13 de out. de 2010

Kris Allen – O Idol na mira das paradas contemporâneas

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*** (3,5/5)

Um fato: os americanos amam country music. Se o nosso pop rock é o das letras simples, balanços soul e baladas açucaradas com vocação para auto-ajuda, lá quem manda para definir o quanto de cultura pop há num som levado por guitarras é a influência do country. Assim, o que aqui embaixo soa como alternativo adulto (leia-se Train, The Script e Lady Antebellum) e raramente ganha impulsão comerical, por lá é simplesmente pop rock. É nesse nicho, por quase todo o disco, que o vencedor da oitava edição do American Idol (fonte de inspiração para o nosso Ídolos), Kris Allen, tenta se encaixar. O faz compondo baladas açucaradas também, misturando batidas levadas por guitarras acústicas e toques de piano, mas sem nunca deixar de fora a queda que os americanos ainda tem pelo country inusitado, de batidas quebradas e intervenções inesperadas, que ganhou nova exposição com o hit “Hey, Soul Sister”, do Train, referência direta para Alright With Me (Faixa 10). Enfim, Allen atira para todos os lados, e arrisca assim não acertar todos os alvos.

Raramente Allen empunha uma guitarra mais pesada, e quando o faz é para nos dar duas das mais interessantes faixas desse disco. Tanto Can’t Stay Way (Faixa 3), cujos créditos ele divide com dois nomes de peso entre os compositores americanos modernos, quanto Red Guitar (Faixa 7), sua única composição-solo no setlist do álbum, saem vitoriosas de uma mistura bem-pensada. No suíngue da primeira os mais atentos captarão influências do pop urbano do Maroon 5, mas não por muito tempo: a voz de Allen é poderosa o bastante para colocar a canção num contexto todo seu. Já a produção inflamada da primeira não apaga a interpretação mais pessoal do Idol nessa estreia, muito menos a letra esquenta-corações que não ousa, mas toca fundo o ouvinte.

A falta de ousadia, aliás, é o grande problema do álbum, como tem sido com quase todas os debuts dos vencedores do programa. Bring it Back (Faixa 6) é provavelmente o exemplo mais claro disso, uma balada romântica sem punch ou diferencial nenhum, que coloca um piano melódico para trabalhar mas sofre com uma interpretação artificial de Allen e acaba caindo no erro de ser rasa musical e liricamente. Por outro lado, quando resolve ser pop, Allen nos presenteira com Written All Over My Face (Faixa 5), uma mistura interessante e inusitada de instrumental sutil e eficiente e letra estruturada com esmero de quem sabe fazer um hit certeiro. A ponte para o refrão é algo que Katy Perry faria com um pé nas costas, enquanto o próprio refrão combina de forma estranha com a voz de Allen, em melhor forma do que nunca.

Outra canção que soa familiar é Is it Over (Faixa 8), que os mais ardorosos deve identificar nos primeiros acordes como uma colagem bem-feita das baladas glam do repertório menos votado de Lady Gaga. Mas há muito do folk de James Morrison na canção também, ainda que Allen escape fácil do formulaico com uma interpretação sensacional e a demonstração definitiva que não é preciso abdicar de uma produção sofisticada para soar visceral e empolgante como em um show ao vivo. The Truth (Faixa 4), composta e produzida pelo staff do Train, mostra uma pegada mais forte para as baladas de Allen, aproximando sutilmente seu som do rock de arena sem deixar de lado a sutileza de uma passagem da guitarra para o piano como instrumento que impulsiona a canção. Ainda assim, continua sendo uma experiência burocrática, como Let it Rain (Faixa 9) e a própria Live Like We’re Dying (Faixa 1), primeiro single do álbum e cover da banda The Script.

Para redimir-se dos pecados, o álbum fecha com uma dupla e tanto: I Need to Know (Faixa 12) é a balada mais corajosa e autêntica de Allen, dono de interpretação emocionada e emocionante. Aqui, o instrumental é quase todo baseado no piano-e-voz, e quando sai desse esquema é para os toques sutis de um violão ou a bela intervenção de cordas perto do final. É material pungente e tocante de verdade, independente de gêneros e rótulos. E arrisca ser a melhor faixa do álbum, se não fosse o viciante cover de Heartless (Faixa 13), de Kanye West, que Allen leva a um novo nível como cantor mais competente e músico inteligente. A produção é criativa e empolgante, e não ficam dúvidas que a versão nasceu para ser clássica. Uma pena que deixa um pouco da previsível lamentação: “Bem que o álbum todo podia ter sido assim…”. Na próxima, quem sabe.

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“…I won’t stop, won’t mess my groove up/ ‘Cause I already know show this thing go/ You run and tell your friends that you’re leaving me/ They say that they don’t see what you see in me/ You wait a couple months than you go see/ You’ll never find nobody better than me…

In the night I heart them tell/ Coldest stroty ever told/ Somewhere far along this road he lost his soul/ To a woman so heartless/ How could you be so heartless?” 

(Kris Allen em “Heartless”, de Kanye West)

1 comentários:

Rubens Rodrigues disse...

Assisti o American Idol que o Kris Allen participou e realmente pensei que o Adam Lambert venceria.

Eu nunca ouvi nada do KA pós Idol. Talvez porque eu não tenho muita curiosidade pela country music, talvez porque não houve curiosidade mesmo.

Sobre ele fazer cover de uma música famosa de outro estilo, isso é mais comum do que parece. O We Are The Fallen (metal), por exemplo, já fez cover da Madonna e o Chris Cornell, do Michael Jackson. No final, ficaram todas interessantes com uma nova roupagem.