1xo – Price Tag
Nenhum passo melhor para começar a conhecer a mais nova sensação inglesa do que o single que a elevou a posição de popstar-revelação do ano até agora. E a verdade é que, em uma análise mais detalhada, a canção que abre o Who You Are é mesmo, até agora, a que define Jessie como uma artista pop de verdade. Primeiro, porque tem aquela qualidade única das obras pop realmente bem-pensadas e estruturadas: a de evoluir na percepção do ouvinte/espectador a cada nova camada adicionada a sua interpretação. A primeira vista, é uma canção alto-astral sobre se livrar do consumismo desenfreado e fazer da música uma arte de novo. Por outro lado, o clipe nos coloca num contexto mais, digamos assim, interessante. Pode ser sobre a perda de inocência, ou sobre como, hoje em dia, somos desde cedo na infância acostumados a medir tudo pelo preço. Às vezes, sobre as duas coisas. É a complexidade discreta de uma obra pop por excelência.
1x1 - #heartbeats
Tudo bem, podem começar a me xingar. Mas certas coisas simplesmente não descem pela minha garganta. Uma delas, recentemente, foi a página do Twitter de Jessie, ainda nem verificado, mas com toda a pinta de autêntico, no qual a cantora já cunhou uma expressão carinhosa para se referir a seus fãs. São os #heartbeats (“batimentos cardíacos”, em tradução que empobrece muito a expressão). A expressão está contando como ponta contra Jessie não pela sua existência, mas pelo tempo em que foi cunhada. Faz um par de meses desde que o nome da cantora surgiu no mainstream. É possível que ela tenha uma base de fãs tão característica e dedicada a ponto de merecerem um nome? Eu posso entender uma artista nova querer se aproximar de seus fãs, como Gaga, aliás, fez no começo de sua carreira. Mas alguém se lembra quanto tempo demorou para surgir a expressão “little monsters”? É difícil acreditar que uma artista de personalidade ainda tão difusa possa ter fãs tão característicos. E soa forçado esse apelido precoce.
2x1 – A safra de novas cantoras britânicas
Jessie não é a primeira cantora de técnica a surgir da Inglaterra nos últimos tempos. A bem da verdade, a raridade tem sido a ascenção de uma estrela americana que una sucesso, credibilidade e talento como as britânicas. Não falo da “geração soul” de Amy Winehouse, mas de um grupo de mulheres fantásticas que, de 2009 para cá, tem tomado espaço notável na música pop. A começar pelo furacão de drama e interpretação chamado Paloma Faith. O estilo é de enganar: a primeira vista, com o timbre que tem, Paloma parece alvo fácil para comparações com Amy e suas companheiras de safra (Duffy sendo a mais notável). Mas a verdade é que Paloma tem se mostrado muito mais artista pop do que era de se esperar. A mistura de estilos, o ato dramático, as apresentações bombásticas, tudo aponta para uma Lady Gaga cheia de fleuma britânica. Depois, há Adele, cuja técnica é inquestionável, e cujo hit “Chasing Pavements”, do 19, abriu caminho para o elogiadíssimo 21, seu segundo álbum. Jessie é mais uma adição notável a essa safra promissora.
2x2 – A safra de novas cantoras britânicas
Não, você não leu errado. O segundo ponto contra Jessie é exatamente o mesmo que o segundo ponto a seu favor. Mas calma, eu explico. Assim como Adele, o que tem afastado uma parte do público mais seletivo de Jessie é a atitude, digamos assim, um pouco confiante demais. Para não dizer “de puro nariz em pé”, na verdade. Mesmo no Who You Are, o excesso de gracejos vocais é algo que incomoda em algumas faixas, especialmente no show-off ao vivo que é “Big White Room”. Aparentemente, Jessie adotou para si como trademark um tipo de vocal picotado e crescente, que ela realiza em vários versos dessa e de outras músicas no decorrer do álbum de estreia. Para uma artista que ainda quer se apresentar a um público, é um pouco demais de pretensão terminar um show-off ligeiramente irritante (ainda que certamente ela tenha técnica para realizá-lo) com um “é a história acontecendo na sua frente, senhoras e senhores”. É o tipo de atitude excessiva que conta pontos contra qualquer artista.
3x2 – Who You Are
Sim, há algumas coisas para não se gostar em Jessie J. Mas fatos são fatos. E quando surge uma artista excepcional vocalmente e bastante promissora no campo da experimentação pop, não é possível simplesmente ignorar. Além de “Price Tag”, talvez o grande motivo para realmente prestar atenção em Jessie, o álbum de estreia ainda guarda algumas surpresas. A começar pela faixa título, uma pérola semi-acústica e uma versão melhorada da mensagem e da sonoridade de hits recentes como a por vezes irritante “Firework”, de Katy Perry. Se Jessie ainda se perde em alguns momentos (“Abracadabra”, me perdoem a repetição de referência, é Katy demais para o meu gosto), o que ouvimos e percebemos aqui é uma artista que vale a pena se observar. Talvez o maior potencial-hit do álbum ainda não lançado em single, “Nobody’s Perfect” mostra um lado mais R&B de Jessie, enquanto a já vazada “Casualty of Love” demonstra a habilidade de trovadora indie da cantora. Até a famigerada “Do It Like a Dude”, no contexto mais hip hop de algumas faixas, funciona bem. Tudo isso, essa salada de referência, sem perder de vista a imagem essencial de popstar e, mais importante, de artista pop que Jessie vendeu a seus amados “heartbeats”.
Enfim, é um trabalho louvável, com seus tropeços e contras. Mas, como ela mesma canta, ninguém é perfeito. E aqui está mais uma artista de potencial excepcional para ser aceita, não importa quantos tropeços ela dê pelo caminho.
P.S.: O post acima não tem a intenção de incitar o ódio por artista algum. Trata-se apenas de uma relação de pontos negativos e positivos relacionados a artista em questão, de acordo com a opinião desse humilde apreciador de música. Radicalismo é para os fracos.
“Don’t loose who you are, in the blur of the stars/ Seeing is deceiving, dreaming is believing/ It’s okay not to be okay.
Sometimes it’s hard to follow your heart/ But tears don’t mean you’re loosing/ Everybody’s bruising/ There’s nothing wrong with who you are”
(Jessie J em “Who You Are”)
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