27 de set. de 2014

Estreia: “Forever” vai agradar aos fãs de procedurals, mas precisa ganhar em personalidade

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ATENÇÃO: esse review contem spoilers!

por Caio Coletti

Dá para contar nos dedos os procedurals no ar atualmente que fazem alguma coisa interessante com a fórmula mais do que cansada do estilo. Nossa queridinha, Person of Interest, ganha o jogo ao saber construir narrativas mais complexas e ter um senso agudo de movimento e reflexão sobre o mundo que retrata; The Good Wife triunfa com a construção de personagens e a ambiguidade moral; até a bobinha Perception nos prende ao não se levar a sério demais e, ao mesmo tempo, apresentar pequenas pérolas de sabedoria semanais no roteiro. Se a mais recente investida da ABC no gênero, Forever, aprendesse um pouco com essa última série citada, inclusive, poderia ser uma criação completamente diferente da que vemos nos dois episódios exibidos pela emissora na semana passada.

A série assinada por Matthew Miller (666 Park Avenue, Chuck), também roteirista dos dois primeiros episódios, tem todos os ingredientes que fazem o sucesso dos grandes nomes do gênero: um olhar que passeia entre o banal e o traumático para lidar com as mortes incluídas nos roteiros semanais; um ou dois personagens que servem de alívio cômico; um protagonista que precisa recuperar o contato com o mundo real e as pessoas a sua volta, apesar de uma condição/personalidade não muito prestativa ao convívio social; e uma contraparte feminina, ligada fortemente ao tema central da série, com quem a tensão romântica começa lentamente a aparecer. São poucas as surpresas de Forever, e as que existem conseguem dar a série um discreto charme particular, mas ainda há um longo caminho para percorrer se a série quer sair da sombra do seu próprio gênero – pior, o sucesso quase certo dessa fórmula indica que é improvável que Forever realmente se esforce nesse sentido.

A trama ataca, com a superficialidade quase sempre garantida nesse tipo de narrativa, questões como mortalidade e vida em comunidade. O marcante protagonista Henry Morgan (Ioan Gruffud, de Quarteto Fantástico) é um médico-legista com uma característica única – é imortal. Sempre que é alvejado por uma bala, atropelado por um caminhão ou envenenado por algum inimigo, o Dr. Morgan retorna à vida no Hudson River, totalmente nu. Ele não sabe a causa de sua aflição, mas é adotado pela Detetive Jo Martinez (Alana de la Garza, que não faz jus a uma personagem bem construída) ao demonstrar perícia incomparável para analisar cadáveres e cenas de crime. Os papeis coadjuvantes são povoados por Joel David Moore (Bones) como o assistente de laboratório de Morgan, e o grande Judd Hirsch (Numb3rs) como um confidente (e filho adotivo? é complicado) do protagonista.

A performance central de Gruffud se apoia de maneira ultra-dependente no charme galês do ator, e mesmo que nem sempre isso seja algo ruim, uma série como Forever se daria melhor com um protagonista menos usual e mais interessante. O mistério cercando um estranho que faz contato com Henry, dizendo que sofre da mesma condição que ele (com um agravante: esse antagonista misterioso está vivo há 2000 anos, não 200 como o nosso protagonista), pode trazer storylines mais empolgantes para o final da temporada, ou ainda dos próximos anos de Forever, uma série que provavelmente terá vida longa na ABC – presumindo que o público a compre, é claro. Os espectadores que procuram um pouco mais do que o previsível, no entanto, terão de se fiar na esperança que os roteiristas comandados por Matt Hill vão encaminhar a série para um caminho mais interessante que o mostrado nesses episódios de estreia. Eu não criaria muitas expectativas, se fosse vocês.

✰✰✰ (3/5)

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Próximo Forever: 1x03 – Fountain of Youth (30/09)

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