4 de dez. de 2014

Person of Interest 4x08/09: Point of Origin/The Devil You Know

Person of Interest

ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

4x08 – Point of Origin

Para uma série tão atual e relevante, Person of Interest é bastante antiquada. E o mais legal de vê-la se desdobrar temporada após temporada é perceber o quanto ela sabe o ser da forma certa – seja na estrutura narrativa exemplar, na determinação de ferro que os roteiristas mantem de olhar sempre para frente, ou mesmo nos temas e elaborações de cada episódio. Há algo de genial na forma como Person observa um mundo em completo caos urbano, esse bicho de sete cabeças com o qual aprendemos a conviver todos os dias, e extrai dele e de todas as suas peculiaridades tecnológicas tudo aquilo que permanece de mais básico e de mais fundamentalmente humano. Muitas vezes já se disse que Person é uma série sobre conexões humanas e o quão perdidos estamos sem elas, mas pouco se aprecia a forma como ela é capaz de caçar pelas pequenas infiltrações de humanidade no concreto cruel do mundo que retrata.

“Point of Origin” é um ponto essencial para a quarta temporada de Person, especialmente porque mostra a engenhosidade da trama que os roteiristas conduziram até aqui e a conecta com essa qualidade fundamental que a série sempre teve. Essa é uma história sobre a insustentabilidade de uma vida falsa – há um discurso de cerceamento de liberdade que todos nós sabemos que Person vai fazer conforme a temporada for evoluindo, mas há também a curiosa observação de que ninguém passa pelo mundo ser provocar impacto. É como jogar uma pedra no lago e esperar que ela não provoque aquelas famosas ondas concêntricas que se espalham por extensões infinitas.

Uma boa parte de “Point of Origin” mostra a agente do Samaritan, Martine (uma Cara Buono cruel e cheia de personalidade), “caçando” nossa amada Shaw com pouca ou nenhuma ajuda da formidável máquina de vigilância para a qual trabalha. E talvez seja por isso que ela e Dominic, o temido chefão da gangue The Brotherhood, sejam os vilões por excelência dessa quarta temporada de Person: eles entendem que nenhuma máquina endeusada é capaz de navegar o terreno das relações humanas, e sabem que essas relações são a própria matéria da vida de qualquer pessoa (e, portanto, as armas mais poderosas para quebrá-la). Conhecer de verdade as pessoas que protegem é a vantagem que o #TeamMachine sempre teve sobre quem quer que se confrontasse com ele, e é assustador perceber que agora eles não são os únicos com essa visão panorâmica das coisas.

A trama da semana complementa bem esse tema, e também traz Dominic e a Brotherhood para a ação, retomando aquela característica de Person de conectar os seus casos semanais à trama maior da temporada, especialmente em momentos fundamentais como esse. A guest star Adria Arjona, que vai estar na segunda temporada de True Detective, faz um trabalho cativante como uma policial infiltrada na academia procurando por um possível espião dentro da organização. É também nas relações pessoais que Person vai buscar a resolução dessa narrativa principal do episódio, perpetuando a missão do roteiro de Tony Camerino (3x18, “Allegiance” – review) em mostrar que todas as ações são motivadas e produzem consequências que afetam diretamente o mundo real.

Apesar de ter prometido uma guerra entre deuses no final da temporada passada, Person está nos entregando uma conclusão muito mais aterradora: o campo de batalha é bem aqui.

Notas adicionais:

  • Por último mas não menos importante: BEAR ACTION!

✰✰✰✰✰ (5/5)

Person of Interest

4x09 – The Devil You Know

Carl Elias é um exemplo clássico de como o desenvolvimento de personagens através das temporadas de Person of Interest é cuidado de maneira perfeita para o tipo de série que o thriller da CBS é. Como uma narrativa que se recusa a olhar para trás e encara cada virada de jogo sem medo de nos mostrar as consequências que ela traz para a trama, Person trata de seus personagens de maneira semelhante – eles nunca voltam a ser as pessoas que um dia foram, e a perspectiva do espectador em relação a eles é por vezes completamente alterada, de maneira que parece muito natural justamente porque se fundamenta num processo paciente de construção de personalidade e localização do personagem no mundo ficcional da série. “The Devil You Know”, nona entrada do quarto ano e fall finale da temporada, faz isso de maneira muito eficiente com o mafioso interpretado por Enrico Colantoni.

O ator ajuda bastante, é claro. Desde que apareceu devorando cenários com seu retrato escorregadio do criminoso capaz de derrubar, num jogo de pura inteligência, todos os chefões de Nova York, esse canadense de 51 anos acompanhou cada novo desenvolvimento da história de Elias com naturalidade. Na interpretação de Colantoni, vimos o personagem passar de vilão engenhoso para uma figura elusiva e ambígua, até chegarmos nessa quarta temporada e descobrirmos que Elias não é tão mau assim, se você pensar bem. Sua intelectualidade é certamente menos sombria do que a de Dominic, líder da Brotherhood, e como Finch se apressa em apontar: ele trouxe ordem para o caos. É audacioso da parte de Person of Interest dizer isso de um personagem que pode ser tão brutal, mas talvez Elias faça mais bem do que mau, no final das contas.

O fato de que esse tipo de figura é uma aliada importante do #TeamMachine só realça o quanto Person se tornou uma série que vê o mundo a sua volta de maneira perigosa – não poderia deixar de ser, com os agentes malignos da Samaritan espalhados por aí e, nesse episódio em especial, a identidade secreta de Shaw comprometida após um encontro nada fortuito com a esperta Martine. A série não suaviza as bordas do quanto um mundo vigiado pode ser funesto, beirando a ficção científica distópica, por vezes, no seu retrato do vilão-mor Greer e dos perseguidos heróis rebeldes em que nossos protagonistas se transformaram. O grande trunfo de Person, como aliás acontece com a maioria das distopias, é conseguir ser assim sem deixar de ser flagrantemente atual.

Enquanto se desenrola uma guerra de gigantes em um mundo construído à imagem do Panóptico (pra quem não lembra, relê o review do 4x01, que inclusive divide o roteirista Erik Mountain com esse episódio), Person retrata um outro embate muito mais urgente acontecendo em campos terrenos. A forma como as duas coisas estão interligadas é a arte da série, e o que nos faz voltar semana após semana para ver como a situação dos nossos heróis é cada vez mais adversa.

Notinhas adicionais:

  • A química entre Amy Acker e Sarah Shahi está cada vez mais adorável.

✰✰✰✰✰ (4,5/5)

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