ATENÇÃO: esse review contem spoilers!
por Caio Coletti
Uma das grandes virtudes de Person of Interest como thriller policial é que a série sabe como “play the long game”, para usar uma expressão tipicamente americana. A aposta em tramas maiores do que aquelas que se desenvolvem em um único episódio é a linha nem-tão-tênue que divide os bons procedurals daqueles que são simplesmente seguidores de uma fórmula pré-estabelecida. Uma gigantesca parte do apelo da narrativa televisiva nos moldes como a conhecemos no século XXI é a oportunidade de assistir às storylines se desenvolverem com um tempo e uma segmentação diferente de (quase) todas as outras formas de entretenimento. Limitar o arco narrativo a longo prazo ao desenvolvimento e aprofundamento dos personagens é desperdiçar a oportunidade de contar uma história de maneira única, e extremamente envolvente. Person sabe como não cometer esse deslize, e sabe como fazer esses long games trabalharem em favor da premissa e temática da série.
Dar seguimento à história da Brotherhood, uma nova e temida gangue que tem tomado conta das ruas de Nova York, é mais um exemplo de como os roteiristas de Person conseguem puxar cada fio do novelo de lã do universo da série e amarrá-lo em uma continuidade interessante. Apresentados na estreia da temporada, “Panopticon” (review aqui), os criminosos dão pinta de vilões do momento em “Brotherhood”, quarta entrada do novo ano de Person. Eles são os responsáveis pela ameaça a Malcolm (o estreante Amir Mitchell-Townes) e Tracy Booker (Kaci Walfall, Army Wives) dois jovens hospedados em famílias adotivas diferentes quando a mãe é presa por posse ilegal de armas. Tentando contratar um bom advogado para a progenitora, eles acabam roubando o dinheiro de uma transação de drogas planejada pela Brotherhood, e se metendo em previsível encrenca por isso.
Com a ajuda de uma suspeitíssima agente do DEA, Reese tenta proteger as crianças enquanto Shaw procura arrancar de um dos capangas da Brotherhood a localização do chefe da gangue, o misterioso Dominic, para que os irmãos Booker tenham algum objeto de barganha. O roteiro assinado por Denise Thé (3x09, “The Crossing”) é ardiloso ao conduzir essa trama aparentemente previsível até a reviravolta no final, operando por baixo dos panos um verdadeiro retorno à forma de Person na sua habilidade de moldar e preparar histórias que, a série parece garantir ao espectador, chegarão a uma conclusão satisfatória. É essa garantia, esse jogo de expectativa com o espectador, que os outros procedurals se abstém de jogar, e que Person manipula tão bem.
Ajuda também que a filosofia da Brotherhood e do seu insuspeito líder (“We all die in the end”) seja tão determinista e niilista quanto é apropriado para o admirável mundo novo que Person montou para a sua quarta temporada. Enquanto rápidas cenas mostram Finch tentando informar o escorregadio Elias do que mudou na situação dele e de Mr. Reese, somos apresentados a esses temíveis novos vilões, que entendem o destino fatal daqueles que o Samaritan, a máquina egoísta, considera “irrelevantes”, e encaram esse destino de frente, com assustador abandono. Como o último take de “Brotherhood” deixa claro, Person não está disposto a suavizar os contornos dessa atitude para o espectador.
✰✰✰✰✰ (4,5/5)
Próximo Person of Interest: 4x05 – Prophets (21/10)
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