29 de out. de 2014

Gotham 1x06: Spirit of the Goat

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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

“Spirit of the Goat” é o episódio mais dramaticamente estourado de Gotham até o momento. A encenação comandada pelo diretor T.J. Scott (Orphan Black) conspira com o roteiro de Ben Edlund (Supernatural) para criar 45 minutos de televisão em que o jogo está constantemente virando, o cenário e a fotografia emprestam um clima teatral à encenação, e tudo parece legitimamente sair direto das páginas de uma revista em quadrinhos. Ao contrário do que acontecia nos primeiros episódios da série, no entanto, “Spirit of the Goat” faz dessa característica seu triunfo, e não sua derrocada: em curtas seis semanas, Gotham evoluiu para um dos thrillers mais saborosos na TV americana ao simplesmente abraçar suas origens e sua metrópole em que toda dramaticidade é elevada à enésima potência.

Assim como no excepcional “The Balloonman” (review), o grande ponto a se apreciar em “Spirit of the Goat” é o quanto a série entende o espírito e o núcleo emocional de uma história do Batman. Em meio a sua Gotham City em que trovoadas aparecem pela janela quando algum acontecimento chocante está para acontecer, a série da FOX consegue ser um tomo muito envolvente sobre justiça, corrupção e as linhas borradas entre o bem e o mal em que esses dois conceitos transitam. O developer Bruno Heller não deixa o roteirista Edlund perder isso de vista, e o resultado é uma trama que caminha em passo rápido, mas certeiro – no final do episódio, quando toda a pressão do assassinado de Oswald Cobblepot finalmente cai sobre a cabeça de Gordon, é notável a forma que o diálogo escrito por Edlund nos deixa à par, como nos deixou durante toda a preparação para esse momento climático, que a culpa vivida pelo nosso protagonista e a trajetória de ascensão do Pinguim são espelhos paralelos refletindo a natureza de Gotham.

A trama da semana, no entanto, não tem nada a ver com tudo isso: trata-se do retorno inesperado de um serial killer que o Detetive Bullock havia capturado dez anos atrás, às custas do funcionamento das pernas do seu parceiro na época, o Detetive Dix (Dan Hedaya, o Tully de A Família Addams). O mistério se aprofunda quando o “novo” assassino se utiliza de uma parte do modus operandi do antigo que não havia sido revelada pela polícia na época – ou seja, não se trata de um simples copycat. Os procedimentos todos para a resolução do caso são bem corriqueiros, mesmo que seja bacana saber um pouco da história do personagem de Donal Logue, em ótima forma quando lhe é exigida. Infelizmente, no entanto, a trama principal fica em segundo plano quando tanta coisa está acontecendo nas beiradas.

Seja em cenas retratando a relação cada vez mais envolvente de Jim e Barbara (Erin Richards), no precioso pequeno diálogo entre Bruce e Alfred, ou até no maior tempo de tela para o jovem Edward Nygma, Gotham deixa bem claro que sabe muito bem o que fazer com seus personagens. O desenvolvimento deles parece natural mesmo em um cenário tão melodramático, e é legal ver uma série que consegue conjugar um passo rápido (ainda estamos no episódio 6, e é impressionante quanta coisa já rolou!) com a paciência de esperar que seus personagens estejam prontos para lidar com as mudanças que estão guardadas para ele. “Spirit of the Goat” termina com um cliffhanger dos bons, absolutamente quadrinesco (essa palavra existe?) e, talvez por isso mesmo, icônico. Seis semanas de vida, e essa série já está produzindo momentos inesquecíveis.

Observações adicionais:

  • É preciso dar uma notinha para a presença de Susan Misner (a Sandra Beeman da nossa queridinha The Americans) no papel de uma psiquiatra  do mal. A moça é tão boa em ser deliciosamente diabólica quanto foi em retratar uma dona-de-casa insatisfeita e frustrada na série da FX. Estamos só um pouquinho apaixonados ♥
  • A nota mais baixa que a dos episódios anteriores, percebam, vai pela trama da semana mais fraca que o normal, o que é absolutamente natural em uma série de casos episódicos. O importante é que a engrenagem maior continuou se movendo de maneira muito coerente e interessante.
  • Golden rule of Gotham: no heroes”

✰✰✰✰ (4/5)

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Próximo Gotham: 1x07 – Penguin’s Umbrella (03/11)

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