17 de dez. de 2012

Review: DiCaprio é o James Dean da poesia em “Eclipse de Uma Paixão”

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por Caio Coletti
(TwitterTumblr)

Arthur Rimbaud, conhecido como o enfant terrible da geração simbolista da poesia, faleceu aos 37 anos, vítima de câncer. Leonardo DiCaprio, seu interprete em 1995 nesse Eclipse de Uma Paixão, tinha seus 19, era uma estrela ascendente e tomava a decisão ousada de embarcar no filme dirigido por uma cineasta polonesa, sobre o caso do famoso poeta francês com Paul Verlaine, um companheiro de ofício dez anos mais velho. À época do começo do affair que durou quatro anos, Rimbaud era menor de idade. Talvez hoje, aos 38 anos, mais ou menos a idade em que o poeta faleceu, DiCaprio deixasse passar essa oportunidade. Não há dúvidas que o astro amadureceu, e seus filmes recentes são prova de que isso é um reflexo positivo em sua atuação, mas assistir esse Eclipse desperta um pouco de nostalgia do DiCaprio de impulso e instinto que faz nascer um Rimbaud encantadoramente cruel.

Recebido com críticas frequentemente pouco gentis, Eclipse de Uma Paixão de fato não é uma forma exemplar de cinema. No comando do roteiro baseado em sua própria peça, o português Christopher Hampton, que viria a escrever grandes filmes como Desejo e Reparação e Um Método Perigoso, parece hesitante com a narrativa. Os recortes de continuidade da história por vezes ganham um tom um tanto brusco, e uma impressão que não se dissipa é que o filme não retrata fielmente os motivos de Rimbaud e Verlaine tanto para se envolverem quanto para se tornarem o casal amargo e insustentável que eventualmente se tornaram. Isso não ajuda a direção de Agnieszka Holland, na época bem cotada pelos trabalhos em Filhos da Guerra e O Jardim Secreto, que acaba se mostrando pouco segura ao lidar com as emoções da trama, optando por uma abordagem austera que não combina com a relação à flor da pele de Rimbaud e Verlaine.

Se entendemos realmente os protagonistas, é mérito da bela história real que Hampton, mesmo com suas falhas, tem para contar. E dos dois intérpretes incríveis que Holland trouxe para o seu filme. DiCaprio começa como um James Dean sem a libido claramente masculina, mas sua construção cuidadosa de um personagem ao mesmo tempo delicado no trato e implacável no pensamento e nos julgamentos é sutilmente convincente. Seu Rimbaud chega ao fim do filme como um personagem tanto admirável por sua coragem e por vezes assustadora honestidade quanto odiável por seu egoísmo. E Leo não tenta fazê-lo parecer nem melhor nem pior do que é. Enquanto isso, David Thewlis (o próprio Professor Lupin da série Harry Potter) serenamente coloca o filme na palma de sua mão na pele de um Verlaine que passeia na linha do patético, por vezes cruzando-a, mas é acima de tudo extremamente identificável.

Eclipse de Uma Paixão passa longe de ser infalível. Há, na verdade, mais motivos para não gostar dele do que motivos para gostar. Mas se há uma virtude que o bom espectador precisa ter (ou desenvolver) é se deixar levar pelo filme que vê, pela história que se desenvolve, não importa de que forma, na sua frente. Arthur Rimbaud e Paul Verlaine são dois grandes poetas se envolvendo amorosamente em um mundo onde a “sodomia” era considerada crime. Verlaine tinha uma esposa, que ele amava, e havia acabado de lhe dar um filho. E esse é um filme que não pinta ninguém como herói e ninguém como vilão. O último equívoco de que se pode acusar Eclipse de Uma Paixão é maniqueismo, e se você se deixar levar, isso o torna uma história de amor extremamente saborosa.

*** (3/5)

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Eclipse de Uma Paixão (Total Eclipse, Inglaterra/França/Bélgica, 1995)
Direção: Agnieszka Holland
Roteiro: Christopher Hampton
Elenco: Leonardo DiCaprio, David Thewlis, Romane Bohringer, Dominique Blanc
111 minutos

1 comentários:

Rubens disse...

Eu tenho muito carinho por esse filme, me fez conhecer a arte de dois grandes artistas: O próprio Rimbaud e os filmes do Leonardo Dicaprio.

Comprei depois de ter assistido esse filme 3 livros do Rimbaud e assisti outros 5 filmes do Leonardo e estou maravilhado com ambos.

Creio que o principal problema resida na falta de pathos na relação dos dois poetas, que na vida real era bem mais presente em relação ao filme.

Foi a melhor análise que li até agora sobre o filme, meus parabéns.