7 de jan. de 2012

Fabio Christofoli #5 – Muito pra pouco

Fabio opinião

Bem que eu tentei começar 2012 sem uma polêmica aqui no meu espaço no Anagrama. Bem que eu tentei... Cheguei a fazer dois parágrafos, exaltando o novo ano, opinando sobre as mudanças que gostaria de aplicar no meu cotidiano (cumpri todas as que me propus ano passado) e as que desejo ver nas pessoas. Mas aí percebi que as pessoas começaram o ano com os MESMOS erros.

Hoje, dia que estou criando esse texto, as Redes Sociais foram tomadas por uma indignação, por um senso de justiça sem freio, por discursos inflamados e montagens irônicas. Isso seria legal se o debate fosse sobre algo relevante, mas não, era sobre a capa da Época: o Michel Teló. As pessoas estavam inconformadas pela manchete que dizia que o cantor traduzia os valores da cultura popular brasileira. Elas pararam o que estavam fazendo, usaram minutos, cada vez mais preciosos nesses dias corridos, para debater a capa de uma revista. Mentes que poderiam estar pensando coisas produtivas se debatiam para queixar-se do “erro da Época”.

É aqui que começo minha primeira polêmica do ano. Quero dar um conselho a esse grupo de pessoas. Meu conselho pra 2012, que pode ser assimilado ou não (mais provável).

Parem com isso, sério. Uma coisa é não concordar, o que é até saudável, outra é criar uma revolução em cima disso. Claro que não sou guru para dar conselho, nem quero ser. Na verdade, é mais que um conselho: é uma tese, defendia em 3 importantes tópicos, que deflagram o quanto esse mimimi é absurdo.

1) Cultura é tudo – Erra quem pensa que cultura significa algo sofisticado, algo que necessariamente deve ser bom. Não! Cultura é praticamente tudo. Colocar o lixo em um recipiente (conhecido como lixeira) é uma cultura. A palavra ganhou um sentido extra, pelo menos aqui no Brasil, e muita gente fica ofendida quando ela é usada para se referir a algo popular. Sabe o funk dos morros cariocas? É cultura. É o modo de algumas pessoas se expressarem. Se é bom ou ruim, não interessa. Pelo menos para classificarmos como cultura. Espartanos matavam bebês com problemas de saúde. É algo horrível de se pensar hoje, mas era uma cultura dos caras na época. Quando a Época diz que o Michel Teló traduz a cultura popular (reparem nessa palavra), ela não esta cometendo nenhum erro. Muito pelo contrário. Ele traduz mesmo. “Aí se eu te pego” acontece por aí, está na cabeça das pessoas. Faz parte da cultura de uma população grande, é popular. Onde está o erro? Talvez em exaltar isso. Mas, ignorar isso também não seria um erro? O cara atualmente está na frente da Adele nas paradas européias. Posso não achar isso certo, mas devo admitir que é impressionante.

2) O popular SEMPRE foi contestado – João Gilberto já foi considerado lixo (pelo amor de Deus, não estou comparando ninguém, só estou lembrando um fato). Sim, a Bossa Nova ia contra o que se tocava na época, era uma novidade. E novidades quase sempre despertam interesse da massa. O “estilo” de cantores como Michel Teló no momento é uma novidade. É o que mais toca na noite. Um dia esse espaço foi do rock, depois foi da dance musica, várias vezes foi do pop, agora é do sertanejo universitário (ok, não entendo essa nomeclatura). É um ciclo. Um ciclo pouco consistente se a música não tem qualidade pra se manter. Alguns se tornam clássicos, outros caem no esquecimento. O fato é que o que o povo ama sempre, de alguma forma, foi contestado. Todos esses estilos encararam narizes torcidos dos que amavam o que “era bom”. Só o futuro vai dizer se a novidade fica ou vira hit em festas bizarras. Não se esqueça, você ou alguém que você conhece já dançou Macarena feliz da vida e nem se importou com a letra.

3) Odiar é pior que amar – Restart, Justin Bieber, Fiuk, Luan Santana e Michel Teló não fazem parte do meu playlist. Nunca farão, pois não gosto, acho ruim, não faz meu estilo. Porém, acho um absurdo fazer guerra contra quem gosta. Por favor! Isso é quase uma ditadura musical. As pessoas são livres pra gostar do que quiserem. Ok, a qualidade (pra alguns) é ruim, mas problema é de quem ouve. Não de quem não ouve. Tudo bem dizer “Restart é uma bosta”, mas uma ou duas vezes. É uma opinião. Mas é patético se estressar com isso. Vou dizer que é pior do que gostar disso, pois você deixa de curtir as suas coisas para ficar azucrinando que está curtindo algo que você não gosta. E mais, quem faz isso cria uma cultura chata, repetitiva e inútil. Quer um exemplo? Quase sempre que um vídeo de uma música “boa” leva um “não curti” no Youtube, alguém solta a pérola “tantas pessoas são alienados e gostam de Restart”. Pô! Que saco isso. Invés de o cara fazer um comentário bacana sobre a música, ele “queima” sua participação preocupado com suposições. 

Enfim, desculpem eu me estender tanto. Estou me odiando por ter que parar pra escrever sobre isso. Mas não pensem que estou aqui defendendo bandas coloridas ou cantores sertanejos, NÃO MESMO. Estou aqui indignado contra essa nova onda social de protestos, que muitas vezes mais parecem inveja. A esse ciclo viciante de briguinhas inúteis, que não levam a lugar algum. Aliás, enquanto as pessoas estão discutindo o cabelo do Neymar, os políticos desse país estão definindo o aumento do próprio salário e como vão arrecadar esses recursos, ou seja, como vão descontar de você.

Fica aqui meu apelo pra 2012: mundo, comece a se preocupar com os seus problemas de verdade, que não são poucos...

Obs.: Sobre a capa da Época. Acho importante a revista destacar um brasileiro que faz sucesso fora do país.

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“Agora chegou a vez da letra maliciosa e do rebolado discreto de Michel Teló. O mundo inteiro está dançando ao som do batidão, essa mistura de vanerão gaúcho e forró nordestino que o Teló inventou.”

(Luiz Carlos Maluly, produtor)

1 comentários:

Anônimo disse...

De uma forma tão simples e fácil de entender você conseguiu dizer tudo! Parabéns pelo texto!