13 de abr. de 2015

The Americans 3x11: One Day in the Life of Anton Baklanov

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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

Depois da intensa (emocionalmente, ao menos) intermissão de dois episódios importantes como “Do Mail Robots Dream of Electric Sheep?” e “Stingers” (review), The Americans está de volta aos temas nos quais sua terceira temporada se concentrou desde o começo – e não há nada de ruim nisso. “One Day in the Life of Anton Baklanov” é um olhar profundo sobre a forma como o passado assombra e influencia cada um dos personagens da trama da FX, e como nossa humanidade está muito condicionada às experiências que tivemos entes de chegar onde estamos. A dois capítulos do seu season finale, a série toma um episódio inteiro para o processo de calmamente analisar as situações desses personagens, e apresentar novas decisões tomadas por eles que são evidentemente influenciadas por suas experiências de vida. Em seu terceiro ano, The Americans já mostrou contundentemente seus protagonistas e coadjuvantes passando por tantas situações que arquivou um entendimento muito mais profundo dos seus atos do que a maioria das séries de TV costumeiramente arquivam.

O roteiro é assinado por Stephen Schiff (3x05, “Salang Pass” – review) e Tracy Wilson Scott (3x06, “Born Again” – review), dois talentos encontrados pela série nessa terceira temporada que se juntam para montar um dos scripts mais plenamente pensados e realizados da série. O título faz referência ao personagem de Michael Aronov, o cientista preso em instalações de KGB que Nina foi instruída a “seduzir” e investigar, uma vez que os soviéticos não estão satisfeitos com o trabalho do moço. Quando faz uma descoberta de caráter muito mais pessoal e emocional do que política, Nina escolhe manter para si o segredo daquele homem que é teoricamente seu alvo, mas que guarda muitas coisas em comum com ela para efetivamente sê-lo. Essa conjunção de vítimas do sistema é uma das mais belas formas que The Americans já encontrou para retratar a perda de identidade que uma guerra ideológica impõe ao ser humano – Annet Mahendru é especialmente expressiva no sentido de manter a humanidade de Nina mesmo quando ela é um peão num jogo de tabuleiro muito maior.

Em certa dimensão, “One Day in the Life of Anton Baklanov” usa a plataforma do passado de determinados personagens, que definem suas próprias identidades (o filho do personagem-título, a mãe doente de Elizabeth, o relacionamento de Martha com o defunto Agente Amador, etc), para mostrar vários processos de aproximação mais humanos do que aparentam. Acontece nas pequenas cenas que Elizabeth e Phillip dividem com Paige, conforme as perguntas da filha, gradualmente redescobrindo a identidade e a personalidade dos pais, começam a construir uma relação de compaixão e empatia complicada, mas inegável. Esse 11ª episódio da temporada trata de colocar tensão nas interações entre pais e filhos, mas também sugere com sutileza ímpar que, independente da decisão que Paige tomar sobre proteger ou não a identidade dos pais (ou concordar ou não com o trabalho que eles fazem), a descoberta da garota da vulnerabilidade dessas figuras decisivas em sua vida é muito mais complexa e moralmente ambígua do que parece.

Em termos de desenvolvimento de trama para o finale, garantidamente “One Day in the Life of Anton Baklanov” não vai muito longe. Phillip faz contato com Yousaf e descobre o nome de um dos enviados afegãos que conversarão com a CIA, Elizabeth experimenta alguma espécie de descoberta sexual enquanto seduz o gerente do hotel onde o tal enviado vai ser hospedado, Walter Taffet anda em círculos na investigação sobre o responsável pelo grampo no escritório de Gaad, e um desenvolvimento tenso na trama envolvendo Lisa mostra que a asset desenvolvida pela parte feminina do casal Jenning provavelmente vai ter um papel importante no finale. As cenas que estabelecem essas praticidades de trama, no entanto, são rápidas e certeiras, enquanto “One Day in the Life of Anton Baklanov” se demora, e com razão, sobre o estado emocional de seus personagens. The Americans, esperta como é, sabe que é ali que está seu pote de ouro.

✰✰✰✰✰ (4,5/5)

Americans-Baklanov

Próximo The Americans: 3x12 – I Am Abassin Zadran (15/04)

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