A partir dessa segunda temporada, ao invés de fazer uma cobertura detalhada de cada episódio de Masters of Sex, O Anagrama vai trazer uma review por mês, de preferência de episódios marcantes para a continuidade da série, checando a quantas anda um dos nossos dramas preferidos.
ATENÇÃO: esse review contem spoilers!
por Caio Coletti
Masters of Sex está em uma jornada incansável. Desde o terceiro episódio dessa segunda temporada, o ainda imbatível “Fight”, que estamos acompanhando a série da Showtime desnudar seus personagens de quaisquer presunções (inclusive aquelas que a série reforçou durante o primeiro ano!), e nos afrontar com a realidade de cada um deles e do mundo em que eles vivem. O que traz uma luz diferente sobre cada um deles, é verdade, é a forma como eles lidam com essas realidades. Libby é uma prisioneira em um mundo cheio de grades, mas percebe que todas elas são conjuradas por seu próprio pensamento; Virginia é uma libertária em um mundo cheio de culpa, e quer que esse mundo reverta seus preceitos e concorde com ela; e Bill é um predador em um mundo onde eles são reis, mas luta contra a própria natureza porque sua mente repete que não deveria ser assim. Se Masters já era um “drama de limites” (como eu sempre o chamei) desde a primeira temporada, o que essa segunda faz é desenha-los com mais clareza – e ensaiar a forma como cada um desses personagens vai ultrapassa-los.
Dirigido por Adam Arkin (que também faz uma pequena participação no episódio, como o publicitário contratado por Bill), “Below the Belt” traz uma linguagem visual mais crua do que a que Masters está acostumado. No manual de Arkin, um diretor que vem de episódios de The Bridge e Justified, a iluminação não é sempre perfeita, os personagens nem sempre estão impecáveis, os cortes são menos elegantes e mais funcionais. É uma forma nova de enxergar essa história, e de certa forma é refrescante e visceral vê-la assim, especialmente em um episódio onde o aspecto físico é tão importante. É impossível imaginar outro diretor filmando a briga entre Bill e Frank, ou a sessão em que nosso protagonista e Virginia tentam um jogo de submissão no quarto de hotel.
Com o seu “tratamento” tendo início, é claro que Bill volta para o centro do palco nesse episódio. O roteiro de Bathseba Doran (que escreveu o 2x05, “Giants”) e Eileen Meyers (autora do 2x06, “Blackbird”) dá a Michael Sheen a oportunidade de examinar de maneira brutal da natureza do seu personagem, os efeitos do seu passado recente e longínquo, a impenetrabilidade de sua armadura, de sua determinação incansável em nunca pedir misericórdia – e é claro que o ator agarra a oportunidade com gosto e brilhantismo. Bill é acertado com muitos “golpes baixos” em “Below the Belt”, refletindo de muitas formas as metáforas de luta e os temas emocionais de “Fight” – sua vida parece minada de todos os lados e o conflito entre seus ideais avançados e seu instinto primal é mais do que evidente. “Below the Belt” advoga com a história secundária do encontro entre Lester e Barbara (Betsy Brandt está maravilhosa já há alguns episódios, deve-se dizer) que a desistência de si mesmo pode ser o maior dos pecados, mas ao mesmo tempo mostra que para Bill pode ser uma salvação.
“Below the Belt” é um daqueles episódios de Masters of Sex onde fica evidente o quanto a abordagem da showrunner Michelle Ashford e de sua equipe de roteiristas é o ingrediente especial que faz da série um dos dramas mais bem construídos (e mais importantes) no ar atualmente. De maneira parecida com “Manhigh”, o finale da temporada passada, essa décima entrada do segundo ano puxa uma das storylines até o seu momento conclusivo e deixa à mostra o quanto o processo de preparação para chegar lá é fundamental. Em Masters, o entendimento que é dado ao espectador das razões e da história de cada personagem entra em completa sintonia com uma série que pretende destrinchar as complicações da intimidade e das inter-relações sociais e emocionais entre seus sujeitos. Não poderia ser de outro jeito, mas ainda bem que Ashford e cia sabem disso. Com uma paciência que não é contemplativa, mas sim perceptiva (no sentido em que quer observar as nuances dos personagens, e não sentar e esperar o tempo de tela atribuir significado a eles), eles criaram um dos arcos de descoberta mais impressionantes e críveis do nosso tempo.
Observações adicionais:
- A história envolvendo o Dr. Langham realmente tomou um caminho surpreendente e interessante – a série parece tirar serventias para o personagem do sempre ótimo Teddy Sears da cartola.
✰✰✰✰ (4/5)
Próximo Masters of Sex: 2x11 – One for the Money, Two for the Show (21/09)
Próximo review: 2x12 – The Revolution Will Not be Televised (28/09) [SEASON FINALE]
0 comentários:
Postar um comentário