1 de out. de 2010

Voltaire, Felipe Neto, Diogo Mainardi e a liberdade de expressão

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“Não concordo com uma palavra do que dizes, mas defenderei até a morte o direito que tens de dizê-las”

A frase democrática é atribuída ao filósofo francês Voltaire, talvez o mais interessante dos Iluministas parisienses a ser olhado sobre a ótica do nosso século XXI. Era defensor implacável dos direitos civis e da liberdade de religião e comércio, um artista polivalente com peças, poesias, novelas e ensaios publicados aos borbotões. O que tudo isso nos diz hoje, na era da Internet e dos 140 caracteres do Twitter? Que eu não me passe por pseudo-intelectual por aqui, aliás: Voltaire é apenas uma referência antiga que gravou na minha memória por algum motivo obscuro e que me serve bem para o que pretendo dizer por aqui. Pois bem, contemos uma historinha nesse ponto, então, para elucidar como tudo isso acabou surgindo na minha mente.

Viajando nos mesmos 140 caracteres do Twitter citados anteriormente (a propósito, sigam-me no @caiocoletti), me deparei com uma pequena lição de moral disparada pelo @felipeneto a alguns internautas truculentos que haviam comentado em um de seus vídeos que não faz parte do hoje famoso canal “Não Faz Sentido”, onde ele interpreta um personagem nervosinho que, apesar de fazê-lo de forma mal-educada (e divertida a beça, diga-se de passagem), diz muitas verdades e, no final das contas, representa uma opinião que deve ser respeitada. Quem não conhece o trabalho dele, precisa conhecer: além de engraçado e ator competente, o conteúdo de seus vídeos é muitas vezes inteligente e desafiador para quem consegue encarar a própria consciência depois.

O vídeo em questão, no entanto, é esse, e posso confessar por aqui que não me dei ao trabalho de vê-lo até agora. Mas acontece que, por mais absurdo que pudesse ser o conteúdo de mais essa pérola (e posso ter segurança em dizer, pelo que conheço do trabalho dele, que não deve ser nada tão extremado), nada justifica os comentários ignorantes que Felipe recebeu e continua recebendo em outras investidas suas na rede. Onde foi parar o respeito a opinião alheia, ao raciocínio desenvolvido e a visão de mundo do terceiro em um mundo onde, mais do que nunca, nossa interação com ways of life diferentes do nosso é forçada e empurrada pelo meio de comunicação absurdamente eficiente que é a Internet?

Ainda por esses dias, lendo uma matéria de uma VEJA meio antiga, que achei jogada pelos cantos, me deparei com a coluna do Diogo Mainardi, dizendo que no mundo da Internet muitas vozes falavam ao mesmo tempo, e nenhuma delas tinha real relevância. Fiquei me perguntando, apesar da estranha admiração que nutro pela forma intrincada de sua escrita: em que mundo esse homem vive? Enquanto ele pregava que a televisão era seu “Soma”, seu sedativo, eu me perguntava o quão certos estamos em tentar nos fazer ouvir em um espaço democrático por excelência, que deveria ser a Internet. Com ela, somos todos convidados a conhecer e saber do mundo que nos cerca. É impressão minha, ou o Sr. Mainardi, justo ele, está pregando que fiquemos impassivos, sem ação, diante de tudo isso?

A tendência a desqualificar a crescente junção de vozes surgidas da Internet nada mais é que uma forma de reprimir uma democracia cada vez mais plena de estilos, formas de vida, visões de mundo e opiniões. É nosso dever, o da geração-virtual que criou tudo isso do nada (porque da geração anterior só legamos os equipamentos – os meios – e não as ideias – os fins), mostrar que o que queremos, cada vez mais, é conhecer e respeitar tudo o que está a nossa volta, gostemos ou não. Gosto não se discute, diz a sabedoria popular, como disse Voltaire, implicitamente, naquela frase. Mas liberdade, por essa não só se debate, mas também se luta.

