ATENÇÃO: esse review contem spoilers!
por Caio Coletti
No review da semana passada ficou claro que, na visão deste que vos fala, “The Walk-In” foi um passo em falso na caminhada geralmente impecável de The Americans. É preciso dizer, no entanto, que esses tropeços são de alguma forma comuns para uma série que inteligentemente, no começo do seu segundo ano, resolveu experimentar com novos escritores e diretores, na esperança de expandir a equipe capaz de fazê-la a melhor versão de si que pode ser. Acontece que, nesse processo, é inevitável que esses novos nomes tragam visões e climas diferentes para uma narrativa cujas expectativas já estavam sólidas na cabeça do público. Às vezes as escolhas não são as mais acertadass, e às vezes o resultado é “A Little Night Music”, quarto episódio do ano, e uma muitíssimo bem-vinda lufada de ar fresco no paradigma de The Americans.
Na verdade, o que parece é que o episódio dessa semana arquiva exatamente aquilo que “The Walk-In” tinha a boa intenção de fazer, mas aprende que não é preciso tirar a sutileza temática e emocional de The Americans para isso. O objetivo aqui é arejar a série de uma forma que torne a sua narrativa mais ágil, a sua quantidade de plot mais volumosa, e sua palheta mais colorida. De fato, a própria storyline da temporada pede por isso, abraçando uma quantidade maior de paralelos e posições ideologicas sobre os personagens e as situações em que eles se envolvem. O diretor Lodge Kerrigan (conhecido pelo filme Keane e pelas colaborações em The Killing) estreia na série com uma linguagem brilhantemente ágil, mas que respeita as profundidades e o ritmo do ótimo roteiro de Stephen Schiff (direto de Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme).
Essa combinação faz a trama se mover mais rápido do que estamos acostumados, principalmente porque as linhas paralelas de The Americans agora são múltiplas: Elizabeth e Phillip são contatados por ninguém menos do que Claudia (Margo Martindale is back, bitches!), que surpreendentemente os sugere que iniciem uma investigação sobre o responsável pela morte dos outros dois agentes soviéticos lá do primeiro episódio; ao mesmo tempo, a Rezidentura decide repatriar forçadamente um brilhante cientista judeu (e soviético) que buscou refúgio nos EUA – e manda o casal Jennings para a missão; também acompanhamos as consequencias da missão impulsiva do Agente Beeman, que executou um atirador a serviço dos soviétivos, e agora vê seu chefe, o Agente Gaad, tomando a queda por ele; por fim, dentro da própria Rezidentura se acirra uma disputa de poder entre Arkady e o novato Oleg, com ótimas atuações dos russos Lev Gorn e Costa Ronin.
O melhor de “A Little Night Music” é que, no meio de tudo isso, a série encontra espaço para mostrar cuidadosamente o quão semelhantes são esses dois mundos de lados opostos de uma guerra. As divisões tanto no FBI quanto na Rezidentura são muito mais disputas de ego, poder e influência, com um toque de burocracida, do que qualquer outra coisa. The Americans raramente ou nunca perde de vista sua natureza como uma história de ideologias se colidindo, mas também não tem medo de mostrar que os dois lados dessa disputa estão suscetíveis as mesmas hipocrisias.
Observações adicionais:
- A subtrama de Paige continua sendo desenvolvida de modo muito interessante, envolvendo questões de confiança e não se furtando de mostrar as contradições e dramas da adolescência, mas ao mesmo tempo conectando-os intrinsecamente ao retrato de uma liberdade “limitada” – garantida tanto pelos pais à garota quanto pela ideologia russa aos seus seguidores.
- O tema recorrente da força feminina continua no episódio: a entrada de Margo Martindale e suas cenas com Keri Russell ajudam muito nesse sentido, mostrando a diferença entre as duas mulheres e o papel fundamental que elas tem nessa história; Alison Wright continua fabulosa em absolutamente todas as suas cenas na pele de Martha; e Annet Mahendru tem a oportunidade de mostrar que sua Nina não está pronta para se subjugar frente ao poder de um superior homem.
- Por fim, mas não menos importante, o episódio retoma um aspecto constante em The Americans, mas que andava marginalizado nessa temporada: mostrar de que forma esses homens e mulheres com vidas duplas usam das relações afetivas para construir confiança com determinadas pessoas, tendo motivos puramente práticos em mente. Como sempre, Keri Russell é excelente em retratar as consequencias humanas desse processo ao mesmo tempo que mostra frieza impressionante.
✮✮✮✮✮ (4,5/5)
Próximo The Americans: 02x05 – The Deal (26/03)
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