4 de out. de 2010

Dez momentos inesquecíveis do cinema (parte 1)

especial cinema (nunk excl) lista 01

Tanto na fase final do Filme-Pipoca quanto no começo desse nosso Anagrama, eu tentei engatar uma série de listas que selecionassem alguns dos meus preferidos quando o assunto era cinema. Eram as “listas da década”, feitas sob o pretexto do primeiro decênio desse século estar chegando ao final. Talvez o problema delas tenha sido mesmo a ambição. Ao começar essa nova seção de listas com a, de alguma forma, grandiosa pretensão de selecionar dez momentos inesquecíveis do cinema, não pretendo compilar o que há de melhor na sétima arte de todos os tempos, senão meramente demonstrar um pouco da minha forma de ver, receber e analisar o cinema. São dez cenas, seqüências, diálogos ou registros que fazem parte da minha memória afetiva e racional em relação ao cinema, e que de alguma forma acrescentaram alguma coisa na visão rica dessa forma de arte ainda mais complexa. Críticas, sugestões, exclusões, novas listas: tudo é bem-vindo. Mas a primeira parte da minha seleção, de uma forma ou de outra, é essa.

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10º Lugar – O Grande Truque [2006] - “Watch closely…”

Duas palavras. É do que Christian Bale, o Alfred Borden de O Grande Truque, precisa para disparar um gatilho de choque, revelações e pura genialidade de roteiro. A trama labiríntica apresentada por Christopher Nolan se revela aos poucos no clímax do filme de mágicos do diretor, que não se furta de sua fumaça e espelhos para revelar tanto o segredo de Borden quanto a grande, genial e trágica sacada de seu nêmesis, feito por Hugh Jackman. Ambas as revelações são cozinhas devagar para o espectador durante todo o filme, e explodem com pressão inesperada em uma sequência perfeita que engana direitinho qualquer um, e deixa com um sorriso no rosto qualquer apreciador de bom cinema.

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9º Lugar – J.C.V.D. [2008] - “Eu sei que é difícil para vocês não me julgarem…”

Pois é, não deveria ser. Julgar é o ato mais hediondo que um ser humano pode cometer, ainda mais contra alguém que, de crimes, está livre há muito tempo. Submetido a um mundo de pressão e muito dinheiro, Jean-Claude Van Damme errou, ele não nega em nenhum momento, envelheceu, ele não deixa de admitir a cada frame de J.C.V.D., mas também amadureceu e se tornou um ator de verdade. E um ser humano que não merece todos os altos e baixos que imprensa e fãs, egoístas e inescrupulosos, deram e dão a ele. Tudo isso transparece no que pode ser o monólogo mais tocante, pungente e bem-atuado da nossa década, uma explosão de sinceridade que atinge em cheio a nossa própria hipocrisia.

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8º Lugar – Equilibrium [2002] – Ouça a música…

Em um mundo sem emoção, para quê vivemos? É a pergunta incômoda que nos faz Equilibrium, a obra genial e ignorada por ser “uma cópia de Matrix”, de Kurt Wimmer. A bem da verdade, Matrix não é nada perto da história de John Preston (Christian Bale), policial de um futuro distópico que repreeende aqueles que demonstam emoções em público, ao mesmo tempo em que para de tomar os remédios que o garantem a condição de frieza e calculismo. É no meio desse comovente processo de humanização que ele entra em contato, quase sem querer, com a música clássica. Sua reação é tudo o que sentimos e não sentimos quando uma obra de arte nos comove. Bale segura as pontas com louvor, e nós (inevitavelmente) nos emocionamos com ele.

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7º lugar – Filadélfia [1993] - “Eu sou o amor!”

Andrew Beckett (Tom Hanks) é um jovem profissional, demitido de sua firma preconceituosa ao descobrir ser portador de HIV, que se junta ao advogado homofóbo feito por Denzel Washington para processar a tal firma. Até aí, nada demais, mas a condição de Andrew piora constantemente e, mesmo que o filme de Jonathan Demme “sanitarize” essa condição para o bem de um público maior, é no momento em que ele declama um trecho de ópera para o já amigo advogado que percebemos o quanto a condição humana daquele personagem é tão ou mais completa do que a nossa. Nós sentimos por ele e, mais adiante, comemoraremos com ele. Tom Hanks se mostra, em todos os sentidos, superlativo. A altura de seu personagem, diga-se de passagem.

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6º lugar – O Suspeito da Rua Arlington [1999] – Sermão no jardim

O inimigo pode estar mais perto do que você imagina: até no seu próprio jardim, se você não se cuidar. O Suspeito da Rua Arlington é um filme ardiloso ao acender a paranóia na mente de cada espectador e do protagonista Jeff Bridges, que suspeita que seu novo vizinho, Oliver Lang (Tim Robbins), possa ser um terrorista. Colocar em pratos limpos, sem revelar absolutamente nada, é o que o personagem de Robbins faz durante uma discussão quase banal com seu nêmesis, em pleno jardim da casa de Bridges. Apático como está no filme, o protagonista leva uma surra, ficcional e criticamente, de Robbins, numa aula de atuação e ameaça que fica na memória por muito tempo.

Continua no próximo post…

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Essa é minha aria favorita. É Maria Callas. ‘Andrea Chenier’. Ela é Madeleine. Ela está dizendo como durante a Revolução Francesa uma multidão colocou fogo em sua casa e sua mãe morreu… para salvá-la. ‘Veja, o lugar que me criou está queimando’. Você pode ouvir a dor na voz dela? Você pode sentir, Joe? Então vêm as cordas, e elas mudam tudo. A música se enche de esperança, e isso vai mudar de novo. Escute… escute… ‘Eu trago sofrimento a quem me ama’. Ah, aquele violoncelo! ‘Foi durante esse sofrimento que o amor veio até mim’. Uma voz tão cheia de harmonia. Ela diz, ‘Ainda viva, eu sou a vida. O paraíso está nos seus olhos. Tudo ao seu redor é só o sangue e a lama? Eu sou o divino. Eu sou o esquecimento. Eu sou o Deus… que vem dos céus, e faz da Terra um Paraíso. Eu sou o amor! Eu sou o amor!’”

(Tom Hanks em “Filadélfia”)

2 comentários:

Renan Barreto disse...

Caio, mil perdões pelo longo hiato sem comentar no Anagrama. Adoro os seus textos. Sempre tão inteligentes e corretos, com uma gramática beirando a perfeição. Eu tô com falta de tempo. Tenho que fazer muitas matérias todos os dias. É TV, rádio, internet, impresso. Além dos meus livros. Tô ficando cada vez com menos tempo para o blog. Mas vou ver se consigo postar novamente e com mais velocidade.

Bem, sobre o início dessa lista, o que eu mais quero ver é Equilibrium. Lembro de você comentando sobre esse filme há séculos e até hoje não vi. Tô muito curioso sobre ele. Gosto do Bale, acho um bom ator... e O que me surpreendeu foi o Van Damme! Só gostei de um filme dele até hoje que era o "Dragão Branco" ou algo assim. É bem sessão da tarde rsrs

Eu nem posso comentar muito sobre os demais filmes porque realmente desconheço tudo deles, desde roteiro a atores. Só o que sei é o que você mostrou no texto.

Grande abraço!!!

bones disse...

Oi Caio !!!!!!
Adoro listas.
olha que demorei para ver o grande truque mas valeu a pena.
Interessantes as cenas que vc escolheu, só no suspeito da rua arlington que vou discordar, neste filme a cena inicial é que ficou inesquecível para mim.a mão do menino....
abraços cirança, espero a continuação.