ATENÇÃO: esse review contem spoilers!
por Caio Coletti
Em certo ponto de “Viper”, um velho professor de filosofia da Gotham University respira a super-droga que batiza o episódio e adquire força descomunal, como todos os usuários da substância – ele torce em pedaços o andador de metal que o auxiliava na locomoção e quase estrangula o Detetive Bullock. A quinta entrada da temporada de Gotham, dá pra notar só por essa pequena descrição, é a mais ridiculamente impossível (e obscenamente divertida) até o momento. “Viper” nos lembra que estamos vendo uma série baseada em quadrinhos de super-heróis, e esse não é o mundo ultra-realista de Christopher Nolan. Claro, as decisões narrativas do episódio vão enlouquecer os críticos que insistem que Gotham tem um problema de definição de tom. É preciso embarcar no mundo da série para absorver o conteúdo absolutamente pulp da trama da semana sem perder de vista a engrenagem cuidadosamente azeitada que se move por trás disso – não é uma missão fácil, mas se apreciado da maneira certa, “Viper” é uma experiência e tanto.
Quando a referida nova droga chega às ruas de Gotham, nossos (nem-tão-)estoicos heróis policiais acabam esbarrando com a possibilidade da criação ser fruto dos laboratórios WellZyn, uma subsidiária da própria Wayne Enterprises. O ex-empregado do laboratório interpretado por um ensandecido Daniel London (Nurse Jackie) tem um plano maquiavélico para matar todos os junkies de Gotham ou está empreendendo vingança contra a corporação, que o obrigou a produzir uma arma farmacêutica letal? Ao mesmo tempo, o jovem Bruce Wayne começa a cavar a sujeira dos membros da diretora da empresa dos seus pais, que pode se mostrar tão corrupta quanto todas as instituições da metrópole. “Viper” trata de fechar o círculo em torno dos poucos “homens de bem” de Gotham City, e o clima de opressão que vai levar ao surgimento de uma “solução” tão drástica quanto o Batman já pode ser sentido.
A trama escolhida pelo grupo de roteiristas da série não poderia vir em momento mais oportuno: quebra um pouco com o paradigma que guiou os quatro episódios anteriores; dá um bom motivo para colocar David Mazouz, que interpreta Bruce, em cena – e nada em “Viper” é mais valioso do que as cenas que ele divide com Sean Pertwee, discretamente construindo um Alfred inesquecível; e abre espaço para a roteirista principal, Rebecca Perry Cutter (The Mentalist), produzir um episódio bem-amarrado e divertido que não deixa de mover a trama maior da série adiante.
A cena final do episódio é de tirar o fôlego. Enquanto o chefão do crime Carmine Falcone e a lindíssima Liza, garota contratada por Fish Mooney para seduzir o mafioso, trocam uns poucos diálogos e se sentam em uma escadaria para ouvir uma aria de ópera, a câmera se levanta para focar o horizonte sujo e esfumaçado de Gotham. De forma dramática, mas de um jeito que é mais bom do que ruim, a série da FOX contrapõe amor e corrupção, e mostra que quer ser um saga épica sobre crime e justiça, cinismo e idealismo. Esse tema vive dentro do Jim Gordon de Ben McKenzie, da Fish Mooney de Jada Pinkett Smith, e do Bruce Wayne de David Mazouz – esses são personagens sendo confrontados com o mundo a sua volta, e representando um dilema que, apesar das super-drogas e assassinos do balão, é muito real para quem os assiste.
Observações adicionais:
- “Viper” também trouxe a melhor cena estrelada por Edward Nygma até agora, como se os escritores tivessem ouvido minha reclamação no review anterior. Caminhando pelo precinto de polícia em absoluto caos e observando os efeitos de uma droga desconhecida, Cory Michael Smith coloca no personagem um sorriso de fascínio que diz muito sobre ele. Essa é a gênese de um vilão cuja fonte de prazer não é alcançar seu objetivo, mas assistir a forma com que as pessoas reagem a isso – é aí que está a resolução da charada (me perdoem o trocadilho).
- Quem também provou seu valor para a série no episódio foi David Zayas (Dexter), encarnando a face perigosa do afável e esperto Sal Maroni da série. É mais do que possível ver como esse homem pode ser um adversário formidável para o tradicional (e amolecido) Falcone. Sem contar que, só por dividir quase todas as suas cenas com Robin Lord Taylor (o Pinguim), o moço já sai em vantagem.
✰✰✰✰✰ (4,5/5)
Próximo Gotham: 1x06 – Spirit of the Goat (27/10)
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