Sentidos do Amor (Perfect Sense, Inglaterra/Suécia/Dinamarca/Irlanda, 2011)
Direção: David Mackenzie.
Roteiro: Kim Fupz Aakeson.
Elenco: Ewan McGregor, Eva Green, Connie Nielsen, Denis Lawson.
92 minutos.
A mente humana é notável. A quantidade de memórias, sensações, mágoas, segredos, pequenas distorções e malfeitos menores que ela é capaz de armazenar e, além disso, esconder sob a fachada social, é absolutamente sem precedentes. Percebemos o mundo e nos moldamos ao que ele espera de nós, de uma forma ou de outra. A rebeldia visual e comportamental de alguns é apenas a faísca que se permitem soltar, de uma fogueira que permanece sob o mais restrito cuidado.
Perfect Sense (ou, na indigna tradução brasileira, Sentidos do Amor) se desfaz dessa vestimenta em pouco mais de 20 minutos. A perda do primeiro dos cinco sentidos que se esvaem aos poucos da humanidade nesse lento colapso idealizado pelo roteirista Kim Fupz Aakeson é precedida por um momento de catarse em que toda essa bagagem de sentimentos acumulada explode. Essa é a primeira de muitas constatações que o filme de David Mackenzie (Jogando Com Prazer) faz: na sociedade em que vivemos, a catarse é uma doença.
Em meio a esse apocalipse mais angustiante do que qualquer um dos encenados por Roland Emmerich (2012) se encontram Susan (Eva Green) e Michael (Ewan McGregor), uma epidemiologista e um chef de cozinha que, apesar de suas próprias mentalidades conturbadas, se apaixonam. E Perfect Sense os desconstrói com extraordinária paciência para um filme de apenas 90 minutos. Nós observamos, no semblante transparente e honesto de McGregor e, especialmente, na atuação nervosamente excepcional de Green, em um momento que deveria definir seu potencial como atriz, uma escalada emocional às mais profundas essências. Àquilo que, em meio a falta deles, faz perfeito sentido.
***** (5/5)
Hanna (EUA/Inglaterra/Alemanha, 2011)
Direção: Joe Wright.
Roteiro: Seth Lochhead, David Farr.
Elenco: Saoirse Ronan, Eric Bana, Cate Blanchett, Tom Hollander.
111 minutos.
Joe Wright pode fazer o que quiser. Acompanhar a filmografia desse inglês de 40 anos (não me pergunte porque ele ainda não tem um Oscar, e não duvide que ele virá logo) é, mais literalmente do que em qualquer outro caso recente no grande cinema, não saber o que esperar. Ele encarou Jane Austen e saiu com um dos filmes de maior bom gosto estético e encenação mais charmosa em muito tempo, o Orgulho e Preconceito de 2005. Depois, fez de Desejo e Reparação um clássico intantâneo, um estudo brilhante de narrativa e um filme excepcionalmente emotivo. Por fim, O Solista o trouxe para o drama moderno e, ainda que seja um filme de maneirismos um tanto forçados, mostrou que o olhar de Wright pode funcionar num cenário diferente. Agora, é a vez do cinema de ação.
Hanna leva no título o nome da protagonista (Saoirse Ronan, como sempre excepcional), garota treinada pelo pai (Eric Bana) como a perfeita assassina, preparando-a para fugir da ferrenha perseguição da agente da CIA Marissa Wiegler (Cate Blanchett, de volta e em plena forma) por algum passado misterioso que esta tem com a sua família. O roteiro de uma dupla de estreantes é competente, mas é a direção de Wright, tanto no trabalho com o elenco quanto no equilibrio brilhante de ação e drama, que faz de Hanna o ótimo filme que é. Suas sutis ousadias estéticas denotam que Wright dirige sob o principio de que regras são feitas para serem quebradas. Mas sem nunca perder a classe, claro.
**** (4/5)
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