por Caio Coletti
ATENÇÃO: esse review contem spoilers!
Talvez uma das palavras que mais usamos aqui n’O Anagrama nesses reviews de The Blacklist seja “pulp”. Fazemos isso porque “pulp” é uma daquelas expressões inventadas para definir algo que, de qualquer outra forma, seria muito difícil de explicar, mas mesmo assim podemos tentar: no seu cerne, “pulp” é uma forma de samplear pequenos pedaços da cultura popular criada pelo showbusiness e extrapolá-los em uma demonstração clara de que os criadores daquilo sabem o quão ridícula essa escolha pode ser. Ao comprar essa prerrogativa, brincando com o espectador de “nós já sabemos que você já viu isso antes, mas sabemos também que você está se divertindo à beça”, os escritores de The Blacklist ganham espaço para, em cima desse ultraje todo, construir uma fundação sólida para a sua sére.
“The Judge”, 15ª entrada da temporada de estréia, mostra The Blacklist colhendo os louros plantados nessas semanas desde a estreia, se permitindo falar sério sobre justiça e desconfiança da autoridade, lançando sombras sobre personagens antes heróicos e arrumando o jogo para a storyline que culminará no season finale. De forma parecida com a de “The Stewmaker”, lá atrás nos primeiros episódios, esse nov capítulo mostra que a série não precisa passar o tempo todo zombando dos clichês do próprio gênero – o trabalho sutil dos roteiristas desse primeiro ano lhe deram a benção de um aparato ideológico bem definido que suporta tramas e explorações múltiplas.
A blacklister da semana é conhecida como The Judge, e ganha o rosto de Dianne Wiest, dona de dois Oscar (por Hannah e Suas Irmãs e Tiros na Broadway, ambos de Woody Allen). A atriz, conhecida por seus calorosos retratos de personagens matriarcais, ganha um presente da série na forma dessa vingadora com um senso de jutiça afiado e tendência a comportamento agressivo repentino. É uma performance muito mais tensa e instintiva do que estamos acostumados a vê-la entregar, e o resultado é uma vilã fascinante que só se apaga quando Red chega para confrontá-la, no final. James Spader, obviamente, domina a cena do diálogo entre os dois, desnudando a personalidade dessa mulher que encarcera e, se for o caso, mata os agentes do governo (promotores, policiais, advogados) que cometeram injustiças.
A coisa fica séria mesmo porque o próximo alvo da Judge é o próprio Agente Cooper, e descobrimos que na época em que o personagem de Harry Lennix era encarregado de assuntos referentes ao Afeganistão, um homem foi torturado até confessar uma traição que provavelmente não cometeu. Isso é oportunidade para Lennix entregar sua atuação mais segura até o momento na série, mesmo porque lhe é dado um material muito mais concreto (e “saboroso”, devido aos subtons de ambiguidade) para trabalhar. Com uma resolução extremamente satisfatória que não pinta a personagem de Dianne Wiest como vilã, mas também não se limita a julgar a atitude do agente Cooper, “The Judge” ainda arranja tempo para começar a construir a storyline que vai nos guiar para o confronto do season finale. Multi-tarefa e competente, The Blacklist já pode entrar para o FBI.
Observações adicionais:
- Sobre a subtrama envolvendo Tom e Jolene: no começo do episódio parece que a série estava transferindo a parte de mistério toda para a personagem de Rachel Broshanan. Tendo em vista que a moça é uma ótima atriz (alô, fãs de House of Cards, me apóiem aqui!), a escolha parecia acertadíssima. Isso até o final, quando parece que finalmente temos a confirmação de que o casamento de Tom e Liz é uma farsa e ele tem motivos alternativos. Não só a trama é mão-pesada, a atuação de Ryan Eggold é lamentável.
- Por outro lado, somos apresentados a um “rastreador” interpretado por Lance Reddick, com um sotaque sulista e uma atuação tão absolutamente ridícula que é exatamente no ponto para a série. Esperamos que ele se torne um personagem regular.
- Temos um final ao som de “Jolene”. Como se nomear a personagem que vai tentar Tom com o nome da música de Dolly Parton não fosse bastante óbvio.
✮✮✮✮ (4/5)
Próximo The Blacklist: 01x16 – Mako Tanida (17/03)
1 comentários:
eu discordo um pouco sobre a sua critica ao ator que faz o tom lógico que ele não esta mo nível do spader, mas a cara de sonso que ele sempre faz é perfeita para o personagem e nas vezes que ele é confrontado ele muda de expressão parecendo um psicopada.
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