27 de ago. de 2015

6 anos d’O Anagrama: 6 artistas que descobrimos antes das paradas

POST

por Caio Coletti

Essa semana O Anagrama completa 6 aninhos! Incrível pensar em como esse tempo todo passou rápido, e o quanto o site mudou de 2009 pra cá, mas mais incrível ainda é pensar em quanta coisa, quanta cultura pop, passou por aqui e pelo mundo nesse período. Por isso, para comemorar em grande estilo os 6 anos do site, resolvemos olhar para fora de nós mesmos e montamos uma série de listas selecionando alguns dos “itens” mais marcantes da cultura pop dos últimos anos. Serão dois posts de TV, dois de cinema e dois de música, para pagar tributo ao caráter multi-assunto d’O Anagrama, nos próximos seis dias (pulando o fim de semana, pra você não ter que perder nenhum), e embora as nossas seleções sejam muito pessoais, como sempre estamos mais que abertos para discutir quem faltou e quem sobrou nas listas com vocês, maravilhosos leitores!

Essa é a nossa lista de 6 artistas que passaram aqui pelo nosso site antes mesmo de virarem sucesso – não gostamos de nos gabar, mas às vezes brincamos de mãe-de-santo e, nesses 6 anos, previmos o sucesso de muita gente. Amanhã o especial continua com 6 astros de cinema que amamos acompanhar de 2009 pra cá.

Charli_XCX_(cropped)Charli XCX

Dizer que Charli é um dos nomes mais importantes do pop britânico hoje em dia é fácil – apostar nela lá em 2011, quando saíram os primeiros singles “Nuclear Seasons” e "Stay Away", requeria um pouco mais de atenção. Foi o que O Anagrama fez, depois de topar com o clipe super-estilizado para “Nuclear Seasons” no Youtube e se encantar com o synthpop denso e com sotaque inglês adorável que a moça fazia naqueles primeiros anos de carreira. Com um estilo opressivo e sombrio na produção e os visuais certos para casar com essa proposta, Charli fazia música com um conceito forte e cheio de referências, um clima quase industrial que remetia à new wave dos anos 80 e a filmes de ficção científica distópica como Blade Runner e Metrópolis. Se há uma grande responsável pelo estilo gótico ressurgir das trevas e conquistar o mainstream e, especialmente, a música pop, eletrônica e alternativa, essa responsável é Charli XCX, mas a moça não se contentou com isso: nas mixtapes que se seguiram aos primeiros singles, incorporou elementos mais contemporâneos, incluindo o hip hop (na ainda insuperável "Cloud Aura", em parceria com Brooke Candy) e o bubblegum pop que estava voltando à moda depois da febre oitentista dos anos pós-Lady Gaga. O resultado dessas experimentações foi o álbum True Romance, lançado sem muito alarde em meados de 2013, colecionando canções de todos os lançamentos anteriores e adições mais que valiosas ao repertório. A melodia marcante de "Set me Free" que o diga, aliás.

Quando Charli começou a se preparar para a segunda fase da carreira, a parceria com as meninas do Icona Pop estourou nas paradas e, de repente, a cantora inglesa via mais holofotes sobre si do que nunca. O verdadeiro momento da verdade, no entanto, veio quando "Boom Clap", sua composição para a trilha-sonora de A Culpa é das Estrelas, explodiu no mundo todo. Viciante, simples e grudenta, a música era uma prima mais “pop” das canções que Charli havia selecionado para o True Romance, enveredando de vez o estilo visual e musical da cantora para uma direção mais leve e contemporânea. A nossa intuição foi confirmada quando saiu "Break the Rules", o hino que antecipou Sucker, segundo álbum de estúdio da cantora, lançado no finalzinho de 2014. Brincando com os caminhos do punk-pop que movimentou o começo dos anos 2000, Charli teceu uma obra que fez jus às raízes adolescentes/rebeldes do gênero e chegou com uma atitude confrontadora e nada sutil. Não se surpreendam se, daqui a alguns anos, as baladas alternativas sejam invadidas por canções nos moldes de "Doing It" e "Famous", que flertam com o pop, com o rock e com o indie, sem cair em nenhum desses rótulos. O mundo ultra-pop e a sensibilidade precisa de Charli XCX definitivamente vieram para ficar.

