30 de ago. de 2012

“Um ou Mais Graus de Separação”, um livro para todos os gostos.

1 ou mais

por Caio Coletti
(TwitterTumblr)

São raros os projetos como Um ou Mais Graus de Separação, livro organizado por Izadora Pimenta, estudande do terceiro ano de Jornalismo na PUC-Campinas. Reunindo pequenos textos de mais de 28 “escritores de gaveta” entre amigos e conhecidos de amigos, Izadora apela para um lado que existe em todos nós: o de artistas pessoais, que talvez temam a exposição pública do que somos capazes de produzir. Não é fácil pendurar no varal, para escrutínio público, as feridas em carne viva que sangram na escrita de quem realmente se devota a ela.

E há bastante sangue, nesse sentido metafórico, nas histórias de Um ou Mais Graus de Separação. A melhor das seleções é de autoria da própria Izadora. A história intitulada “Tipo Chocolate 70% Cacau” (página 27) transpira verdade e transborda emoção. Trata-se de uma narrativa de detalhes e sutilezas cotidianas que tomam todo um novo significado na psique da personagem principal/narradora. E comove porque entende que é assim que percebemos o mundo de verdade.

Outro destaque é “Veludo”, de Julia Schmidt (página 15), que abre o livro, uma elegia à memória e ao tempo. “Vermelho”, de Mariana Rosa (página 31) e “Expectativa x Realidade”, de Marília Rocha Lopes (página 59), são crônicas urbanas daquelas pungentes e meio-amargas. “Ride”, de Ana Clara Matta (página 37), é a única seleção em inglês do livro, uma poesia sensivel e bem-sacada. “Expectativa”, de Ivan Perina (página 52), conquista pelo bom-humor contemporâneo e genuíno, e “Falta-me Falta”, de Carolina Ruedas (página 54) retrata um círculo vicioso que deve fazer parte da vida de todos nós.

Se o caro leitor teve sua curiosidade aguçada (saiba que, se não teve, precisa começar a treiná-la), dá pra ler Um ou Mais Graus de Separação em forma de ebook aqui. A seguir, entrevista com Izadora Pimenta, idealizadora e organizadora do projeto.

O Anagrama: Como surgiu a ideia para o livro?

Izadora: Sempre quis publicar um livro, mas nunca levei isso adiante. A ideia deste veio de surpresa, depois de muito observar o Vinícius, que trabalha comigo, publicar seus poemas diários no Facebook. No início, queria agregar os textos dele (coisa na qual estamos trabalhando) e talvez até alguns meus. Não vou saber exatamente quando foi que tive o insight do "Um ou Mais Graus de Separação", mas lembro que quando tive, comentei com alguns amigos e eles acharam legal. Daí a ideia foi caminhando sozinha.

O Anagrama: Foi difícil encontrar os colaboradores? Como aconteceu a seleção dos textos de cada escritor?

Izadora: Não foi muito difícil não. Convidei alguns amigos que eu já sabia que iriam topar e outros se interessaram a partir das minhas postagens nas redes sociais. Não houve um critério e nem uma restrição. Tive a sorte de receber 27 textos bem legais - o máximo que rolou foi uma edição básica em alguns.

O Anagrama: Quais são seus escritores preferidos, que você definiria como grandes influências para a sua escrita?

Izadora: Gosto muito do Nick Hornby. Gosto da maneira com a qual ele cria pessoas e situações de, também, de como ele empresta um pouco de si mesmo para cada um de seus personagens. "Um Grande Garoto" é um dos meus livros preferidos.

Além do Hornby, a mania de inserir muito de cultura pop aos textos vem da Meg Cabot com a série "O Diário da Princesa", que construiu minha pré-adolescência e é uma das minhas preferidas até hoje (Faz pouco tempo que saiu o último livro... li.. haha). A Mia Thermopolis é uma personagem digna de ser lida por qualquer menina de 12, 13 anos.

Machado de Assis talvez seria minha influência clássica. Há um pouco de "Dom Casmurro" nos meus personagens. E gosto também do George Orwell. "1984" é meu clichê favorito.

O Anagrama: Depois da publicação de Um ou Mais Graus de Separação, quais são seus projetos para o futuro?

Izadora: Tenho um projeto de outro livro colaborativo, mas em breve divulgarei mais detalhes dele por aí. Também vou diagramar o livro do Vinícius (que está em "Um ou Mais Graus de Separação" com "Dor nos Ombros").

Fora isso, acabei de deixar um site de música no qual escrevi por quase três anos para me dedicar a algumas outras coisas. Em breve começo a escrever uma vez por semana sobre música nacional em outro site, mas provavelmente também irei abrir o meu próprio até o final do ano, só que com uma abordagem bem diferente da que eu fazia.

Também espero me formar, casar e ter filhos (2, um menino e uma menina). haha

O Anagrama: De que forma você espera que seu livro afete ou inspire o leitor? Qual você definiria como o objetivo real do projeto?

Izadora: Acho que existem duas ideias principais no livro. A primeira é de que ninguém está tão distante de nada. Os autores não estão distantes entre si, o autor publicado por meio de um ebook não está distante de um autor de um best seller - todo mundo atinge as pessoas de alguma maneira. Nessa de escrever sobre música eu passei a acreditar na Internet como a melhor disseminadora de informações que nós podemos ter. Não ouvimos só as músicas que tocam na rádio: ouvimos o que vem até nós, seja lá de que maneira for. O livro estar disponibilizado da forma que foi é uma maneira de ele chegar aos outros.

A segunda ideia é a de que a maioria das pessoas que estão nele sempre quiseram estar nesse lugar. Ultrapassar as barreiras dos blogs e dos cadernos de anotação. Eu, ao menos, sempre quis. Os grandes autores estão por toda a parte. Se tivéssemos mais coletâneas literárias de novas apostas (a Granta em Português fez uma e foi bastante criticada, porque muita gente não concordou. Mas não existem outras para rebater, sabe?), todo mundo se sentiria mais motivado.

253898_455510097804249_1427929840_nIzadora e seus colaboradores posam para a Metrópole.

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