30 de mar. de 2010

Chinese Democracy (2008)

álbuns (nunk excl)chinese democracy 1

**** (4/5)

“Parece a eternidade e mais um dia/ Se minhas intenções forem mal-entendidas/ Por favor, seja bondoso/ Eu fiz tudo o que podia/ E não vou perguntar a você o que não devo fazer”. Assim, em cinco versos simples de Prostitute, Axl Rose tenta pedir desculpas e ainda sair por cima de toda a confusão que Chinese Democracy suscitou desde o começo de sua concepção, dezessete anos atrás, até hoje. Passando por numerosos adiamentos e polêmicas trocas na banda que se mantinha intacta desde a estréia, o tempestuoso e genial Appetite for Destruction, acabou que apenas o vocalista/pianista, mais o tecladista Dizzy Reed, sobreviveram a limpa que o “conceito” do álbum motivou. Diante de tudo o que aconteceu, é mais do que compreensível pensar que Chinese Democracy é menos do que se esperava. Prova do talento de Axl e companhia é que, mesmo assim sendo, Chinese ainda pode ser o melhor disco do ano.

O Guns N’ Roses do século XXI ainda é a mesma banda rocker dos anos 1980, mas acrescenta toques mais épicos a seu som, com arranjos rocambolescos e letras amarguradas entre baladas e canções mais pesadas, para encontrar o equilíbrio em canções medidas e aperfeiçoadas quase a beira da obsessão durante esses dezessete anos. Há momentos quase pop, como If The World e I.R.S., há espaço para o protesto na faixa-título e na tocante Madagascar, e ainda sobram faixas onde o Guns volta a energia de sua estréia. Bons exemplos são Scraped e Riad N’ The Bedouins. De uma forma ou de outra, é fato que o Guns do novo século é tão talentoso, instrumentalmente, quanto o Guns de vinte anos atrás.Mas (ainda) não é uma banda.

Os hits:

Chinese Democracy Letra Rose. Música Rose, Finck, Tobias, Stinson, Reed, Constanzo, Cardieux.

Um soco dos mais acertados nos governos totalitários, a canção de título polêmico mostra que o novo Guns não veio só para brincar com texturas e guitarras pesadas: é também uma banda que usa o rock como forma de protesto e desafio, fazendo bom uso  da velha atitude “fuck you” de Axl. Ele mostra-se confortável e desenvolto nos vocais, enquanto Paul Tobias e Robin Finck tomam parte de guitarras pesadas e enérgicas que remetem ao melhor de Appetite.

Bettter Letra Rose. Música Rose, Finck.

Uma canção oscilante em clima e peso, mas que cria essas oscilações com cuidado e elegância, a terceira faixa de Chinese Democracy mostra que Axl e companhia ainda sabem criar hits natos. As guitarras completam-se perfeitamente, Axl parece mais desenvolto com a própria voz em uma letra amargurada, a canção tem peso na medida certa e batida marcante, mostrando que o velho rockstar não perdeu a mão e, mais uma vez, cercou-se de gente talentosa.

Os épicos:

There Was a Time Letra Rose. Música Rose, Tobias, Reed, Stinson.

Cantando a passagem do tempo e clamando que “assim estava predentinado a ser”, Axl expulsa seus demônios com um rock objetivo, e ainda assim grandioso e crescente. Dos sintetizadores de Dizzy Reed a parede de guitarras que Paul Tobias monta para emoldurar o instrumental, tudo funciona em conjunção para um resultado, acima de tudo, impressionante. Axl solta a voz de uma vez por todas, matando as saudades da estridência, e os solos são apoteóticos.

Sorry Letra Rose. Música Rose, Caroll, Mantia, Scaturro.

Pode até ser uma indireta a imprensa que colocou Axl e companhia sobre pressão no decorrer desses dezessete anos (ou não), mas é fato que o vocalista nunca esteve tão versátil, indo da estridência ao melodrama com facilidade. E a canção, para ajudar, ainda é climática, usando-se de guitarras inspiradas para enfeitar, eventualmente, a levada constante ditada pela percussão do talentoso Bryan Mantia. Sombria, épica e surpreendentemente grudenta.

As baladas:

Street of Dreams Letra Rose. Música Rose, Stinson, Reed, Finck, Tobias.

Em ritmo crescente de instrumental e abusando do melodrama natural de sua voz, Axl recebe a ajuda do piano de Dizzy Reed e das guitarras de Paul Tobias para criar uma balada-rock teatral e agridoce como sua letra de lamentação de desilusão. Se é para alguém da ex-banda ou uma simples composição romântica, a interpretação é toda sua. O fato é que a interação entre guitarra e piano é harmoniosa e o resultado é uma canção que deixa um sorriso no rosto.

This I Love Letra Rose. Música Rose.

O que há de tão errado em ser previsível? Com Axl ao piano e sem pressa em mostrar peso ou apoteose, essa penúltima faixa do disco é um prato cheio para os românticos com sua letra deslavadamente trágica e interpretação alguns níveis acima de simplesmente pessoal. Grandiosa sem precisar de muito para o ser e contando com o talento do trilheiro Marco Beltrami em um arranjo de orquestra inspirado, aqui a equação funciona muito bem, obrigado.

As derrapadas:

Shlacker’s Revenge Letra Rose. Música Rose, Caroll, Constanzo, Mantia, Scaturro, Finck.

Feita como se fosse a colagem de pelo menos três canções completamente diferentes, mas igualmente promissoras, acabamos mesmo ficando com uma que sofre graves distúrbios de personalidade. Com versos sombrios, instrumental de púria fúria rocker à la Appetite e um refrão contagiante que remete ao rock dos anos 1980, essa segunda faixa é rápida e rasteira, mas tem viradas de mais para substância de menos.

Catcher in the Rye Letra Rose. Música Rose, Tobias, Finck, Reed, Stinson.

Com a letra em uma estranha e rocambolesca narrativa reflexiva e um ritmo vacilante, Axl não pode fazer muito no vocal, dependendo do talento de Paul Tobias nas guitarras e do tecladista Dizzy Reed (o único remanescente da era Use Your Illusion da banda), que até solo ganha no meio do pretenso épico. Mas a canção carece de coerência e comedimento para fazer jus a própria mensagem. Enfim, tudo está no lugar, mas o todo simplesmente não funciona.

chinese democracy 2

You close your eyes/ As well and good/ I’ll kick your ass like I said that I would/ You tell them stories they rather believe/ Use and confuse them/ They’re dumb and naive/ The truth is the truth hurts, don’t you agree?

It’s harder to live with the truths about you/Than to live with the lies about me”

(Axl Rose em “Sorry”)

3 comentários:

Mateus Souza disse...

Seria melhor se o Chinese Democracy tivesse continuado como uma lenda.

Cinema para Desocupados

Unknown disse...

Olá Caio.
Sou o Alfredo do blog Teia.
Seu blog sempre terá espaço no blog Teia ,porém é preciso nos mandar um aviso quando tiver postagem nova ,cada pedido é igual uma publicação ,logo,postagem nova ,novo pedido.
Esse pedido pode ser feito pelo comentário do blog Teia ,pelo Orkut ou email.
Seu blog novo ficou muito bom e já foi publicado na Teia.
Até mais.

Rubens Rodrigues disse...

A minha música favorita do Chinese Democracy é "If The World". Nunca fui fã de Guns, talvez por isso eu tenha gostado de ITW, que é bem diferente das mais antigas.