21 de abr. de 2015

10 filmes que Cannes 2015 vai ver (e você também deveria)

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por Caio Coletti

Como acontece todo ano, sem falta, ficamos louquinhos com o listão de selecionados para o Festival de Cannes, que vai rolar nos próximos dias 13 a 24 de Maio, na Riviera francesa. E como é nossa tradição desde 2013, fizemos das tripas coração para comprimir a seleção awesome comandada pelos presidentes do júri Joel e Ethan Coen (diretores de Queime Depois de Ler, Onde os Fracos Não tem Vez e vários clássicos da cinematografia americana) em apenas 10 filmes essenciais. O mais bacana de compilar essa lista todos os anos é entrar em contato com as obras escolhidas de países e regiões do mundo que nem sempre recebem a devida atenção do circuito de cinema mainstream, e esperamos poder passar um pouquinho dessa abertura de horizontes pra vocês.

Vamos aos dados, então. Para começar, o pôster dessa que é a 68º edição do festival mais importante do mundo é esse aí em cima, estrelado pela maravilhosa da Ingrid Bergman, que todo mundo conhece por Casablanca e pelas colaborações com Alfred Hitchcock (Interlúdio e Quando Fala o Coração). Essa sueca ganhou três Oscar na carreira (número superado, entre as atrizes, só pela Katherine Hepburn), e faria 100 anos de vida no próximo dia 29 de Agosto. Infelizmente, Bergman morreu em 1982, aos 67 anos. Enquanto a homensagem do pôster vai merecidamente para ela, a escolha de dar a presidência do júri para os irmãos Coen consolida um caso de amor longo do festival com o cinema desses americanos – os dois já tiveram sete seleções para a competição principal, duas vitórias na corrida pela Palma de Ouro, e um prêmio de direção.

Nomes bem díspares de várias áreas do cinema completam o júri, como de costume: as atrizes Sophie Marceau (França), Sienna Miller (Inglaterra) e Rossy de Palma (Espanha), os diretores Guillermo Del Toro (México) e Xavier Dolan (Canadá), o ator Jake Gyllenhaal (EUA) e a compositora de trilhas-sonoras Rokia Taoré (Mali). No comando da mostra Un Certain Regard, mais concorrida das exibições paralelas à competição principal, a diva italiana Isabella Rossellini (Veludo Azul) criou uma seleção bastante fiel ao espírito da Un Certain Regard, cheia de cineastas independentes e possíveis surpresas.

Para manter nossa lista enxuta, acabamos cortando os filmes dessas mostras paralelas, mas vale a pena ficar de olho na Un Certain Regard. Também deixamos de fora, inclusive, algumas estreias aguardadas que estarão fora da competição principal, mas prometem fazer barulho: achamos que filmes como Irrational Man (o novo do Woody Allen), Inside Out (da Pixar), Mad Max: Fury Road e The Little Prince serão escolhas óbvias quando chegarem aos cinemas, e resolvemos focar em filmes importantes e que talvez não tenham ainda chamado a atenção do público. Vamos lá?

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La Tête Haute (Standing Tall)
Filme de abertura

La Tête Haute é o primeiro filme dirigido por uma mulher a ganhar a honra de ser a abertura do Festival de Cannes desde 1987 (na época, a festa começou com A Man in Love, de Diane Kurys). É também o primeiro filme francês a abrir o festival desde 2005 – boatos circulam que o manda-chuva de Cannes, Pierre Lascure, estava procurando por um filme mais low profile para abrir a 68º edição da festa, depois de uma série de filmes estrelados (Grace of Monaco, Gatsby, Moonrise Kingdom). A obra escolhida chega com o pedigree da diretora e atriz Emmanuelle Bercot, que estreou seu filme anterior, Ela Vai, no Festival de Berlim de 2008 – ambos são estrelados por Catherine Deneuve, a diva do cinema francês que ficou conhecida por aqui pela participação em Dançando no Escuro, de Lars Von Trier. Em La Tête Haute ela interpreta uma juiza que cuida do caso de uma delinquente infantil – o filme acompanha a garota protagonista entre os 6 e os 18 anos.

