O rótulo mais comum que se dá ao tipo de comédia romântica que a americana Nancy Meyers costuma fazer é “adulta”. Desde que Alguém Tem que Ceder colocou os veteranos Jack Nicholson e Diane Keaton num triângulo amoroso completado pela jovem Amanda Peet, Meyers foi aclamada como uma escritora e diretora que produzia filmes engraçados, mas “maduros e realistas”, que “abordavam temas incomuns ao gênero” com “elegância de diretor experiente e detalhista”. A trama de idas e vindas de O Amor Não Tira Férias, ainda que nem tão bem-sucedida, só veio para confirmar boa parte dessa definição. Acontece que, caso você não tenha percebido, caro leitor, é meu dever lhe informar que todo tipo de rótulo é, essencialmente, burro (ainda que ferramenta de trabalho vital para esse escriba que vos fala), e a razão para isso é simples: apesar de Meyers provar que tem uma produção de “maturidade” acima da média para seu gênero nesse divertido Simplesmente Complicado, não é preciso, de forma alguma, ter mais de 30 anos para gostar do cinema supostamente “adulto” da diretora. Basta estar, só um pouquinho, disposto a pensar.
E o público adolescente de hoje tem provado que não gosta de fazer isso em uma sala de cinema. Com comédia babacas aportando a cada mês nos cinemas Brasil e mundo afora, é difícil conseguir achar um lugar onde Simplesmente Complicado se encaixa. Só para começar, é uma comédia romântica que arranha nas duas horas, não teme em tomar seu tempo para desenvolver a trama (e, ainda assim, é extremamente recompensadora para aqueles com um pouco de paciência), e ainda tem a coragem de não terminar como um conto de fadas. O motivo? Não seria honesto com a trama. Jane Adler (Meryl Streep) não é uma princesa púdica, e seu ex-marido Jake (Alec Baldwin), também não faz o tipo galante comum. Aliás, ao contrário: são pessoas de verdade, a matriarca dedicada (que deixou a própria vida para trás) e o canalha adorável (que casou-se com uma mulher mais jovem), assim como Adam (Steve Martin), o arquiteto encantador e educado que surge para Jane ao mesmo tempo em que esta engata um “affair” com o ex-cônjuge.
A situação rende momentos para lá de engraçados, que exploram um elenco fora de série liderado por três nomes de peso. Seria injusto com sua primazia dizer que não cabem mais comentários a Meryl Streep. Os pequenos gestos, as expressões faciais e a linguagem corporal que ela compõe para Jane é o que mantem o filme fresco e coeso na mente do espectador. Sua atuação é de um oportunismo cômico evidente nos momentos engraçados, e de uma sinceridade comovente quando precisa mostrar a personagem pelo que ela é. Baldwin, no entanto, não fica atrás, criando uma química maravilhosa com a parceira de cena e se tornando responsável pelo charme gaiato, pela leveza constante que permeia o filme de Meyers. Como tudo na composição da diretora, ele é elemento fundamental para a junção de partes do filme. Martin, por sua vez, é seu elemento-surpresa, arquivando uma atuação compenetrada, sincera e doce, que nunca resvala na caricatura e, quando precisa enveredar por caminhos cômicos, preenche a tela com intensidade fascinante. Do elenco ainda dá para destacar um engraçadíssimo John Krasinski, mostrando-se dono de timing cômico excepcional e ficando responsável por alguns dos momentos mais hilários do filme.
Todos são elementos fundamentais na composição do produto que nos aparece na tela. É difícil imaginar Simplesmente Complicado sem o elenco que tem, sem a ambientação leve e elegante que Meyers impõe, sem as sacadas de roteiro espertíssimas, os momentos emocionais dosados na hora certa, as gags que nunca caem no clichê e a interação trabalhada com cuidado entre personagens encantadores, que ficam com o espectador por um bom tempo. Meyers e seu detalhismo perto da obsessão passam longe de tirar do filme sua leveza e seu divertimento, apenas acresentando uma densidade quase inédita no gênero ao cenário e ao mundo pelo qual os personagens desfilam com suave elegância. A câmera, a cenografia, a fotografia, nada entra na frente dos atores ou da trama. Simplesmente Complicado é um filme conduzido com a inteligência que tem faltado em quase todos os gêneros da produção americana. Uma dosagem nunca fria, nunca distante, mas certeiramente planejada de elementos que ajudam a contar uma história. Simples, não?
Ao menos é o que Meyers deixa transparecer. Com ela, produzir filmes soa como uma tarefa fácil, que se reflete na tela com um planejamento enérgico e divertido. Filmes como Simplesmente Complicado fazem do cinema um ato tão natural quanto respirar. E ainda te fazem querer, de verdade, estar em um set de filmagens. Definitivamente, não há idades para esse encantamento.
Nota: 8,5
Simplesmente Complicado (It’s Complicated, EUA, 2009)
Uma produção da Universal Pictures/Relativity Media…
Dirigido e escrito por Nancy Meyers…
Estrelando Meryl Streep, Steve Martin, Alec Baldwin, John Krasinski, Lake Bell…
120 minutos
3 comentários:
É impressionante como é impossível falar mal da Meryl Streep, né? Fico espantado com isso ainda, não sei por quê.
Não sabia que a responsável por Simplesmente Complicado é a mesma de O Amor Não Tira Férias, que é tipo a minha comédia romântica favorita. E ainda não me perdôo por não ter assistido um filme que tem Alec Baldwin, Steve Martin e Meryl Streep como protagonistas, então vou ali me dar umas chibatadas e depois eu volto...
Caioo adorei sua crítica, ficou boa mesmo...eu adorei esse filme, acho a Maryl esplêndida nas suas atuações. Queria fazer um pedido, vc poderia criticar "A GAROTA DA CAPA VERMELHA" é um conto dos irmãos Grimm e eu adoro todos, mas antes queria sua sincera opinião.
Bjo queridão ;**
Costumo definir os filmes de Meryl Streep apenas por: Meryl Streep! Já diz e muito!
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