Primeira aparição n’O Anagrama: 07 de Maio de 2012, em “Charli XCX libera ‘I’ll Never Know’ e ‘Valentine’ para download gratuito”

Primeira aparição na Billboard: Janeiro de 2013, com "I Love It"

Icona Pop

A aptidão impressionante da Suécia para produzir preciosidades pop continuou nos dando muitos presentes durante esses últimos seis anos, mas poucos alcançaram a notoriedade da dupla Icona Pop. A ruivinha Caroline Hjelt e sua companheira maravilhosa Aino Jawo se juntaram por acaso, numa festa da faculdade de música que ambas frequentavam, em 2009. A parceria funcionou desde o começo, e já no finalzinho de 2011 as duas tinham firmado contrato com gravadora e lançado o primeiro single, "Manners", descrito pelo The Guardian como “cool sem precisar fazer esforço”. A melodia grudenta combinada com a produção edgy, usando quase exclusivamente sintetizadores e percussões, ditou a receita simples e vitoriosa do duo, que seguiu cirando refrões inesquecíveis até o público finalmente se apaixonar por um deles, o revoltado: “I don’t care!/ I love it!” de "I Love It", um dos maiores hits de 2013. Misturando lançamentos exclusivos para a Suécia natal com álbuns confeccionados para levá-las ao mercado mainstream dos EUA, as moças emplacaram hits menores nas paradas dance americanas, incluindo a linda "All Night", que conta com um vídeo super tocante retratando a vida de performers noturnos. O mais bacana é que, mesmo que não empurre muitas mensagens pesadas em suas letras, tanto Caroline quanto Aino são feministas declaradas, e enxergam suas carreiras lado a lado como uma afirmação da presença feminina no showbusiness, além de militarem pela igualdade de gêneros na indústria musical.

O Anagrama, sempre de olho nas tendências que vem de Estocolmo, apostou nessas duas suecas desde o comecinho de 2012, logo após o lançamento do EP Night Like This, que trazia uma bela coleção de composições pop, todas elas bem menos aceleradas que o hit mais conhecido do Icona. Além do já citado primeiro single das moças e da faixa-título, que você pode ouvir aí embaixo, o EP também tinha as baladas "Lovers to Friends" (ainda nossa música preferida do Icona Pop) e "Sun Goes Down". O DNA já bastante pop do Icona fez com que a transição para as “ligas maiores” da indústria musical fosse bem mais suave do que acontece com a maioria das revelações estrangeiras quando chegam ao mercado americano. As duas continuam fazendo um som delicioso, que não complica na concepção mas sempre entrega ideias intrigantes dentro do que propõe, e traz duas vozes femininas poderosas ao gênero – o Icona Pop era uma aposta fácil lá em 2012, e continua sendo três anos depois.

Primeira aparição n’O Anagrama: 16 de Fevereiro de 2012, em "5 EPs que deixam gostinho de 'quero mais'"

Primeira aparição na Billboard: Janeiro de 2013, com "I Love It"

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Lorde

Os começos misteriosos da neo-zelandesa Lorde pouco fizeram para antecipar o tamanho do fenômeno que ela se tornou tanto na comunidade pop quanto entre os membros mais mente-aberta dos admiradores de rock. O estilo sóbrio e minimalista das canções, mais a atitude rebelde das letras, que traduzem com muita astúcia lírica o estado de espírito de toda uma geração, a tornaram em figura onipresente no cenário mainstream, e ainda a garantiram respeito crítico de uma maioria esmagadora da comunidade musical. Durante os primeiros meses da carreira, quando lançou o EP The Love Club, nem o rosto da cantora era totalmente conhecido. A recepção calorosa que as faixas desse primeiro lançamento receberam na comunidade indie e nos blogs de música mundo afora começaram a preparar terreno para a lenta ascensão de “Royals” nas paradas. A mensagem anti-consumista da canção ganhou o coração e as mentes do público jovem, que abraçou uma música que não só fugia dos temas frívolos dos hip-hops, como fazia claro deboche deles, ao mesmo tempo em que usava da linguagem musical do gênero para fazê-lo. Com o super-estrelato vieram as cobranças “naturais” (mas que não deveriam ser) do mainstream, os artigos destrinchando a vida amorosa e as piadinhas com o estilo de se vestir e portar da artista – felizmente, nada disso refletiu no Pure Heroine, álbum de estreia da moça, que saiu em 2013.

Conhecemos e destacamos a Lorde um pouco depois do lançamento do clipe de “Royals”, primeiro de sua carreira, e um pouquinho antes da canção começar a subir de verdade na Billboard e no conceito de todo mundo fora da comunidade de bloggers de música da internet. Na época, chamava a atenção a pouca idade da moça, que nem havia completado 17 anos – hoje aos 19, Lorde ainda é a estrela mais jovem do mainstream musical, e surpreende por ser também uma das mais inteligentes. Sem fazer concessões ao seu estilo, gravando um álbum personalíssimo que, justamente por isso, não caiu nas graças de todo mundo (e nem deveria), Lorde mostrou autenticidade e cravou os dois pés na conceituação como uma artista que ultrapassa as barreiras de gêneros e cria música importante e com algo a dizer. Seja na letargia da deliciosa "Ribs" ou na celebração da ainda melhor "Team", há uma segurança em Lorde que empodera pessoas de uma faixa etária frequentemente subestimada. Como reconheceu a sempre muito observadora Lily Allen, na letra de sua “Sheezus”: “Kid ain’t one to fuck with/ When she’s only on her debut”.

