Esqueça os preconceitos por um momento. Apesar de muita gente chiar para o apresentador, para o programa ou para qualquer coisa (cada um com sua opinião, devido respeito a ela dado), nos últimos tempos o Programa Raul Gil, levado ao ar pelo SBT aos sábados, tem revelado novos artistas notáveis e promissores no seu quadro Jovens Talentos, cujo horário varia entre as 16h e as 17h, estendendo-se quase sempre por uma hora e meia ou mais. Acontece que, num Brasil onde a única outra proposta similar (o Ídolos da Rede Record) prende seus pupilos ao repertório nacional e a uma certa corrente temática, além de deixar a decisão nas mãos do público nem sempre bem informado, o Jovens Talentos começa acertando ao não restringir os candidatos, dando-lhes a oportunidade de mostrar, além do potencial vocal, seu estilo, gosto musical e vigor artístico. E, claro, as decisões são todas gerenciadas pelo júri composto de músicos de verdade.
Uma das grandes (e, se você me perguntar, “a grande”) revelações do quadro foi Evlin Marcondes, a mato-grossense de Alta Floresta, 19 anos, elegância sem igual e voz maravilhosa. Cursante de Jornalismo na UFMT, ela chegou ao programa em 22 de Janeiro, e conquistou os jurados com a presença carismática e uma bela interpretação de “Will You Be There”, do seu ídolo Michael Jackson. Desde então, passaram por suas mãos músicas de Christina Aguilera (“You Lost Me”), Miley Cyrus (“The Climb”), e outra do rei do pop, “Man In The Mirror”, que fechou sua escalada de quatro programas para a semifinal. Agora é esperar que Evlin abrilhante uma fase final já faiscante. Por enquanto, fiquemos com a enorme honra de ter ela por aqui, n’O Anagrama.
Em suas próprias palavras, uma das minhas musas, Evlin Tainara Neves Marcondes.
Parte Um: As Letras…
Uma palavra: Consideração.
Uma música: Há de Ser – Jorge Vercillo. Um filme: “Pearl Harbor” (Pearl Harbor, 2001).
Um livro: A Cidade do Sol, de Khaled Hosseini.
Um exemplo de vida: Meu pai. Um exemplo de técnica vocal: Mariah Carey.
Um exemplo de vida dedicada a arte: Michael Jackson.
Dia ou noite? Noite. Inverno ou verão? Verão. Pop ou rock? Rock.
Twitter ou Orkut? Twitter.
Uma citação: “Vive em vão aquele que não ajuda ninguém”.
Ouvindo agora: Coldplay – Don’t Panic.
Parte Dois: O Anagrama…
Tirando o clichê da frente: em que momento da vida decidiu perseguir a carreira de cantora? Algum artista/álbum/música a insipirou mais definitivamente a isso?
Quando eu tinha uns 12 anos e fui descobrindo mais meu gosto musical, muitos artistas me inspiraram, mas a primeira mesmo foi a Alanis Morissette.
Antes de ser chamada para o Programa Raul Gil, que tipo de coisa você fazia para divulgar-se? Qual é o papel da Internet, hoje em dia, nesse processo?
Olha, eu meio que não me divulgava. Morava em uma cidade minúscula e lá eu participava de um grupo de teatro e sempre me apresentava cantando. Na Internet eu tinha 2 vídeos, no máximo! Acredito que tudo o que conta na Internet são os números. É a quantidade de pessoas que acessam os vídeos e vão repassando… isso pode ser vantajoso ou não, porque a maioria das pessoas que têm tempo para ficar em casa vendo e mandando vídeos são pré-adolescentes, e pré-adolescentes não estão nem aí pra quem tem talento ou pode ser um artista de verdade, na maior parte das vezes eles gostam de muita porcaria, como as que temos hoje fazendo sucesso! Tem muita gente de talento que sai da Internet, mas a maioria é modinha, daqui a 10 anos ninguém vai se lembrar deles.
Você é fã do Michael Jackson. Acha que algum(a) artista pop da atualidade tem o talento e a capacidade de preencher ao menos parte da ausência do rei do pop depois de sua morte?
Os artistas pop atualmente parecem-se com ratinhos de laboratório, todos iguais, robotizados, seguindo a mesma linha, vestindo as mesmas roupas, usando excesso de auto-tune no estúdio, usando roupinhas curtas, composições vazias! Nessa área raramente existe O ARTISTA, aquele que tem a liberdade de escrever o que quer, que tem o controle, que faz as coisas do seu jeito. É como se os cantores pensassem: “se a produção achar que vende está bom, o importante é aparecer e ‘estar na mídia’”, e a música boa vai ficando de lado. Padronizaram o pop de um jeito que ficou ridículo! O Michael não era nem pop, era multi-musical, ele era tão bom que tudo o que fazia ficava popular, por isso o título de “Rei do Pop”. Mas ele era produtor, diretor, figurinista, compositor, coreógrafo e um monte de outras coisas ao mesmo tempo. Isso sim é artista de verdade pra mim, e pra alguém chegar a fazer ao menos metade do que ele fazia, quem sabe em outra vida?
Pra quê gostaria de ter mais tempo? E o que passa tempo demais fazendo?
Eu gostaria de ter mais tempo para ler, assistir mais filmes e séries, ir mais à praia, ver e dar atenção a mais amigos, desenhar, escrever… são algumas das coisas que mais gosto de fazer, mas quando se tem obrigações o tempo fica curto demais para tudo. É aí que a rotinha fica chata.
