noite: “Advinhem? Estou saudável e feliz, e vocês me odiando por meu peso obviamente não estão. :)”. Mereceram. Mas alfinetadas virtuais a parte, falemos finalmente de quem roubou a cena de verdade nesse VMA. As dez da noite, de forma muito pontual, luzes apagadas e um holofote branco iluminando o palco. Surge-nos Jo Calderone, fumando e entregando um monólogo pra entrar pra história dos VMAs. Piano, “You and I”, dançarinos, malabarismos vocais, Brian May, uma performance completa. Só as reações de quem estava na platéia foram o bastante para garantir o entretenimento. Gaga entregou o inesperado mais uma vez, e destruiu qualquer possibilidade da noite ter algum outro candidato a destaque maior. Abrindo assim o VMA, cantando, performando e atuando como nunca, Gaga nos mostrou que, ao contrário do que muita gente já acredita, a arte da performance pop ainda tem muito para mostrar nas mãos de gente como ela. E poucas vezes tanto orgulho veio junto com as palmas dirigidas a ela.

Seria estrela solitária se não fosse por Beyoncé, Adele e, claro, Amy Winehouse. A primeira anunciou uma gravidez-surpresa, entregou uma performance recheada de classe e desempenho vocal absurdamente impressionante e ainda exibiu aquele sorriso adorável cujo efeito provocado no público é a prova de que Beyoncé já é um ícone. A segunda foi emoção pura, sem nem precisar surpreender na performance. Adele cantou “Someone Like You”, ao piano, no escuro, e houve tanta entrega, tanta excelência vocal em sua performance, que foi impossível até parar de olhá-la, linda como estava, para notar que a platéia guardou silêncio absoluto durante a performance, de pé e atentos a cada nota que vinha da cantora. E, por fim, Amy apareceu em imagens de arquivo, gravando o dueto com Tony Bennet, e foi impossível não sentir uma ponta de tristeza nessa grande lembrança de como sua voz era excepecionalmente comovente. E de como ela era uma pessoa adorável também, afinal. Guardou-se silêncio. E sepultou-se uma lenda.

Em meio a tanto show, tanta surpresa, os prêmios ficaram até em segundo plano. Mas, para quem quiser saber mesmo: Katy Perry ficou com Melhor Colaboração (E.T.) e Clipe do Ano (Firework); Gaga levou Video com Mensagem e Video Feminino, ambos por Born This Way; Nicki Minaj desbancou os garotos que dominavam a categoria Video de Hip-Hop com seu Superbass; Britney ficou como a homenageada da noite (numa apresentação meio singela demais, se você vier me perguntar) e levou também Video Pop por ‘Till The World Ends; e Justin Bieber fechou a lista com o prêmio de Video Masculino para U Smile.

Ademais, o show bom muito bom, obrigado. Mesmo que o Twitter possa te fazer ter pensado o contrário, mesmo que alguns conceitos e preconceitos tenham entrado no meio do caminho. E mesmo que a apresentação de Chris Brown tenha sido ridiulamente pautada por playback e um medley tosco dos anos 90. Nem me deixe começar a falar do quão ridículo foi Lil’ Wayne fechando a noite, aliás. Deixemos isso de lado. O que interessa é que se fez história pop, de novo. E mesmo que seja a única noite que a MTV americana ainda finja se importar com música, como disse Adam Levine (e ele tem um ponto, com a emissora investindo tanto em realities e tão pouco em música), ainda dá pra olhar para tudo isso e, depois de duas horas e pouco, dizer “que noite!”.

Alguns dos melhores momentos da noite:
Lady Gaga/Jo Calderone - You And I
Adele - Someone Like You
Beyoncé - Love on Top
Amy Winehouse Tribute/Bruno Mars – Valerie

PS: Mais alguém sentiu falta de Rihanna e Madonna? Nem dar as caras as duas deram…

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Porque quando ela sobe nesse palco, ela não reprime nada. Aquele holofote a segue para qualquer lugar que ela vá. Algumas vezes eu acho que a segue até em casa. Eu sei que a segue. Quando ela chega em casa, é como se ela cobrisse seu rosto porque ela não quer que eu veja que ela não pode aguentar um único momento honesto, mesmo enquanto não tem ninguém assistindo. Eu quero que ela seja real. Mas ela diz, ‘Jo, eu não sou real. Eu sou um teatro. E você e eu… nós somos só o ensaio’”

(Jo Calderone fala sobre Lady Gaga – é, é complexo)

1 comentários:

Fabio Christofoli disse...

Hoje eu vou ter que discordar de você. O VMA foi uma decepção pra mim, e não pelos motivos banais que as pessoas citaram no Twitter.

Foi fraco pela falta de novidade, pela falta de variedade... As estrelas desse ano foram praticamente as mesmas do ano passado. Foi fraco pela obviedade e até pela infantilidade de algumas atrações.

Eu vi VMA's geniais nos anos 90 e até no começo dos anos 2000, geniais porque sempre tinham algo novo, algo surpreendente e uma mistura de ritmos. Onde estava o rock nessa premiação? Por mais que velem o rock, muitas bandas ainda lançam coisas boas e simplesmente perderam espaço para o mundo teen.

Discordei de boa parte das premiações também, mas infelizmente isso é uma escolha do público e o público não é seletivo atualmente.

Destaco a apresentação da Adele, o discurso da Gaga e a homenagem pra Amy, que poderia ter sido melhor, mas foi boa.