Não é difícil perder a cabeça em Hollywood. Na terra em que todo mundo (ou quase todo mundo) está procurando por algum motivo para acabar com sua carreira, é quase presença garantida, no histórico dos grandes astros e estrelas, pelo menos um surto psicótico ou disputa polêmica. Na maioria das vezes, em se tratando de atores ou diretores, a briga é com os executivos. E ninguém está imune, ninguém mesmo. Veja Charlie Sheen, por exemplo. No alto de seus quarenta e poucos anos, o ator que marcou na memória de uma geração de jovens ambiciosos como o pupilo de Michael Douglas em Wall Street, de Oliver Stone (argumentadamente o melhor papel de toda sua carreira até hoje) atravessava, muitos ousavam dizer, seu melhor momento. Até alguns meses atrás. Mas vamos por partes.
Praticamente dono do maior hit televisivo cômico do nosso século (a engraçadíssima Two and a Half Men), desde o final dos anos 1990 que a conduta pessoal do nova-iorquino nascido Carlos Estevez passava por sérios questionamentos. Internações e overdoses, divórcios litigiosos e prisões por assalto (do qual ele admitiu culpa anos mais tarde), tudo culminou com o surto psicótico de Sheen no dia 24 de Fevereiro último. Convidado do programa de rádio de Alex Jones nessa data, o ator, que havia acabado de passar por mais um “programa de reabilitação” dentro de sua própria casa, o que provocara um hiato na gravação do programa da Warner, destilou veneno para o criador da série, Chuck Lorre, responsável, além de Two and a Half Men, pelo igualmente bem-sucedido The Big Bang Theory. Quatro dias depois, a Warner oficialmente declarou que Sheen era persona-non-grata nas dependências do estúdio. A resposta de Sheen: ir em rede nacional pedir por um aumento de 50% por seu salário na série, criar um Twitter que se tornou recordista do Guiness Book (escalada mais rápida a 1 milhão de followers) e ainda convencer meio mundo que o que ele estava fazendo era vencer (colocando #winning nos TTsWorldwide).
Ufa. Esclarecida toda a história, avancemos as conclusões, e ao que me guiou mais certamente a escrever esse artigo: em seu blog no site do Huffington Post, o colega de profissão e geração Alec Baldwin, outro que encontrou na TV, mais especificamente na fabulosa série 30 Rock, um porto-seguro para uma carreira que não andava tão brilhante, esclareceu bem para seus leitores (e para Sheen, que parece ter se esquecido) como as coisas funcionam em Hollywood. A verdade é que os insultos do ator foram apenas a gota d’água para a Warner, e tudo o que os estúdios que tem um astro problemático mas de alguma forma bem-sucedido nas mãos estão sempre esperando, é uma gota d’água. Para eles, é muito mais fácil ter um bom-moço que ganhe dinheiro para eles do que um bad boy que o público adore de alguma forma. E Sheen tomou o passo errado, na hora errada. A Warner simplesmente tomou a decisão que estava esperando para tomar a um bom tempo e disse: “Ok, Charlie, você nos deu um grande hit. Mas nenhum ator é maior que sua série. Chega”.
Como Baldwin, cuja única disputa notável com os estúdios foi mais um puxão de tapete que um executivo da Paramount o deu quanto as seqüências do sucesso Caçada ao Outubro Vermelho, do começo dos anos 1990, esclareceu em sua coluna: “Você não pode ganhar”. Não quando os estúdios querem o astro “viciado em drogas, namorado de uma atriz pornô” fora de suas fileiras de uma vez por todas. E Alec está certo, como ele quase sempre costuma estar. Nos últimos dias, Sheen anunciou no Twitter que vai sair em turnê pelos Estados Unidos com um show de stand-up intitulado (em tradução livre) “Meu Torpedo de Verdade/Derrota Não é Uma Opção”, enquanto a Warner já sonda Rob Lowe, recentemente visto como regular em Brothers & Sisters, para assumir o papel de Charlie Harper em Two and a Half Men. Pode ser que a sensação do Twitter garanta ao ator Charlie uma boa dose de fogo nessa turnê, mas manias da Internet, como o tempo nos ensinou, passam no final das contas, e o personagem Charlie vai acabar vencendo.
Afinal, nenhum ator é maior que seu show. E isso, meu caro Charlie Sheen, com certeza não é a melhor definição de vencer.
“Fique sóbrio, Charlie. E volte para a TV, se não é tarde demais ainda. Estamos todos na América. Você realmente quer irritar Chuck, a Warner e a CBS? Implore por perdão para a América. Eles vão te dar esse perdão. Você é um grande astro da televisão. E você tem o sucesso. Como eu aprendi observando de perto Tony Bennett para imitá-lo no Saturday Night Live, isso foi feito para ser divertido”
(Alec Baldwin em sua coluna “Dois Homens e Meio é Melhor que Nenhum”)
3 comentários:
Cara, eu to com nojo da cara do Charlie Sheen. NOJO!
Um cara que ganha R$ 3 milhões por episódio, que tem seu trabalho reconhecido por tanta gente e que vive uma vida que poucos podem viver joga isso no lixo?
Olha quanta gente na miséria, gente que tem mais talento do que ele, e que não consegue ganhar isso em 10 vidas! Acho que ele deveria ser grato por tudo que tem, não entendo porque os ricos e famosos tem essa atração pelo escândalo, pela infantilidade.
Ele vai continuar rico sim, mas um rico sem valores, um miserável que pisou nos caras que deram uma chance (várias na verdade) e que aturaram suas crises de estrela por anos.
Ele desrespeitou não só a Warner e o CHuck, mas todo elenco, que perdeu um bom emprego... Imagina vc trabalhar em uma série de sucesso e isso acabar de repetne pq o ator principal resolveu ser infantil?
Também me irrita os aplausos que ele recebe a cada besteira que faz. Isso só comprova o quanto a sociedade está superficial e sem valores. Acham engraçado um cara se auto-destruir desse jeito! Ninguém pensa nas pessoas que ele está magoando, só querem ter algo pra rir e fazer piada. Esses milhões de seguidores que ele conseguiu só deram razão para um lunático, incentivaram a babaquice dele.
Desculpa o pós-post!
Gostei muito do teu blog, passei um selo pra ti, do projeto
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Ótimo post! Eu só tinha entrado em contato com a polêmica por um videocast americano de "Celebrity Meltdowns". Lendo vc tudo parece menos engraçado que irresponsável.
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