Primeira aparição n’O Anagrama: 13 de Maio de 2013, em "Você precisa conhecer: Lorde"

Primeira aparição na Billboard: Agosto de 2013, com "Royals"

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A notoriedade do Bastille nos meios independentes vinha de bem antes de “Pompeii” virar uma das músicas mais reconhecíveis do final de 2013. Na ativa desde 2010, os ingleses lançaram o primeiro EP, intitulado Laura Palmer, em 2011 – mas ficaram mais famosos mesmo a partir do primeiro volume da série de mixtapes Other People’s Heartache. E que título adequado para a música do Bastille, cheia de referências – e não só musicais, inclusive. Com um EP nomeado em homenagem à misteriosa personagem assassinada em Twin Peaks, série noventista criada por David Lynch (Cidade dos Sonhos), e mais várias faixas que se misturam com samples de diálogos de outros filmes, o Bastille é em grande parte uma banda que constrói sua narrativa emocional dentro da música a partir da arte de outras pessoas. Essa qualidade verdadeiramente multimídia da banda britânica é talvez sua grande virtude, e a forma através da qual ela começa a se diferenciar de suas companheiras no Olimpo das bandas de pop-rock bem-sucedidas da nossa época. Não que Dan Smith e companhia não tenham uma assinatura melódica e instrumental distinta, porque de fato a voz do moço e a forma como ele e os companheiros estruturam as músicas aos poucos se torna deliciosamente familiar, com pequenas variações para não deixar a experiência de ouvir o álbum de estreia, Bad Blood, maçante. O estilo apoteótico e cheio de corais e percussões retumbantes do Bastille inspira e transpira grandeza, de forma muito adequada à sua visão colossal da condição e do sofrimento humano.

O mais bacana da banda inglesa é que eles são um dos únicos dessa lista que lançaram seu álbum de estreia antes de ter o sucesso de uma faixa garantido do outro lado do Atlântico. “Pompeii” foi o hit adormecido da Billboard por muitos meses antes de emplacar, com a ajuda de séries de TV britânicas e americanas, e o buzz natural que foi aumentando com os meses de repercussão do álbum na internet. É mais que recomendável, no entanto, que o ouvinte que goste de “Pompeii” (ou mesmo que não curta) tente conhecer as outras faixas da banda, especialmente o também single "Laura Palmer", com seu marcante refrão “This is your heart/ Can you feel it?”; a lenta "Overjoyed", que sempre rende interpretações comoventes nos shows da banda (sensacionais, inclusive); o mezzo-hit "Of the Night", que sampleia a célebre canção da Corona, lá dos anos 90; e a doída "Oblivion", cujo clipe é estrelado pela Sophie Turner, de Game of Thrones. Tirando emoções e inspirações de todos os cantos da cultura pop, o Bastille se firma como uma  banda completa, fascinante e obrigatória para quem quer entender o zeitgeist contemporâneo.

Primeira aparição n’O Anagrama: 23 de Março de 2013, em "Top 5: Preciosidades escondidas em álbuns de 2013 (edição #1)"

Primeira aparição nas paradas: Outubro de 2013, com "Pompeii"

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The 1975

O estilo inconfundível, a voz deliciosa, a interpretação intensa e a aparência nada desagradável do maravilhoso Matt Healy é apenas um dos muitos atributos do The 1975, banda britânica que ainda está caminhando para se tornar um fenômeno mainstream, mas já conquistou bastante gente no meio pop-rock. O bacana do The 1975, com seu nome evocativo e seus vocais cheios de ecos, é que eles conseguem soar ao mesmo tempo como uma banda de garagem e um grupo sofisticado de músicos experimentando com a barreira entre sintetizadores e guitarras dentro do seu gênero. Não machuca que eles saibam muito bem como escrever um belo gancho melódico (o “she’s got a boyfriend anyway” da ainda soberana “Sex” – ouça aí embaixo – que o diga) e criar o tipo de melodia amarga e doída com a qual a nossa geração está mais que familiarizada. Faixas como a belíssima "Robbers" carregam aquela melancolia sedada e pesada, com clima de restos e reminiscências de uma noite particularmente alucinante, cheia de altos e baixos emocionais. A carreira da banda começou com uma série de 4 EPs lançados entre 2012 e 2013, quando os integrantes já trabalhavam juntos há quase 10 anos – isso mesmo, o The 1975 existe desde 2002, quando Matt e companhia ainda eram pré-adolescentes – e vários dos integrantes falaram extensivamente sobre a importância desses primeiros lançamentos, para “prover contexto ao nosso som, que é bastante amplo” e “ter certeza que poderíamos nos expressar da forma correta” (palavras do frontman Healy). Quando o álbum finalmente saiu, em 2013, foi a oportunidade para o single "Chocolate" virar um pequeno fenômeno entre o público mais jovem.

