ATENÇÂO: esses reviews contêm spoilers!
por Caio Coletti
4x01 – Amends
“Se você se se comportou mal, se arrependa, faça as pazes com o que puder fazer, e trate de se comportar melhor da próxima vez” (Aldous Huxley, autor de Admirável Mundo Novo)
Wilfred é uma série traiçoeira. Inspirados talvez pelo espírito de trickster do seu personagem-título, os roteiristas são afeitos a fazer jogos psicológicos com o espectador, questionar o que é real ou imaginário com desapego notável a uma linha narrativa meramente convencional, e nos envolver nas mentiras e nos limites do que pode ou não nos mostrar. Esse não deveria ser o procedimento mais aconselhável para série de TV alguma, visto que elas, mais do que muitas outras formas de contar histórias, depende do público que conquista para seguir adiante. O curioso é observar que, entrando no seu quarto (e último) ano no FXX, canal filiado ao que exibiu suas três primeiras temporadas (o FX), Wilfred conhece bem o bastante a pequena base de espectadores que atraiu durante sua jornada para saber que ser surpreendido e intrigado pela ambiguidade da trama é exatamente o que eles querem.
Mais ainda, Wilfred encontrou os escritores certos para fazê-lo. Reed Agnew (The Andy Milonakis Show) e Eli Jorné (Alternate Endings) conduziram a terceira temporada ao assinarem o primeiro e o último episódios. Agora, dão continuidade ao trabalho iniciando esse último ano da série e subverterem tudo o que fizeram antes para contar uma fábula moral ainda mais poderosa, ao mesmo tempo em que mantem o espírito de dúvida cômica que é ideal para que Wilfred prospere até o final. Enquanto isso, a direção e os atores tratam de suavizar as pontas e trazer à superfície as emoções essenciais da história, dando a série uma dimensão humana bastante interessante para uma comédia que faz muita graça da pronúncia da palavra “envelope”.
Em “Amends”, descobrimos que a morte do pai de Ryan, a briga com Wilfred e a descoberta da estátua que fechou a temporada passada não passavam de um delírio que nosso protagonista teve quando caiu das escadas (sim, foi ele quem caiu, não o pai). Essa reviravolta completa no início do episódio o conduz para um caminho que se assemelha a um amarrar de pontas muito mais emocional do que prático, ao mesmo tempo que nos dá mais um pedaço da mitologia para nos agarrarmos. As aparições curtas de Fiona Gubelmann e Dorian Brown mostram que, apesar de ainda possuirem características muito reconhecíveis das outras temporadas, Jenna e Kristen não são mais vistas sob o olhar distorcido e funcional de Ryan (embora existam essencialmente para realçar sentimentos dele).
✰✰✰✰✰ (4,5/5)
4x02 – Consequences
”Mais cedo ou mais tarde todos se sentam para comer um banquete de consequências” (Robert Louis Stevenson, autor de Ilha do Tesouro)
“Consequences” tem melhores piadas e se aproveita do carisma bobalhão de Chris Klein no que provavelmente é sua performance final no papel de Drew. Quando Ryan resolve visitar o local de uma misteriosa fotografia que encontrou nos arquivos do seu pai, o marido de Jenna tenta fugir das crises no casamento e acaba forçando o protagonista a levá-lo junto, sem saber dos objetivos da “viagem de camping”. O gosto que fica no final do episódio assinado por David Baldy (na sexta contribuição com a série) é amargo porque as consequências das tramoias de Wilfred dessa vez são maximizadas.
Com a sua mitologia cada vez mais complexa e uma série de misterios que prometem se encadear pelos próximos oito episódios, a série mostra não ter mais medo de usar a figura de Wilfred como algo desconhecido e assustador, e a escassez de cenas nos cenários usuais (o porão de Ryan, por exemplo, por pouco não dá as caras) mostra que a temporada está apostando alto. No começo de seu último ano no ar, Wilfred wants to go out with a bang.
✰✰✰✰ (4/5)
Próximo Wilfred: 4x03 – Loyalty (02/07)
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