ATENÇÃO: esse review contem spoilers!
por Caio Coletti
Em seus melhores momentos, Person of Interest não é só uma história contundente sobre a forma como vemos o mundo através da tecnologia, sobre as relações humanas e o dilema moral entre controle e controlado, sobre privacidade e sua relação com a psique contemporânea. Em seus melhores momentos, Person of Interest é um retrato incisivo de personagens que passam a vida se escondendo por trás de identidades, comportamentos e atitudes que o mundo em que eles vivem os fornece com a maior facilidade imaginável. Tanto o seu núcleo de protagonistas quanto cada uma das personas que compõem as beiradas da série se identificam como peregrinos, seres humanos cuja vida só permite laços frágeis e temporários com aqueles a sua volta, e cuja vontade é manter inescrutável cada intenção e história mais arraigada que faz deles o que são. Em muitos momentos de Person, só o espectador tem acesso a esses detalhes que fazem toda a diferença (“The Devil’s Share” – review – é o melhor exemplo disso).
“Skip” deve seu título à expressão “skip tracing”, usada pela personagem-da-semana Frankie (Katheryn Winnick, conhecida dos fãs de Vikings) em determinada cena. “Skip tracing” é o nome dado ao ato de rastrear pessoas que por algum motivo escaparam da lei – é o que a caçadora de recompensas Frankie parece estar fazendo com Ray (Ato Essandoh, de Girls), um fugitivo que ela tenta a todo custo capturar para levar à julgamento. A palavra “skip”, portanto, se refere ao fugitivo em si, e há muito mais significância na escolha de título da roteirista Ashley Gable (4x06, “Pretenders” – review) do que parece haver à primeira vista: o que o episódio luta para nos mostrar, em última instância, é o quanto cada um de seus personagens também é, a sua maneira, um fugitivo. Do retorno de Harper Rose, a trapaceira que conhecemos alguns episódios atrás na pele da ótima Annie Ilonzeh, até a fugidia relação entre Mr. Reese e sua psicóloga, tudo em “Skip” serve para mostrar um mundo que condiciona as pessoas a agirem por si próprias muito mais à despeito dos outros do que em prol deles.
Ao mesmo tempo, Person parece como sempre disposta a nos convencer de que todo esse individualismo não passa de uma ilusão. Correndo paralela à trama principal, vemos Mr. Finch e Root levando à cabo o plano que o primeiro começou a engendrar lá em “Pretenders”, quando instalou um vírus dormente no computador de Elizabeth Bridges (Jessica Hecht) a fim de ativá-lo assim que o algoritmo que estava sendo escrito pela doutora fosse transplantado para o Samaritan. Conforme esse dia se aproxima, Person vai nos apresentando às possíveis consequências de um plano tão ousado (visto que a super-máquina inimiga iria detectar em pouco tempo o agente hostil) e, numa construção de tema rocambolesca, transforma tudo em uma discussão complexa sobre auto-sacrifício e a importância dos vínculos que construímos. Conforme vemos Michael Emerson e Amy Acker entregando as atuações espetaculares de sempre numa trama muito mais emocional do que costumamos receber quando a série junta esses dois personagens, Person desenvolve a storyline principal do episódio no sentido de mostrar as motivações verdadeiras por trás do comportamento dos seus “skippers”.
Que a série de Jonathan Nolan e cia. tem um senso de roteiro espetacular não é novidade, mas esse 18º episódio da temporada nos surpreende com a clareza com a qual desenrola os temas mais fundamentais de Person of Interest, raramente desperdiçando diálogos e criando uma propulsão narrativa de causar inveja a outros episódios recentes da série. Conforme Person se aproxima do final do quarto ano, as coisas vão se movendo com mais propósito e mais rapidez, e o trabalho de personagem continua absolutamente no ponto.
✰✰✰✰✰ (4,5/5)
Próximo Person of Interes: 4x19 – Search and Destroy (07/04)
0 comentários:
Postar um comentário