23 de ago. de 2012

Sobre… – Arte pop e o “elemento de crime”.

katyperry

por Caio Coletti
(TwitterTumblr)

No Tumblr que usou por um curto período de tempo (este, para quem não conhece), Lady Gaga postou certa vez uma foto encabeçando a seguinte citação, presumidamente de autoria própria: “Na moda, você sabe que foi bem-sucedido quando há um elemento de inesperado. No pop, você sabe que foi bem-sucedido quando há um elemento de crime”. Trata-se de uma premissa interessante para se pensar, especialmente vinda de quem mais compreende, hoje em dia, a essência da arte pop.

Não é preciso radicalizar, para começo de conversa. Quando uma obra pop vem ao mundo, está destinada a superexposição midiática e social, e há muito mais coisas que a nossa sociedade qualifica como “crime” do que parece, a primeira vista. Sexo, por exemplo. Não é brincadeira. Mesmo 20 anos depois do Erotica, falar abertamente de sexo e, especialmente, com insinuações sadomasoquistas, ainda é um tabu. Ou há algum outro motivo (não-musical) para "S&M" existir?

O “elemento de crime” consiste em nada mais do que sutilmente explorar o que o âmbito social considera (aberta ou implicitamente) como ilícito. Não é preciso, sempre, atirar a trangressão na cara do público, embora isso também funcione muito bem, obrigado – que o diga a própria Gaga e seu brilhantemente polêmico "Alejandro", que lida com religião e homossexualidade em 8 minutos fabulosos. E não venham me dizer que não há elemento de crime nenhum aí: falar sem amarras de religião ainda é garantia de comprar briga com aqueles que querem que os princípios da sua sejam a lei universal, e a cultura de massa, por incrível que pareça, ainda não absorveu a homossexualidade (a “música gay” continua sendo, mesmo que cada vez menos, um nicho restrito e pouco pensado no mainstream).

Mas por quê toda essa discussão, afinal? Explico: este que vos fala foi recentemente ao cinema assistir Katy Perry: Part of Me, o filme que documenta a carreira da cantora e compositora americana e registra shows de sua turnê, California Dreams Tour. Vamos a alguns fatos: eu não sou o maior fã de Katy Perry que você vai encontrar por aí, e eu saí da sessão de Part of Me respeitando muito mais a moça como artista do que quando entrei.

Para começar, ela compõe. E não compõe mal. Em depoimento no filme, a própria Adele reconhece os feitos compositivos de Katy, e de fato é raro o faro que a cantora tem para refrões grudentos e potenciais hits, sem perder a pegada Alanis Morissette que, segundo a própria Katy conta, foi a inspiração inicial para sua carreira musical. Além de compor, apesar das críticas, a americana sabe cantar. Não brilhantemente, mas só lhe falta voz, mesmo, quando é para cantar “Firework”. Mas são poucas as vozes que não faltam quando o assunto é essa canção.

Por fim, o “elemento de crime” aparece algumas vezes no decorrer de Part of Me. Especialmente durante  "Who Am I Living For?" (o link é para a música, uma vez que a performance do filme não está disponível no YouTube), vestida de preto e amarrada a cordas manipuladas por seus dançarinos. Katy insinua o bondage, técnica do universo do sado-masoquismo, ao mesmo tempo em que casa a performance com a letra. “Eu posso sentir uma fênix dentro de mim enquanto marcho sozinha ao som de outra batida”, ela canta, introduzindo mais conflito e tabu ao se mostrar presa pelas expectativas da sociedade, amarrada no jogo sádico da indústria.

E, claro, há "I Kissed a Girl", definitivamente uma das melhores canções pop do nosso século até agora. Katy entra numa vibe Madonna na performance, se arrastando e jogando cabelo pelo palco, enquanto canta que “beijou uma garota e gostou”. Para uma garota católica que gravou um álbum de gospel, há elemento de crime maior que esse? Considere-se, ao menos uma vez, cara Katy, extremamente bem-sucedida.

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