Il Racconto Dei Racconti (The Tale of Tales)
Competição pela Palma de Ouro

Nessa primeira escolha nossa da lista de “indicados” para a Palma de Ouro ficam claras duas tendências favorecidas pelos irmãos Coen: os filmes com inclinação bizarra e as aventuras de diretores estrangeiros no âmbito internacional (com filmes falados em inglês, em oposição a língua natal dos realizadores). The Tale of Tales é a estreia fora da Itália de Matteo Garrone, que fez muito marulho em 2008 com Gomorra, vencedor do prêmio do júri em Cannes e um dos filmes italianos mais falados dos últimos anos. O estilo bem particular que guiou aquele filme reaparece no trailer desse novo, estrelado por nomes de diversas nacionalidades como Salma Hayek (México), John C. Reilly (EUA), Toby Jones (Inglaterra) e Vincent Cassel (França). A história de fantasia, abordada de forma crua pelo diretor e com um design de produção belíssimo, se baseia em uma coleção de contos de fada famosa na Itália, o Pentamerone.

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The Lobster
Competição pela Palma de Ouro

Mais uma estreia estrangeira no cinema americano: Yorgos Lanthimos, um jovem diretor grego que ganhou aclamação crítica pelo seu incômodo Dente Canino (premiado na Un Certain Regard em 2009), estreia também na seleção principal de Cannes com The Lobster, estrelado por grandes nomes hollywoodianos como Colin Farrell, Léa Seydoux, Rachel Weisz, Ben Whishaw e John C. Reilly (de novo!). A trama do novo filme de Lanthimos é no mínimo curiosa: num futuro distópico, a humanidade desenvolveu um sistema em que, se as pessoas solteiras não encontrarem um parceiro ou parceira dentro de 45 dias depois de certo ponto na vida, elas são transformadas em animais e soltas na natureza. É isso mesmo, você não leu errado. Será que a visão de Lanthimos sob o gênero da ficção científica distópica vai ser tão incisiva e provocadora quanto seus filmes anteriores?

Carol
Competição pela Palma de Ouro

Primeiro de só dois diretores americanos da nossa lista, Todd Haynes é um dos cineastas mais celebrados das últimas décadas. Foi lembrado pelo Oscar pelo roteiro de Longe do Paraíso, foi indicado à Palma de Ouro por Velvet Goldmine e ainda dirigiu Não Estou Lá, que rendeu muitos aplausos da crítica e indicações a prêmios para seus atores. O retorno de Haynes ao cinema (ele esteve na TV com a minissérie Mildred Pierce em 2011) com Carol se qualificaria como um dos filmes “sérios” mais esperados do ano mesmo sem a seleção para a Palma de Ouro. Cate Blanchett volta a trabalhar com o diretor como a personagem-título, objeto de desejo da jovem interpretada por Rooney Mara, em plenos anos 50. Pior, a tal Carol interpretada por Blanchett é uma mulher casada.  O elenco ainda conta com Sarah Paulson, Kyle Chandler e Cory Michael Smith, e a história se baseia em uma novela de Patricia Highsmith intitulada O Preço do Sal.

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Louder Than Bombs
Competição pela Palma de Ouro

Vão contando: terceiro diretor estrangeiro expandindo fronteiras nacionais, e segundo a pular da Un Certain Regard para a competição principal de Cannes. O norueguês Joachim Trier esteve na mostra paralela em 2011, com o elogiado Oslo, 31 de Agosto, que o famoso crítico americano Roger Ebert elencou como um dos seus filmes preferidos daquele ano. Agora, ele comanda um elenco que inclui Isabelle Huppert (A Professora de Piano), Jesse Eisenberg, Rachel Broshanan, Amy Ryan, Gabriel Byrne e David Strathairn na história de uma celebrada fotógrafa francesa cuja vida vira de cabeça para baixo quando, durante a organização de uma retrospectiva de seu trabalho, um velho segredo é desenterrado e chega aos ouvidos de sua família. Elogiado por sua empatia para com os personagens e observação meticulosa das performances dos atores, esse é o tipo de história com a qual Trier é capaz de fazer maravilhas.

