ATENÇÃO: esse review contem spoilers!
por Caio Coletti
É flagrante para qualquer espectador de Gotham que o roubador de cenas da série é Oswald Cobblepot, o Pinguim, interpretado pelo jovem e talentosíssimo Robin Lord Taylor, mas não se trata só da personalidade explosiva e do ator bem-escalado. Desde o primeiro episódio, o destino e as intenções de Oswald são a peça-chave que move a narrativa de Gotham, e é inteligente da parte do time do escritores, especialmente do developer Bruno Heller, que seja assim. O Pinguim é o personagem perfeito para manter o espectador em constante expectativa: imprevisível, violento, inescrupuloso, escorregadio e cheio de artimanhas. Ele não só está presente em cada grande pico dramático de Gotham como provém a bem-vinda figura de uma intenção humana, uma direção singularizada, para a trama de mafiosos que é o coração da série. Se não fosse por ele, Gotham perderia muito do seu ímpeto narrativo, e “Penguin’s Umbrella” deixa bem claro que essa é uma trama que sobrevive à base de ímpeto narrativo.
Em plena sétima semana no ar, Gotham já nos entrega um episódio de resolução de conflitos, amarrando a conclusão – meio anticlimática, diga-se de passagem – da fuga de Gordon após os acontecimentos do final de “Spirit of the Goat” (review) com um novo cliffhanger que abre a perspectiva do espectador para todos os acontecimentos da série até o momento. De uma representação do caos de uma cidade dominada pela imoralidade, e um tomo sobre como esse domínio é capaz de se infiltrar até em quem tem a coragem de repelí-lo, Gotham se torna o produto doentio de uma mente criminosa. E pode parecer que com isso a série perde profundidade, mas não é bem assim: de alguma forma, essa nova visão da trama coloca em perspectiva também o papel dos “heróis” de Gotham City, e do quanto eles são diferentes do futuro vigilante da metrópole, o Batman.
O Jim Gordon de Ben McKenzie, agora livre do segredo de não ter assassinado Oswald Cobblepot como os contatos da máfia com a política de Gotham haviam ordenado, tem espaço para ser ainda mais o personagem que conhecemos nas outras mil encarnações do Homem-Morcego. O ator ainda tem que se acostumar um pouco a esse novo lado do personagem (ou talvez ele só seja melhor em fazer um Gordon torturado pela culpa?), mas ver Gordon desafiar o estabelecimento de poder na metrópole é excitante para um espectador que gosta de perceber os sub-tons políticos de uma história como essa. Será que o inimigo, como proclama Don Falcone, é mesmo a anarquia? A galeria de vilões do Batman parece nos dizer que sim, e o Pinguim da série não está muito atrás nesse sentido. A impressão que fica é que Oswald Cobblepot é um daqueles homens que só “gostam de ver o circo pegar fogo”.
Gotham City é um lugar muito complexo para homens de princípios inabaláveis como Gordon e aqueles que ele arrasta junto a si – e talvez por isso o tal final anticlimático seja até apropriado. Para que a série tivesse para onde fugir com a sua narrativa, tendo se conduzido tão rapidamente a uma conclusão, o roteirista Heller se viu obrigado a retornar à estaca zero com seus personagens, o que não deixa de ser uma falha grave de desenvolvimento de trama. Acontece que, tematicamente, poucas séries são tão contundentes quanto Gotham no retrato das ambiguidades morais da corrupção e da justiça, e digo mais: arquiva esse feito impressionante em um mundo decididamente quadrinesco, com personagens um tanto quanto maniqueístas. É na forma como construiu seu mundo que Gotham triunfa, e é bem na ponta do guarda-chuva do Pinguim (que, apropriadamente, nomeia o episódio) que esse mundo se equilibra.
✰✰✰✰ (4/5)
Próximo Gotham: 1x08 – The Mask (10/11)
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