20 de ago. de 2012

(Review) O Cavaleiro das Trevas Ressurge para o fim do melhor Batman do cinema.

batima

por Caio Coletti
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Batman Begins é o filme responsável pelos heróis do cinema não serem mais tão heróis quanto um dia já foram. O filme de Christopher Nolan chegou aos cinemas em 2005 com a missão simples de resgatar o status de um dos super-heróis mais populares do cinema anos o bastante depois do desastre Batman & Robin de Joel Schumacher, mas saiu deles tendo revolucionado a forma como o público e, portanto, Hollywood (que nada faz além de seguir a demanda de sua audiência), encaravam os justiceiros mascarados.

O Bruce Wayne de Christian Bale, em atuação definidora do personagem, não é apenas um bilionário atormentado pela lembrança do assassinato de seus pais. Ele sente prazer em ouvir os ossos quebrando. Ele faz do próprio medo uma arma para causar medo. No contexto da polícia absurdamente suja que Nolan montou em sua Gotham, Batman é tão fora-da-lei quanto àqueles que ele caça.

O Cavaleiro das Trevas, de 2008, é o filme que melhor e mais brilhantemente define isso. Rigorosamente, a marca que a sequencia de Nolan deixa, com todos os jogos psicóticos do Coringa sobrenatural de Heath Ledger, é que Batman não é nem mesmo um herói. Ou será que é? Quatro anos depois de sermos deixados no monólogo arrepiante do final do melhor filme de 2008 (ouse discordar), O Cavaleiro das Trevas Ressurge parece querer nos mostrar que da imperfeição, da conturbação, pode também surgir um herói.

No contexto de uma trilogia, então, Begins é sobre o medo, Cavaleiro é sobre o caos, e esse Ressurge é sobre esperança. E sobre como ela pode vir de qualquer lugar. O roteiro dos irmãos Jonathan e Christopher Nolan é absolutamente magistral na missão de articular essa mensagem com os outros numerosos elementos que inclui em sua trama. O simulacro da Revolução Francesa que toma conta de certa parte da narrativa, quando o vilão da vez, Bane (Tom Hardy), alcança parte de seus objetivos, a tocante relação entre Bruce e Alfred (Michael Caine, acima de quaisquer adjetivos), a sutil jornada de Selina Kyle (Anne Hathaway, em surpreendente equilibrio de acidez e doçura), tudo é ajustado em um roteiro que segue a tradição de Nolan: não tem medo da complexidade, mas não se perde em meio a ela nem sente a necessidade de mastigá-la para seu espectador.

Claro, o diretor só mexe em vespeiros como esse porque sabe que tem o controle narrativo, atrás das câmeras, para fazer o espectador sair ileso e impressionado de seu filme. Ele fez um filme de trás para frente (literalmente) em Amnésia, performou um truque de mágica em forma de cinema em O Grande Truque, e satisfatoriamente nos levou para dentro e para fora de multiplos sonhos dentro de outros sonhos em A Origem. Está mais do que na hora de reconhecer Nolan como um gênio contemporâneo da narrativa cinematográfica. Não existe, hoje, contador de histórias mais destemido, dedicado e habilidoso do que ele no mundo do cinema.

O Cavaleiro das Trevas Ressurge é inteligente o bastante para deixar gancho para uma continuação que pode, na verdade, nem mesmo ser interpretado assim. Um ciclo se fecha quando sobem os créditos, e é possível sentir o cheiro de uma história que foi finalizada sem deixar nenhuma ponta solta. E uma história que não passou incólume. Nolan trouxe para o gênero dos filmes de super-heróis não só a libertação de amarras e limites, como também a quebra do estigma de que eles precisam ser inócuos. O Batman de Nolan não vai te deixar sair dele do mesmo jeito que você entrou, e não é só um bom filme sobre um justiceiro de capa e máscara. Vai te tocar, te fazer pensar e talvez até te fazer perceber algumas coisas que você não percebia no mundo ao seu redor. É cinema de primeira linha.

***** (5/5)

Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge (The Dark Knight Rises, EUA/UK, 2012)
Direção: Christopher Nolan.
Roteiro: Jonathan Nolan, Christopher Nolan.
Elenco: Christian Bale, Gary Oldman, Tom Hardy, Joseph Gordon-Levitt, Anne Hathaway, Marion Cotillard, Morgan Freeman, Michael Caine.
165 minutos.

In Memoriam: Tony Scott (21/06/1944-19/08/2012)

1 comentários:

Anônimo disse...

Fazia tempo que não via um filme tão bom... Tive que comentar nesse Caio! Uma das provas da qualidade do filme é o silêncio na sala de cinema quando o filme acabou. Ninguém tinha nada pra dizer!
Incrível mesmo.

Beijão,
Clara.