Umimachi Diary (Our Little Sister)
Competição pela Palma de Ouro

Escolhemos Umimachi Diary entre as duas entradas do cinema asiático para a competição pela Palma puramente por causa do pedigree do seu diretor: Hirokazu Kode-eda é um dos cineastas chineses contemporâneos mais celebrados pelos trabalhos dramáticos, especialmente o comovente Pais de Filhos, que venceu o prêmio de roteiro em Cannes em 2013. Baseado em um mangá super muito-sucedido por lá, o filme conta a história de três irmãs vivendo na parte rural do Japão que recebem uma quarta garota, mais nova, em sua casa. Vale destacar também Assassin, filme de artes marciais de Hou Hsiao Hsien (A Viagem do Balão Vermelho), que promete trazer visuais interessantes de época e o estilo particular do diretor múltiplas vezes nomeado para a competição principal de Cannes.

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The Sea of Trees
Competição pela Palma de Ouro

A floresta de Aokigahara (que, em chinês, significa “mar de árvores”) é conhecida como “a floresta do suicídio” por ser o segundo destino mais popular do mundo para pessoas que desejam se matar – perde só para a Golden Gate Bridge, em San Francisco. Anualmente, a polícia recupera mais de uma centena de corpos de lá, sem contar os que, segundo as próprias autoridades, “são achados por animais selvagens antes”. É nessa locação sombria que se passa o novo filme de Gus Van Sant, vencedor da Palma de Ouro em 2003 por Elefante e diretor de filmes como Gênio Indomável e Inquietos. Estrelado por Matthew McConaughey, Ken Watanabe, Naomi Watts e Jordan Gavaris, o filme conta a história de um americano que se perde na floresta, e conta com a ajuda de um japonês para achar a saída.

Macbeth
Competição pela Palma de Ouro

A última adaptação “séria” de Macbeth para a tela grande foi em 1948, acreditem ou não. Dirigida e estrelada por Orson Welles, aquela versão acabou se tornando a principal referência cinematográfica para um dos dramas mais famosos de Shakespeare (Ian McKellen e Patrick Stewart já interpretaram o personagem na TV). Para sua estreia no cinema americano, o australiano Justin Kurzel resolveu esticar a ambição e escalar o badalado Michael Fassbender para o papel-título, um duque escocês que, atiçado pela profecia de três bruxas, mata o rei para tomar seu lugar. Na pele da infame Lady Macbeth estará Marion Cotillard, enquanto David Thewlis e Elizabeth Debicki interpretam papéis secundários. Kurzel impressionou bastante com seu filme anterior, Snowtown (2011), que também foi exibido em Cannes, que chocou pela intensidade emocional e física, mas ganhou elogios rasgados da crítica.

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A Tale of Love and Darkness
Fora de competição

Há algum tempo uma atriz que vem mostrando controle criativo e independência na carreira, Natalie Portman finalmente estreia na direção de longas-metragens com A Tale of Love and Darkness, que será exibido em Cannes mesmo não estando na disputa pela Palma de Ouro. O filme é um projeto muito pessoal para a atriz, que nasceu em Jerusalém, Israel, em uma família judia – a história se baseia nas memórias de Amos Oz, um escritor, jornalista e ativista israelense que defende um Estado controlado por forças muçulmanas e judias para por fim à guerra em Israel. Natalie é a única grande estrela do filme, no papel da filha mais velha do escritor, Fania – ainda não está confirmado o nome do ator que interpretará o papel principal.

La Giovinezza (Youth)
Competição pela Palma de Ouro

Segundo filme em inglês do italiano Paolo Sorrentino, que venceu o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro por A Grande Beleza, em 2014. Lá em 2011, ele estreou no cinema americano comandando Sean Penn no excêntrico drama Aqui é o Meu Lugar, e embora não volte para Hollywood para comandar Youth, faz seus atores discursarem na língua inglesa. O protagonista é Michael Caine (yes!), um maestro aposentado que está passando férias num resort nos Alpes quando é chamado pela família real britânica para um último concerto. O dilema do personagem de Caine é refletido nos coadjuvantes interpretados pelo colorido e estrelado elenco: Paul Dano, Harvey Keitel, Rachel Weisz e Jane Fonda aparecem no filme. Sempre uma boa aposta, Sorrentino promete entregar mais um drama de ritmo bem peculiar, como mostra o trailer.

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