30 de mar. de 2014

Review: Person of Interest, 03x18 – Allegiance

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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

Em meio a todas as divagações conceituais que rolam aqui no espaço de reviews de Person of Interest d’O Anagrama, as vezes este que vos fala é culpado de negligenciar outras qualidades que fazem da série uma das melhores no ar atualmente. “Alligiance”, por exemplo, esse 18º episódio da terceira temporada, é um triunfo essencialmente por causa de uma elaboração básica, mas que muita gente esquece de observar: ritmo. Em termos de produção audiovisual, ritmo tem a ver com edição, trilha-sonora, narrativa e com a cadência de fala dos atores. Um trabalho acertado na coordenação desses fatores deixa a experiência de assistir ao produto final muito mais instintiva e, consequentemente, abre espaço para que a reflexão do espectador acompanhe a que foi pretendida pelos escritores.

A pessoa mais óbvia para se prezar em relação a isso em Person é, é claro, Michael Emerson. Desde os idos de Lost, e nessa jornada de três anos na série de Jonathan Nolan, o ator é um campeão em usar a dicção e a facilidade verbal na hora de entregar diálogos secos e essencialmente expositivos, fazendo com que os recônditos complicados das tramas de Person pareçam muito mais próximos do espectador do que realmente são. Isso mesmo quando os roteiristas insistem em repetir e mastigar informações de maneira ligeiramente irritante (eu não posso ser o único que percebe isso às vezes). Em “Allegiance”, no entanto, não só ele contribui para isso: Kevin Chapman, Jim Caviezel, Amy Acker e Sarah Shahi, em ordem de eficiência, passam por cima de tiradas cômicas que podiam soar mão-pesada, mas parecem absolutamente naturais nesses personagens.

Trata-se de um episódio divertido, um pouco uplifting, mas também com um ponto a fazer: a história de Maria Martinez (Nazneen Contractor, 24 Horas) e sua luta para superar corrupções corporativas para livrar seu amado iraquiano da deportação, que sem dúvida levaria também a sua morte, é uma reafirmação do sonho americano que não se deixa ser mesquinha ou maniqueista. Não é uma história de americanos vs. iraquianos comum, mas um tabuleiro de xadrez complexo entre grandes empresários (“this is about greed”) e operativos governamentais corruptos, que acaba fazendo um homem inocente de refém, e desperta a ira da mulher que o ama. Talves tudo um pouco melodramático, mas “Allegiance” segue a tendência de Person em conflitar interesses artificais (burocracia, capitalismo) com o valor da vida humana.

Paralelamente, a perseguição de Root ao grande vilão da temporada, o misterioso Greer, não só é interessante conceitualmente ao mostrar as limitações do poder da máquina, como o apresenta na forma de uma ameaça mais concreta. Ajuda, e muito, que o ator a encarnar essa ameaça seja John Nolan, e a história desse senhor de 76 anos é tão legal que vale a pena contar: tio dos irmãos Christopher e Jonathan, ele estreou na TV em 1968, emplacou alguns papéis recorrentes em séries britânicas e acabou caindo em ostracismo no ano de 1980. Quase três décadas depois, ele virou ator-amuleto dos projetos dos sobrinhos, ou você não se lembra do ganancioso Fredericks da trilogia Batman de Christopher?

O Nolan mais velho não é só uma curiosidade, mas principalmente um jogador valioso na história de Person, como mostra na brilhantemente atuada cena final frente a frente com Amy Acker. Nem todo mundo consegue encarar Root nos olhos e ainda sair por cima, afinal.

Observações adicionais:

- Para os fãs de House of Cards de plantão: esse episódio tem também o ótimo Michel Gill, o próprio presidente Walker da série do Netflix.

✮✮✮✮✮ (4,5/5)

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