Carnage (Carnage, França/Alemanha/Polônia/Espanha, 2011)
Dirigido por Roman Polanski…
Escrito por Yasmina Reza & Roman Polanski, baseados na peça de Yasmina Reza…
Estrelando Jodie Foster, Kate Winslet, Christoph Waltz, John C. Reilly…
79 minutos
Acreditem ou não, em menos de 80 minutos é possível fazer um filme que diz mais do que muito drama de cunho social por aí. E o feito só poderia vir de Roman Polanski. Depois de mostrar que seu talento supera qualquer parte da sua vida pessoal (as pendências com a justiça americana, para ser mais exato) em O Escritor Fantasma, o diretor reúne um elenco pequeno para um filme sem grandes ambições aparentes, adaptado de uma peça de teatro e mantido fiel a ela, com apenas um cenário e quatro personagens. É assim que Carnage realiza um comentário muito ferino sobre o quanto e até onde mantemos nossas aparências. O filme compreende uma reunião entre o casal Longstreet (Jodie Foser e John C. Reilly) e o casal Cowan (Kate Winslet e Christoph Waltz) com o objetivo de discutir uma solução amigável para um problema corriqueiro (ou nem tanto): o filho de 11 anos dos Longstreet foi agredido pelo dos Cowan, da mesma idade.
A força de Carnage está na lenta desconstrução que faz dessas figuras, que se mostram os focos para os quais as câmeras de Polanski espertamente se dirigem. E, claro, em seu elenco. Jodie Foster está uma pilha notável de nervos que desmorona com o andar do filme, e é impossível negá-la a indicação ao Globo de Ouro que recebeu pelo papel. Kate Winslet, a epítome da mulher elegante no início, realiza um trabalho notável ao desafiar a própria persona que construiu para si nessa atuação. John C. Reilly entrega a atuação mais básica entre os quatro, mas ainda consegue convencer na pele do rei das reconciliações que se revela um homem com pouquíssimos modos. E, por fim, Christoph Waltz é a escolha perfeita para um papel que exige tanto nervo e tanta ironia. Ele é quase a voz da razão no grupo, e isso é algo notável na confusão inteligente, ácida, bem-humorada e direto ao ponto de Carnage.
Nota: 8,0
Precisamos Falar Sobre o Kevin (We Need to Talk About Kevin, Inglaterra/EUA, 2011)
Dirigido por Lynne Ramsay…
Escrito por Lynne Ramsay & Rory Kinnear, baseados na novela de Lionel Shriver…
Estrelando Tilda Swinton, John C. Reilly, Ezra Miller, Jasper Newell…
112 minutos
Se existe algum jargão crítico usado com freqüência demais e critério de menos nesse universo cheio de manias, esse jargão é dizer que um drama que lida com qualquer assunto delicado é “maniqueísta”. O que isso quer dizer, afinal? Quando um filme tenta provar um ponto, influenciar o espectador e direcioná-lo a um certo tipo de julgamento, este filme deixa de sê-lo para se tornar uma tese. E não há nada de tão errado no cinema-tese. Mas há muito mais de certo em um filme como Precisamos Falar Sobre o Kevin. Lidando com a história de Eva (Tilda Swinton), mãe de um garoto que, problemático desde a infância, foi responsável pelo assasinato de dezenas de pessoas no colégio em que estudava, seria fácil para a diretora e roteirista Lynne Ramsay apontar o dedo para os culpados usuais (exposição a mídia violenta, relação complicada com os pais, querer ser notado, negligência familiar, etc etc.), mas não é isso que ela faz.
Precisamos Falar sobre o Kevin passa por todos esses fatores, sim, mas não é com as causas que Lynne está preocupada, e isso fica mais do que claro nas cenas finais. A história aqui não é sobre um assassinato: é sobre resignação, seguir adiante, lavar o sangue das próprias mãos e fazer paz com o próprio passado. Mérito ou da novela de Lionel Shriver ou do roteiro de Ramsay ao lado de Rory Kinnear, mas de qualquer forma é a maneira como Tilda Swinton compreende e absorve isso que eleva Precisamos Falar Sobre o Kevin, de apenas excelente, para especial. Sua Eva é tão complexa, e ao mesmo tempo parece sempre tão anestesiada, que permite que a grande atriz que Tilda sempre foi explore cada olhar sob uma nova perpectiva, e encontre o que realmente importa sobre a mulher que interpreta apenas no final. Não é a toa, e não é nem um pouco indevido, que ela seja a favorita disparada nessa temporada de premiações nas categorias femininas. Uma pena mesmo que Ezra Miller não esteja sob os mesmos holofotes, pois sua atuação decerto merecia algum reconhecimento.
Nota: 8,5
“É assim: você acorda e assiste TV, entra no carro e ouve o rádio, você vai para o seu empreguinho ou sua escola, mas você não ouve sobre isso no noticiário das seis, e por quê? Porque nada está realmente acontecendo, e você pode ir para casa e assistir mais TV ou talvez seja uma noite divertida, e você saia de casa… e veja um filme. Eu quero dizer, a situação está tão ruim que metade das pessoas na TV, dentro dela, estão assistindo TV também. O que essas pessoas estão assistindo, pessoas como eu?”
(Ezra Miller e seu monólogo em “Precisamos Falar Sobre o Kevin”)
1 comentários:
Carnage é uma obra interessante mesmo. Se quatro pessoas que se julgam civilizadas não conseguem se aguentar em um mesmo ambiente, por cerca de uma hora, como esperam que seus filhos possam lidar bem com situações problemáticas? Interessante o modo como isso é proposto no filme, com direito a uma alternância interessante entre o drama e a comédia.
Quanto a Precisamos Falar Sobre Kevin, eu ainda estou estarrecido com Tilda Swinton! Que performance! Poucas vezes vi atrizes tão entregues à sua personagem e tão convincentes... sem contar que o filme mostra eficientemente o modo como ela é agredida pelo filho, seja física ou psicologicamente. Um grande filme, quero inclusive revê-lo.
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