Minhas Mães e Meu Pai (The Kids Are Alright, EUA, 2010)
Uma produção da Focus Features/Gilbert Films/Antidote Films…
Dirigido por Lisa Cholodenko…
Escrito por Lisa Cholodenko…
Estrelando Julianne Moore, Annette Bening, Mark Ruffalo, Mia Masikowska, Josh Hutcherson, Yaya DaCosta, Eddie Hassell…
106 minutos
Eu não sou o seu típico crítico de cinema. Não gosto de avaliar filmes apenas com um ponto de vista objetivo e técnico, não gosto de ficar procurando peças a serem pregadas e hipocrisias na mensagem de cada filme. Porque, antes de crítico, sou espectador. E, como espectador, o que eu quero é sentir os arrepios na espinha de um filme romântico, é viver o sorriso bobo de um final feliz ou as lágrimas profusas de uma tragédia. Avaliar filmes friamente é como viver sem a emoção de um amor que seja, só porque sabemos que ele pode nos iludir no fim das contas: não tem graça. E porque eu estou falando isso, aqui? Porque Minhas Mães e Meu Pai pode ter a velha mensagem do “o amor vence qualquer barreira”, batida num contexto ligeiramente realista que lembra um filtro de realidade comédia romântica (mesmo que deixe muito mais realidade passar por ele), mas é um filme executado perfeitamente, que esquenta corações, abre mentes e impressiona os olhos mais treinados, senão por mais, ao menos pela atuação do quarteto principal.
Julianne Moore é puro instinto e irresistível grosseria como Jules, que forma par com a cínica e pragmática Nic de Annette Bening, em uma atuação concentrada que emociona e se faz digna da nomeação para o Oscar, em um casal de lésbicas que criou dois filhos concebidos por inseminação artificial. Josh Hutcerson é o garoto Laser, e prova estar passando por aquela fase de maturação dos atores-mirins promissores. Apesar de um caminho ainda a percorrer, Hutcherson tem talento o bastante para chegar lá. Mia Masikowska, por outro lado, é pura doçura, concentração e beleza como Joni, talvez a personagem mais complexa, interessante e adorável de todo o filme. Fecha o quarteto Mark Ruffalo, com seu jeito eficientemente minimalista de sempre, que traz a discórida a harmoniosa família como Paul, o “pai” dos dois adolescentes, com o qual Laser e Joni entram em contato. O roteiro não é o mais sólido do mundo, mas a direção é delicada e o filme é capaz de provocar aquele arrepio meio libertador, de preconceitos e barreiras emocionais.
Nota: 8,0
Direito de Amar (A Single Man, EUA, 2009)
Uma produção da Artina Films/Depht of Field/Fade to Black Productions…
Dirigido por Tom Ford…
Escrito por Tom Ford, David Scearce, baseados na novela de Christopher Isherwood…
Estrelando Colin Firth, Julianne Moore, Nicholas Hoult, Matthew Goode…
99 minutos
Vamos tirar uma coisa do caminho? Direito de Amar é o filme de estreia, em direção e roteiro, do medalhão da moda americana Tom Ford. Então, não coloque o filme para rodar esperando nada, visualmente, além de elegância a toda prova, bom-gosto exemplar na forma de lidar com o figurino e uma ambientação por vezes tão asséptica que chega a ser um exagero. Não negando os méritos incríveis de ambientação e adaptação que Ford tem para com a novela de Christopher Isherwood sobre um professor gay na Los Angeles de 1960 que acaba de perder o companheiro de anos a fio, tendo que lidar com a melhor amiga fracassada que sempre teve uma queda por ele e com o aluno insinuante que parece, digamos assim, interessado. O roteiro de Ford e do também estreante David Scearce lida com tudo isso de forma muito particular, episódica e delicada, usando bem dos méritos da novela, inclusive das narrações no começo e no final, para criar um filme que é mais que uma boa adaptação.
Mas é impossível negar, ao mesmo tempo, que Direito de Amar não seria nada sem Colin Firth. Seu protagonista é um turbilhão de emoções a todo o momento, e é incrível observar como Firth lida com isso a sua maneira particular de atuar, com extrema discrição, excelência e detalhismo. Ao mesmo tempo, essa contenção absurda de Firth, que fez tanto bem ao personagem, poderia ser um ponto contra para o filme, se aliada a frieza da direção e fotografia (ambas belíssimas, porém mais distantes do que deveriam do espectador). Isso, claro, se não houvesse Julianne Moore para equilibrar a equação, em uma atuação que inclusive supera sua festejada aparição em Minhas Mães e Meu Pai, um ano depois. Aqui, Moore é calorosa, decadente, sedutora, encantadora e complexa, tudo ao mesmo tempo e em alguns poucos frames, conseguindo manter-se no nível de Colin o tempo todo, e ao mesmo tempo completando-o intensamente. É a química de um casal que era para ser, mas não foi, da história, se transferindo para as atuações. E é o detalhezinho mais encantador, e mais humano de toda a equação limpíssima (limpa demais) de Direito de Amar.
Nota: 7,0
“Umas poucas vezes na minha vida eu tive momentos de pura clareza, quando por uns breves segundos o silêncio supera o barulho e eu posso sentir ao invés de pensar, e as coisas parecem tão perfeitas e o mundo parece tão novo. Eu nunca consigo fazer esses momentos durar. Eu me seguro a eles, mas como todo o resto, eles simplesmente desaparecem. Eu vivi minha vida nesses momentos. Eles me trazem de volta ao presente, e eu percebo que tudo está exatamente como deveria estar.”
(George – Colin Firth – em “Direito de Amar”)
2 comentários:
Só assisti ao Direito de Amar, mas acho que você tocou no ponto exato. Uma execução impecável, nenhuma regra desrespeitada, tudo muito bom... Mas faltou um pouco de pulso, proximidade. Talvez, eu pensei depois, tenha sido intenção mesmo do Tom Ford: um personagem debilitado, uma performance fria, de despedidas, não de vida. Ainda que tenha deixado o filme como um todo "distante", acho que está muito, muito bom pra a estreia de um diretor que era estilista! Abraço!
Te falar que nunca tinha procurado sobre Direito de Amar, mas fiquei curioso. Tô enrolando pra assistir Minhas Mães e Meu Pai porque existe uma espécie de mega divisão do público, parece que ou se ama ou se odeia o filme, vou ver se assisto agora pelo feriadão.
Ótimas críticas, Caio. E adoro seus tweets sobre música. hahaha
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