3 de mar. de 2015

The Americans 3x05: Salang Pass

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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

Grande parte de “Salang Pass” é informada pela memória de seus personagens. Ela aparece quando Phillip e Elizabeth discutem a infância dos filhos no quarto do casal, um cenário que essa terceira temporada está usando com maestria; aparece quando Stan conversa com o patriarca dos Jennings sobre o mistério inescrutável que é a mente de um garoto adolescente; e aparece, mais fundamentalmente, na devastadora cena final do episódio, em que Phillip se deita com a esposa e relembra o treinamento da KGB, mais especificamente a parte em que os agentes eram ensinados a usar o sexo como uma arma de recrutamento. Há formas mais sutis nas quais o episódio trabalha esse elementos, mas é claro que há – essa ainda é The Americans, e “Salang Pass” é mais um pedaço brilhante de narrativa que se recusa a se render ao ritmo acelerado dos grandes hits da televisão americana.

Esse tema da memória se conecta também com a discussão corrente da temporada, que começou em “EST Men” (review) a analisar minuciosamente a forma como os hábitos e a formação de cada um dos personagens fazia deles o que eles eram, e o quanto eles eram capazes de quebrar esses hábitos para perseguir suas paixões e vontades. O mundo vivido pelos Jennings é ditado por uma restrita e difícil disciplina de controle emocional, uma exigência fundamentalmente falha de desumanização desses agentes que foram colocados em uma terra estranha, juntos, para uma missão messiânica de coleta e uso de informações. Phillip e Elizabeth são os salvadores da nação soviética em The Americans, mas são também seres humanos que precisam decidir o quanto da vida que construíram segundo as instruções de seu treinamento é falsa ou verdadeira. A série de Joe Weisberg sempre se preocupou com esse processo, e essa terceira temporada está levando-o para um ponto de quebra que talvez seja irreparável.

Quando a tensão entre o casal protagonista não é evidente, como nas explosões raivosas dos últimos episódios ou na frieza que transparece em várias cenas dos dois aqui, ela é sutilmente comunicada pela dupla de atores excepcional que lidera a série. De tempos em tempos é preciso louvar o trabalho de Keri Russell e Matthew Rhys, porque eles são o centro nervoso de todas as emoções subentendidas, inseguranças e fraquezas desses personagens, e é fundamental que o sejam. Em um episódio como “Salang Pass”, focado na complicada situação de Phillip, lidando com várias mulheres ao mesmo tempo e tentando desenhar os limites entre seu envolvimento pessoal com elas e sua missão (esse tal limite não passa nem perto de ser tão claro quanto o Gabriel de Frank Langella quer fazer parecer em sua cena com Phillip), é crucial que as pequenas rachaduras nesse relacionamento transpareçam para culminarem na intensamente emocional sequencia final.

O diretor Kevin Dowling, que retorna depois do desastre que foi “ARPANET” (review), tem mais oportunidade aqui para mostrar o seu firme comando das cenas mais emocionais, mesmo que o aspecto visual deixe um pouco a desejar. O episódio também compreende Stan em busca uma maneira de ajudar Nina (ausente do episódio), recorrendo até ao rival Oleg, e Keri Russell nos dando as dicas mais delicadas de que Elizabeth pode também estar se envolvendo com sua asset, conforme a coloca exatamente na posição em que os soviéticos a querem. Ao falar sobre memória, portanto, The Americans também fala sobre remorso e sobre empatia, completando um panorama muito completo do que faz cada um de seus personagens humano de forma mais evidente, vulnerável e assustadora.

✰✰✰✰✰ (4,5/5)

Salang

Próximo The Americans: 3x06 – Born Again (04/03)

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