A partir dessa segunda temporada, ao invés de fazer uma cobertura detalhada de cada episódio de Bates Motel, O Anagrama vai trazer uma review por mês, de preferência de episódios marcantes para a continuidade da série, checando a quantas anda um dos nossos suspenses preferidos.
ATENÇÃO: esse review contem spoilers!
por Caio Coletti
A boa qualidade que se pode observar quando se escolhe as séries certas para assistir atualmente nos deixou mal-acostumado. A maioria dos grandes títulos da televisão americana (e também de outras partes do mundo) chega à estreia com uma ideia completamente formada, uma noção sólida de quem são seus personagens e para onde eles estão indo. Claro que, a partir daí, tudo pode acontecer, e a resposta do público influencia muito nos rumos que as tramas propostas pelos roteiristas vão tomar, mas é fundamentalmente verdadeiro que pouquíssimas séries chegaram ao piloto nos últimos anos sem estarem “maduras” como ideias. Bates Motel é uma exceção.
Durante toda a sua primeira temporada, a série comadada por Carlton Cuse (Lost) e Kerry Ehrin (Parenthood) lutou para crescer e definir que partes de sua premissa queria destacar. Não se trata do caso clássico de série que quer ser tudo de uma vez e aos poucos vai aprendendo que não pode (Mom é um bom exemplo), mas sim de uma falta de foco fundamental, de uma consciência apenas fugidia do seu próprio centro e daquilo que funciona melhor em sua concepção. No caso de Bates, sempre foi óbvio que o compasso conceitual da série estava na relação entre seus dois protagonistas, Norma e Norman (Vera Farmiga e Freddie Highmore). Extremamente multifacetada e complexa, a relação entre esses dois personagens, mãe e filho, ampliava o escopo emocional e a elaboração climática da série cada vez que tomava o centro do palco.
“Gone But Not Forgotten”, a estreia da segunda temporada do programa, deixa claro já nos primeiros dois minutos que aprendeu com os desvios do passado. Trata-se de uma cena simples entre os dois protagonistas, lidando com as consequências do finale da temporada passada, quando Norman assassinou a professora, Miss Watson, depois de um baile de colégio desastroso. Bates tem uma verdadeira mina de ouro na maneira como Norma parece sentir algo de errado com o filho, e sua ligação com o crime, ao mesmo tempo que não quer acreditar nesse “sexto sentido”. Por outro lado, a série não deixa de olhar para o ângulo em que Norma se torna a condescendência permissiva que Norman precisa para, ele mesmo, entrar em processo de negação.
A partir dessa fundação é que o episódio de estreia da temporada constrói os primeiros vestígios da nova trama, e é incrível como tudo parece mais coeso quando Bates não está tentando se achar. As referências ao filme de Hitchcock parecem mais integradas com a trama, e menos um aceno proposital; a violência e sordidez da própria trama não é mal-representada no roteiro, que não cai na armadilha de fazer seus personagens se acostumarem com ela; o rascunho de trama sobre dois jovens lidando com as consequências de algo que fizeram é bastante interessante; e, em meio a tudo isso, a série não perde de vista o lado kitsch que, especialmente na performance de Vera Farmiga, ainda a fazem uma hora divertidíssima de televisão.
Bem-vindos de volta a Bates Motel, caros leitores. O serviço de quarto certamente melhorou bastante desde a última vez.
Observações adicionais:
- Para quem ficou de perguntando quem é o segundo jovem lidando com as consequencias de um ato: Bradley (Nicola Peltz) ganha um pouco mais de destaque, e a oportunidade de ser mais do que uma versão creepy de Regina George, ao buscar vingança pelo assassinato do pai. A atriz é competente o bastante para carregar a subtrama sozinha e costurar bem sua performance com a de Freddie Highmore.
- Momento Farmiga da semana: Norma dá um grande suspiro e passa do banco do passageiro para o do motorista de seu carro, depois de mais um dos surtos de Norman, tendo que ajeitar as penas de maneira cômica no processo.
- Uma das coisas que não mudaram: Norma ainda é a dona da série. A personagem é tão fascinante que carrega até uma trama aparentemente desconectada do tema da série para se tornar algo interessante. Nada paga a cena de Vera Farmiga despejando uma torrente de palavras raivosas na reunião do conselho da cidade de White Pine Bay – é engraçado, intenso e tocante, tudo ao mesmo tempo.
- Ah, sim, e Max Thierot está fazendo o mesmo bom trabalho que fazia na primeira temporada, com uma atuação bem-pensada e mais “gounded” do que qualquer outra coisa na série.
✮✮✮✮✮ (4,5/5)
Próximo Bates Motel: 02x02 – Shadow of a Doubt (10/03)
Próximo review: 02x05 – The Escape Artist (31/03)
0 comentários:
Postar um comentário