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Alguém aí vai votar no Tiririca? Se for me passa o telefone da sua mãe, por favor, preciso conversar com ela. Não é uma piada, é para mostrar que quem vai votar no Tiririca é um imbecil que não recebeu educação decente. Quando você votar no Tiririca, você vai estar votando em todos os outros do partido dele, isso é uma jogada, será que vocês não estudam? Enfim, é isso. Nada contra o artista Tiririca, que já me fez gargalhar muito, mas política não deveria ser palhaçada, é o nosso país. Fim.”

(Felipe Neto, em mais um ataque de verdades dolorosas, no Twitter)

4 comentários:

Rubens Rodrigues disse...

O Felipe Neto (personagem) é confundido com um formador de opinião. Por mais que ele fale que o cara do Não Faz Sentido é um personagem, as pessoas não entendem. Ele é a maior prova de que os jovens ainda não sabem respeitar a opinião alheia.

Já que você citou uma das pérolas do Mainardi, lembrei agora do artigo Dilma 1,99 Rousseff. No artigo, ele destaca que Dilma faliu como comerciante, e que se não conseguiu cuidar nem de uma loja de 1,99, ela levaria o país para o ralo. Na verdade eu achei uma observação muito grotesca (não que eu seja a favor dela, pois não sou mesmo), tanta coisa a falar dela e ele falou isso.

Byers disse...

Cara, muito bom o post! Ainda mais o print das tuitadas do Felipe Neto.

Bem se ele é personagem cara, carece ver ai o que a galera entende por gente antes não é mesmo?

Incorporações à parte, ele repreenta bem e dá para um bom ator! kkk

abçs.

Fabio Christofoli disse...

Eu tenho nojo do Diogo Mainardi. É um sentimento horrível de se ter, mas eu tenho. Antes de mais nada ele é um hipócrita e eu detesto hipocrisia. Ele critica muito o governo Lula por esporte, não por lutar por um país melhor. Ele nem morar aqui. Ele reclama de uma cosia que ele não vive.
O Felipe Neto pode ser considerado um gênio. Tem seus defeitos, mas quem não tem? Ele trouxe inteligência ao discurso jovem, criticando o próprio jovem. Acredito que em um grupo de 10 jovens, pelo menos 1 vai pensar mais racionalmente depois de ver os vídeos dele. Antes de mais nada ele trouxe argumentação e instituiu o debate inteligente. Critica, mas deixa claro que não é dono da verdade.

Anônimo disse...

Se você ler mais colunas do Mainardi, daquela época, talvez conseguirá perceber a quantidade de humor que há nelas. Vocês sempre devem lembrar que o Mainardi é um romancista "nato". Antes de ser o famoso articulista da Veja ele viveu de ler centenas de livros (sob a tutela do grande Ivan Lessa) e depois passou a escrever romances também.

Essa coisa do Mainardi de generalizar, de colocar "todo mundo no mesmo saco", é questão de estilo. Se ele dissesse "olha, há coisa boa e coisa ruim na internet" ele diria o óbvio, o que todos dizem.

É muita ingenuidade achar que o Diogo Mainardi incorreria num erro desse, que qualquer adolescente consegue perceber. Por exemplo, quando eu era mais novo eu achava ele mau escritor porque só escrevia frases curtas, rápidas, pontuadas. Sem retórica, digamos assim. Só mais tarde que fui perceber que é o estilo dele. Aquilo é o sarcasmo e humor dele em ação.

Sei que deve estar discordando, mas, se queres conhecer melhor o escritor, leia a coluna dele na Veja, chamada "Que matéria". É engrassadíssima. Perceba o humor dela, a humilhação ácida e bem humorada que ele faz a um "adversário" dele. Se você perceber o bom humor, já será um início. Eis o link: http://veja.abril.com.br/261207/mainardi.shtml