A verdade é que de fato os 4 EPs pré-debut familiarizam o ouvinte com o estilo maleável e as produções ecléticas do grupo, e que, quando saiu, o disco de estreia auto-intitulado se revelou uma obra labiríntica e complexa, cheia de reentrâncias e “sessões” diferentes em termos de ritmo, temática e instrumental. Das baladas já citadas à enérgica e bastante pop "Girls", o disco passeia entre extremos com elegância e sensibilidade, sempre acompanhado de uma assinatura sonora muito marcante, provavelmente adicionada pela produção coesa de Mike Crossey (Arctic Monkeys). "The City" é um animal estranho que se localiza entre uma celebração e um lamento, mas vem acompanhada de uma guitarra viciante e muitos ecos no vocal de Matt; "Heart Out" é uma dilacerada análise da intimidade humana, com um refrão de dar arrepios (“it’s just you and I tonight, why don’t you figure my heart out?”) – e tem um clipe fofíssimo para acompanhar. No meio desses destaques, faixas insinuantes e espertamente experimentais passeiam pelo ouvido de quem se presta a experimentar o álbum inteiro. Não dá para negar que o The 1975 é um gosto adquirido, mas é também bastante viciante a partir do momento que você prova do sabor certo.

Primeira aparição n’O Anagrama: 26 de Julho de 2013, em "Você precisa conhecer: The 1975"

Primeira aparição na Billboard: Setembro de 2013, com "Chocolate"

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Lana Del Rey

Desde o começo, não dava para negar que Lana Del Rey era algo especial. O fascínio que o vídeo de recortes caseiros para "Video Games" exerceu sobre o público da internet não a levou para as alturas do sucesso mainstream, mas serviu de introdução a uma artista que trazia consigo uma proposta nova e interessante, uma mistura de referências essencialmente pop, mas que brincava com muitas das coisas antigas com as quais o público jovem se sentia fascinado. Lana era a Nancy Sinatra gangsta, mas aos poucos esse amálgama fascinante começou a ganhar mais forma e mais sentido, conforme as temáticas particulares e o estilo próprio de performance que ela representava se revelou para o mercado. Há um elemento forte de teatro no que Lana faz, como viemos a aprender, e uma vontade intensa de refletir em si vícios e virtudes do mundo que vê a sua frente – não da forma convencional, mas se apresentando como uma superfície moldada propositalmente para provocar, instigar e observar os significados que as reações daqueles que a vêem produzem. Chamada para fazer a trilha do espetacular O Grande Gatsby de Baz Luhrmann (Moulin Rouge!), Lana entregou uma canção original que refletia um medo primal humano (o de envelhecer) ao mesmo tempo que, em um contexto maior, retratava a decadência e a ruína do sonho americano através de um ponto de vista tremendamente emocional e trágico, exatamente como fazia o filme em que a canção se inseriu. Em suma: não foi a toa que "Young and Beautiful" rendeu o primeiro destaque nas paradas para a artista.

Ágil como exige a sua natureza de performer em constante contato com o público, Lana já lançou dois álbuns desde 2012, quando a destacamos pouco antes da saída do primeiro, Born to Die. Entre esse e o Ultraviolence, que veio em 2014, ainda rolou o EP Paradise, que complementou o disco de estreia da moça com algumas canções de clima mais apoteótico e, de certa forma, esperançoso. O estilo super-produzido desses dois primeiros lançamentos (o BTD e o Paradise) rendeu pérolas infladas, com sensibilidade aguda e estruturas melódicas que pendiam bem mais para o hip hop. Os destaques vão para a épica "Off to the Races"; para "Summertime Sadness", que virou hit em forma de remix; e para a etérea "Radio", ainda nossa preferida da Lana. A produção mais econômica do Ultraviolence e sua natureza mais áspera afastou muita gente, mas é fácil ver que, sob uma camada menos espessa de produção, e principalmente sem a preocupação de soar contemporânea o tempo todo na melodia, Lana fica muito melhor – seja na insinuante "Shades of Cool", na grandiosa "Money Power Glory", ou na insuperável "Brooklyn Baby". Honeymoon, terceiro álbum da moça, sai dia 18 de Setembro.

Primeira aparição n’O Anagrama: 17 de Janeiro de 2012, em "5 lançamentos para esperar nos 5 primeiros meses de 2012"

Primeira aparição nas paradas: 01 de Junho de 2013, com "Young and Beautiful"

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