26 de abr. de 2015

Gotham 1x20: Under the Knife

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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

John Stephens é um dos roteiristas mais habilidosos que Gotham encontrou no decorrer dessa primeira temporada. É bacana para quem acompanha uma série bem de perto ver como determinados escritores simplesmente se encaixam melhor no mundo criado pela trama, criando episódios que fluem com um entendimento daquele ambiente, daqueles personagens e das necessidades da storyline naquele momento, que nem sempre aparece no trabalho de outros roteiristas. Stephens, que anteriormente esteve em séries com tom mais soap, como Gossip Girl e The O.C., se provou uma combinação improvavelmente perfeita com Gotham, a começar por sua estreia em “The Balloonman” (review) o episódio que provou o quanto a série da FOX entendia o espírito do herói que tentava retratar. Ele seguiu assinando episódios ótimos como “The Mask” (review) e “The Fearsome Dr. Crane” (review), refinando a habilidade de criar uma Gotham não só pulp e divertida como, ao mesmo tempo, sombria e cheia de personagens genuinamente perigosos.

É esse mesmo sentimento que passa o espertamente intitulado “Under the Knife”, o episódio mais alucinantemente acelerado de Gotham até hoje, e também um dos mais contundentes em passar o sentimento agourento das storylines com as quais a série está lidando nessa primeira temporada, especialmente as de origem dos futuros vilões. Conforme o roteiro vai ligando os pontos da história prática, nos deixando cada vez mais perto do finale, Stephens aproveita a oportunidade para colocar Gotham no tom certo quanto à caracterização e a evolução de personagens como o Pinguim, o Charada e a Mulher-Gato (ou melhor, Oswald, Edward e Selina). O salto mais perceptível, é claro, é o do personagem de Cory Michael Smith, que finalmente se vê livre do papel limitado que a temporada havia lhe dado e agarra a oportunidade de explorar um lado menos caricaturesco da atuação. A cena em que Nygma esfaqueia o policial que machucou sua amada Miss Kringle é brilhante nos pequenos maneirismos obsessivos que empresta ao personagem (“Oh, dear…”), e Smith tira o melhor desse e de outros momentos mais sutis do episódio.

Embora o trabalho com o Pinguim tenha sido bem mais convincente no decorrer da temporada, o roteiro de “Under The Knife” devolve à ele, e ao excepcional Robin Lord Taylor, a possibilidade de mostrar um lado mais violento e visceral. Gotham acertou tanto na caracterização desse futuro vilão em especial que, quando o episódio dá ao ator a oportunidade de explorar cantos obscuros do personagem, é claro que ele é o grande roubador de cenas da série. A conversa entre ele, a mãe e Sal Maroni é excepcionalmente tensa, e a linguagem corporal de Taylor durante todo o episódio é um espetáculo à parte – a trama serve também para fortalecer as motivações do personagem, cuja jornada por matar Maroni, nesse fim de temporada, deve ganhar mais espaço nos próximos episódios. Stephens é um dos poucos roteiristas de Gotham que entendem que a relação de Oswald com a mãe é a primeira e principal orientadora de sua ambição desmedida, e que o elemento de caos controlado que ele representa é importante para que a série seja o retrato contundente que é de Gotham City.

“Under the Knife” também tira o melhor do conflito entre Bruce e Selina depois dessa última ter tomado a dianteira na ação (necessária) de matar Reggie no episódio anterior. A atitude da personagem de Camren Bicondova devolve o espírito brutal por trás de toda a relação complicada entre o Batman e a Mulher-Gato, e aos poucos a dinâmica entre os dois jovens atores começa a se parecer com aquela que conhecemos entre os dois personagens. É uma imitação pálida, mas há de se argumentar que é assim que deveria ser, visto que muitos anos separam esse Bruce e essa Selina daqueles que estrelam os quadrinhos e filmes da DC – o importante é a forma como o roteiro de Stephens desenvolve a ação dos dois perseguindo o traidor dentro da Wayne Enterprises, e em última instância conseguindo dar um passo fundamental nesse sentido, enquanto desenha em cores fortes a linha moral sob a qual Gotham se baseia. “Under the Knife”, de sua forma meio pulp, é uma condenação do ato de matar, separando vilões e mocinhos em Gotham City a partir desse ato, mas não se esquecendo de inserir certa ambivalência moral nas beiradas dessa afirmação.

É o melhor episódio que Gotham entrega em tempos, um dos mais bacanas e eletrizantes de toda a temporada, e um tremendo predecessor para os dois últimos capítulos do primeiro ano. Não é perfeito (os diálogos são mais do que um pouco on the nose, a trama policial mais uma vez vira plano de fundo), mas certamente deixa uma expectativa alta para o final da temporada.

✰✰✰✰✰ (4,5/5)

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