ATENÇAO: esse review contem spoilers!
por Caio Coletti
Person of Interest é uma história cruel. De forma quase sádica, semana após semana, a série de Jonathan Nolan se tornou cada vez mais ambiciosa na missão de mostrar o lado mais feio da humanidade. Mesmo que através do filtro “limpinho” da TV aberta americana, Person não nos furta do fato de que temos todos um segredo para esconder, e a tendência a cometer atos extremamente violentos para protegê-lo. É um trunfo da série lidar com essa temática, visto que se localiza em um mundo (cada vez mais futurista-distópico) em que todos somos vigiados 24h por uma entidade todo-poderosa capaz de interpelar humanos para agirem em seu nome. É quase como se o Deus “juiz, júri e carrasco” do Velho Testamento mandasse seu exército de anjos vingadores para a Terra, a princípio, mas Person fez um bom trabalho em mostrar o papel da compaixão e do código moral nesse processo – até Samaritan aparecer.
“The Cold War” mostra exatamente até onde o poder do sistema de vigilância comandado por Greer vai, e com a tensa cena em que Samaritan e Machine conversam através de suas interfaces humanas, é muito mais fácil enxergar porque Finch constantemente chama esse embate de inteligências artificiais “uma guerra entre deuses”. Person muito espertamente antropomorfiza essas figuras enigmáticas, da mesma forma que os gregos fizeram com as forças da natureza (Poseidon para o mar, Zeus para o trovão), e nos mostra as consequências de sermos fantoches em um conflito por controle. Por alguns momentos, enquanto Root e o pequeno Gabriel (Oakes Fegley, que esteve em Boardwalk Empire) se enfrentam usando as palavras de seus respectivos mestres, Person se transforma nessa estranha reflexão mitológica sobre autoritarismo, a natureza humana e liberdade.
Essa é também a melhor parte do caótico roteiro assinado por Amanda Segel (3x10, “The Devil’s Share” – review), que aplica reviravoltas e não parece se decidir quanto ao foco principal do episódio. O que não significa que ele seja ruim, pelo amor de Deus! “The Cold War” não perde pontos por não ser uma boa obra contida em si mesma, porque não almeja o ser: insere flashbacks do vilão Greer (com o charmoso Emrhys Cooper no papel) que nos levam para a época da Guerra Fria, dialogando com o tema ao mostrar o que levou o personagem a ver o mundo de maneira tão descrente; traz de volta Julian Ovenden (The Assets) como um agente do Samaritan, formando um par muito eficiente com Cara Buono em cena; e tem a maior concentração de discursos inflamados de Finch, o que é sempre bom para firmar a bússola moral da série – e dar a Michael Emerson a oportunidade de brilhar. Claro que nessa confusão Reese e Fusco ficam parecendo baratas tontas pela narrativa, mas esse é um problema menor quando todo o resto funciona tão bem.
Como de costume, Person sabe exatamente para onde está indo e o que quer dizer. Enquanto o embate ideológico (muito parecido com a Guerra Fria, que batiza o episódio) entre Samaritan e Machine se desenrola em um plano quase sobrenatural, a série nos firma decididamente no mundo real ao mostrar a humanidade em toda a sua gloriosa falibilidade.
✰✰✰✰✰ (4,5/5)
Próximo Person of Interest: 4x11 – If-Then-Else (06/01)
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