Como você compara música nacional e internacional? E qual escuta mais?
As gravadoras dos EUA, por exemplo, são mil vezes maiores e mais potentes que as daqui, investem muito em seus artistas, mas padronizam muito, como eu disse anteriormente. Já a música nacional, usando com exemplo a MPB, que é bem característica do nosso país, é mais simples, não tem tanta tecnologia e nem arranjos tão legais como as músicas internacionais, são trabalhos “artesanais”, que eu valorizo e acho muito bonito! Sou equilibrada, ouço tanto internacional quanto nacional, pois tenho meus artistas preferidos em ambos os lados.
Sobre o Jovens Talentos: Como é o ambiente entre competidores, jurados e a produção do programa? Há liberdade total para a escolha das músicas? Quando a semifinal começa a ir ao ar? Pode adiantar alguma coisa da sua apresentação?
O ambiente lá é muito agradável, tanto que às vezes a gente até esquece que está em uma competição, porque acontece muito essa coisa da aproximação, da amizade, de torcer um pelo outro. Eu mesma, como gosto de muitos estilos diferentes do meu, sou fã de colegas meus lá que competem comigo, e eu torço por eles da mesma forma que torço por mim. No mais, somos bem tratados pela produção, jurados e o próprio Raul Gil, que tem contato direto com a gente e sempre foi muito amável. Temos a liberdade na escolha da música. A semifinal começa provavelmente em Abril. Sobre minha apresentação, eu estou tentando melhorar ao máximo possível e vou continuar cantando as coisas que eu gosto.
Acha que os artistas em geral, especialmente os da música pop, são mal-compreendidos? De que forma isso acontece e de que forma deveríamos nos condicionar para que não acontecesse?
Todo artista está sujeito a muitas críticas construtivas e também a aquelas que são só para avacalhar mesmo. Muitas pessoas que assistem os candidatos do Raul, por exemplo, acham que já nos conhecem e têm o direito de falar qualquer coisa, e aí nos fóruns e na Internet afora eles ofendem, falam mal da nossa aparência, julgam qualquer errinho, xingam, falam que não somos capazes… Mas é tanta ignorância que não dá nem para ser levada em conta, porque ninguém agrada todo mundo, sempre vai ter um idiota pra querer te derrubar, seja por inveja ou por implicância. Se todo mundo fosse depender de opinião pública ninguém fazia sucesso, porque pessoas ignorantes sempre vão existir! O que tá faltando entender é que artistas não são robôs, eles não são perfeitos e têm o direito de errar uma letra, de cair, de improvisar, sim! Isso acontece com todos os profissionais, pois antes de ser artistas são humanos!
Como se define, como artista, e que imagem/mensagem pretende passar para os seus fãs na carreira (com certeza longa e promissora) que tem pela frente?
Não me importo com fama, nem com o que é comercial, esses termos me soam muito hipócritas. O que realmente importa e estão deixando de lado, é a música boa, o conteúdo. Quero que me admirem como artista de verdade, não como “aquela que aparece mais”. Porque se formos ver, tem artistas maravilhosos, como o Djavan, o Jorge Vercillo e o Celso Fonseca que quase nem aparecem na mídia, e nem por isso o “rock colorido” que aparece toda hora tem mais qualidade. Óbvio que não! Também quero deixar bem claro que eu sempre vou defender minhas opiniões, e não simplesmente calá-las como a maioria faz só para agradar a todo mundo, porque quem gosta da gente, gosta do jeito que somos, e não de uma coisa que não é verdadeira! Sou totalmente a favor da verdade, da humanidade, e da liberdade.
No mais só tenho a agradecer a todas as pessoas que têm me mandado recados, que curtiram meu trabalho e estão torcendo por mim. Sou muito grata e de uma certa forma apaixonada por essas pessoas, porque são parte da inspiração que tenho. Vocês, fãs (e ao mesmo tempo amigos), têm me dado uma força fora de série, e sem falar que a quantidade jamais vai importar para mim. Eu posso ter 10 fãs, e pra esses eu vou procurar dar o máximo de atenção que eu puder. Eu amo vocês, inclusive o senhor Caio Coletti, que está incluidíssimo. Vocês são demais!
Complete: “faço música porque…”
Faço música porque é amor, e ao mesmo tempo a minha fuga de qualquer tristeza ou mágoa!
“There’s always gonna be another mountain/ I’m always gonna want to make it move/ Always gonna be an uphill battle/ Sometimes I’m gonna have to loose/ Ain’t about how fast I get there/ Ain’t about what’s waiting on the other side…
It’s the climb!”
(Evlin Marcondes em “The Climb” – música original de Miley Cyrus)
1 comentários:
Muito consciente a entrevista dela. É bom ver uma jovem promissora com uma visão bem profunda sobre a música pop. Realmente tudo anda muito artificial e moldado.
Mas eu já acho que isso é uma tendência dos nosso tempo. Estemos superficiais demais.
Porém, quando leio uma entrevista assim, tenho esperança de que isso é só uma fase.
Realmente Michael era diferenciado, assim como a Madonna. Artistas pop autênticos, que criaram tendência e desafiaram a sociedade, ao mesmo tempo que compartilhavam alguma afinidade com ela.
Sinto falta de artistas assim...
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