ATENÇÃO: esse review contem spoilers!
por Caio Coletti
Se o developer de Gotham, Bruno Heller, for tão inteligente quanto tem se mostrado nesse início de série, ele manterá o roteirista John Stephens por perto. O moço, que tem experiências prévias em Gossip Girl e The O.C, (não exatamente as credenciais que se esperaria para escrever essa série, vamos admitir), escreveu o melhor episódio da temporada até o momento, o ainda imbatível “The Balloonman” (review), e faz um trabalho quase igualmente incrível em “The Mask”, oitavo capítulo de Gotham. A entrada mais recente da série mostra que o entendimento profundo que Stephens demonstrou do funcionamento e cerne temático da narrativa e do equilíbrio entre histórias paralelas necessárias para fazer Gotham funcionar não foi sorte de iniciante. Até o momento, ele é o roteirista que melhor compreende a história que a série quer contar.
E isso é importante porque se reflete no quanto o espectador consegue localizar os personagens no momento em que eles se encontram narrativa e emocionalmente. “The Mask” tem uma clareza muito bem-vinda ao lidar com as consequências de um episódio tão marcante quanto o seu predecessor, “Penguin’s Umbrella” (review), e é fácil observar isso no protagonista da série. Depois de ser obrigado a enfrentar Falcone de frente após a farsa do assassinato de Oswald ser revelada, o Jim Gordon de Gotham se torna o cavaleiro branco que todos esperávamos que ele fosse. Digam adeus às sombras de culpa, e digam olá a um dilema novo e muito interessante: incorporando muito oportunamente as nuances que a atuação de Ben McKenzie deu ao personagem, Gotham se compromete com um Gordon cheio de fúria nos olhos, um veterano de guerra com o sangue de guerreiro necessário para se tornar o homem certo para limpar, de dentro do sistema, a polícia de Gotham.
É fácil imaginar como esse Gordon vai crescer para se tornar o comissário que apóia a existência de um vigilante mascarado como o Batman – e está cada vez mais fácil ver como o jovem Bruce Wayne da série vai se tornar essa figura emblemática para a trajetória da cidade. As poucas cenas estreladas por David Mazouz como Bruce e Sean Pertwee como Alfred movem a história adiante com um ímpeto muito característico de Gotham, mas que nunca havia sido aplicado a esse núcleo de personagens. Uma questão importante da formação do Batman é tocada, e ela se entrelaça tão elegantemente com o tema do episódio que é impossível não render aplausos ao trabalho do roteirista. Em um episódio sobre guerra, violência e ímpeto vingativo (sim, Gotham continua sendo extremamente dark para a TV aberta), é notável ver como a brutalidade faz parte da formação do herói de uma cidade repleta dela.
A trama da semana envolve um homem de negócios (Todd Stashwick, de The Originals) que seleciona seus novos contratados colocando-os dentro de um prédio de escritórios abandonado e dizendo que o último sobrevivente é o vencedor da disputa (Sim! Hunger Games no trabalho!). A câmera pra lá de elegante de Paul Edwards, um dos mais talentosos diretores de televisão dos EUA no momento, ajuda a dar pedigree a esse caso tão oportuno que nossos detetives estão investigando, enquanto todo o rico submundo de Gotham City desfila pela tela em uma procissão muito bem dosada pelo roteiro. “The Mask” é televisão de primeira categoria – pega uma Gotham descarrilhada pelo (necessário) caos do capítulo anterior e a coloca numa rota que é perfeita para a história que tem para contar.
Observações adicionais:
- Uma das boas jogadas do episódio é estabelecer a noção de que todo o caos e a vilania que floresce em Gotham City depois dos eventos do piloto pode ter sido desencadeada pela morte de Thomas e Martha Wayne – representantes de uma esperança para a reabilitação de Gotham.
- Já uma das suas pouquíssimas fraquezas é o recurso repetitivo do qual Gotham vem lançando mão na trama romântica entre Jim e Barbara. Aqui, vemos a moça mais uma vez deixar o marido, logo depois de dizer que é capaz de lidar com os problemas da profissão dele.
✰✰✰✰✰ (4,5/5)
Próximo Gotham: 1x09 – Harvey Dent (17/11)
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