5 de abr. de 2010

Intolerância, cultura e… Lady Gaga?

variedades (nunc excl) intolerância 1

Há um imenso absimo separando cultura de intolerância, e todo mundo sabe muito bem disso. O problema é que, no nosso mundo de etiquetas e hipocrisias, nem sempre é a atitude mais “politicamente correta” condenar um ato de pura ignorância como tal. Mas isso, é claro, é só a minha opinião. Ao meu ver, não é porque estamos em uma terra estrangeira que somos obrigados a seguir todas as regras do povo dessa terra, perdermos nossa individualidade e cultura em favor daquela que domina em determinado território. Um americano vai ser sempre um americano, um árabe jamais vai abolir certos costumes próprios de seu povo. É hipocrisia pedir respeito aos “traços culturais” sem respeitar o dos outros.

Mas vamos aos fatos, bem menos escandalosos do que o parágrafo acima pode ter sugerido. Para começar, tivemos hoje mesmo o caso de um casal britânico, Charlotte e Ayman, ambos jovens e bonitos, que foram presos em Dubai por trocar um beijo em um restaurante da cidade, às 2 horas da manhã. A acusação: ato sexual público. E pode demorar até dois meses para o julgamento acontecer, sendo que a pena pode chegar até trinta dias de prisão. A pergunta que fica é: estão mesmo os estrangeiros (não só nos documentos, mas também na cultura) sujeitos a leis como essa, que retratam uma forma de pensamento e julgamento tão diferente daquela com a qual foram criados? Até onde o respeito pelas características culturais de cada indíviduo e povo corre para os dois lados da estrada? Não são perguntas fáceis de se responder.

Claro, esse tipo de escândalo não é exclusividade dos árabes. Esses dias, em território americano, não foi preciso nenhum órgão oficial da lei para causar uma tragédia motivada por razões, assim digamos, picantes. Em uma atitude bizarra de descontrole, o estudante ianque Ryan Burkhart colocou fogo no próprio aparatamento durante uma discussão sobre sexo com sua namorada, na Flórida. A cena mais pitoresca, no entanto, ainda estava por vir: quando os vizinhos chamaram os bombeiros, Ryan saiu correndo do prédio, pelado, para se esconder. Foi preso horas depois e acusado de tentativa de homicídio. Ah, e a bizarrice atravessa fronteiras… e oceanos. Do outro lado do Atlântico, na mesma Inglaterra do casal preso, uma área de 12 hectares com cerca de 6000 árvores no interior do país foi posta abaixo pelo conselho regional municipal de Lancashire. Tudo para evitar que o local se tornasse um motel a céu aberto. Os ambientalistas, é claro, ficaram furiosos.

E para completar a galeria de notícias no mínimo estranhas, falta falar da taiwanesa Yang Yaqing, de 28 anos, que desde Agosto passado está em Paris estudando e, pasmem, roubando beijos de desconhecidos. A meta é simples: atingir uma centena de bejos roubados na cidade-luz. Como não poderia deixar de ser, a “nobre missão” da garota está registrada online, em seu blog (em chinês, é claro, mas nada que a ferramenta de tradução do Google Chrome não resolva). Segundo a própria Yaqing, a ideia lhe surgiu quando, ainda em Taiwan, era julgada como promíscua por “beijar homens demais”. Até este fevereiro, foram nada menos do que 67 beijos roubados, todos postos, com fotos, em seu diário virtual.

Pois é, se até eles tem direito de se rebelar contra as próprias tradições, porque os estrangeiros não teriam? Não adianta ir para outro país, de cultura completamente diferente, e fingir que não é um outsider natural. Só mesmo se for por medo de acabar preso. Ou censurado. Como foi, aliás, o clipe Telephone, mais novo hit da artista pop mais completa da atualidade, Lady Gaga, ao lado de igualmente talentosa Beyoncé Knowles. A MTV americana, que sempre foi tão liberal nas aparências, se recusou a passar o “atrevido” vídeo das cantoras, cheio de cenas, digamos assim, tórridas. Segundo o The Sun, que não é a fonte mais confiável do mundo, a censura se deu, em grande parte, a cena de beijo gay que Gaga protagoniza no início do vídeo, na prisão. Um absurdo, tendo em vista as bizarrices já esperadas da cantora.

Mas, como diria uma estimada política coisa-nossa, é só relaxar e gozar. Porque, se caso você for censurado algum dia, há sempre o espaço inexoravelmente livre da internet. Aqui, eu posso falar, como estou falando (um pouco demais) agora, você pode falar quando bem entender (ainda mais se for para comentar por aqui), Yang Yaqing pode beijar, Gaga e Beyoncé podem cantar. Por mais que alguns não tenham percebido, é inevitável: estamos entrando, de verdade, no século XXI.

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“…Not that I don’t like you/ I’m just at the party/ And I’m sick and tired of my phone r-ringing/ Sometimes I feel like/ I live in Grand Central Station… 

…Tonight I’m taking no calls/ ‘Cause I’ll be dancing…”

(Lady Gaga e Beyoncé em “Telephone”)

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