16 de ago. de 2010

Eye to The Telescope – O amor por inteiro

álbuns (nunk excl) eye to the telescope 1

***** (5/5)

Eu confesso: ao retomar a antiga paixão que tinha pela música da escosa Kate Victoria Tunstall (mais conhecida como KT Tunstall), meu objetivo era fazer um post nos moldes do “Gaga – Um guia de amor a primeira audição”. Ou seja, um panorama geral, incluindo os dois discos lançados pela cantora e compositora, da carreira e estilo que ela representa. Pois bem, confesso mais uma coisa: como apreciador de música, e não como crítico, Eye to The Telescope me desarmou como se estivesse tirando doce de uma criança. Talvez seja essa, afinal a qualidade das grandes obras: pegar o ouvinte desprevinido e mudar seu conceito sobre alguma coisa, servir como apoio em um momento inesperado. Poucos conseguem fazer isso e ainda realizar uma forma de expressão admirável e interessante para quem chega como leigo na aventura.

KT não diz nada de novo em sua música: as letras são sobre decepções e realizações amorosas, sobre reafirmação de identidade, mas vêm com o selo inconfundível de produção autêntica estampado em cada acorde, e com um vocal passional e desenvolto para acompanhar letras cheias de sinceridade e metáforas espertas. O disco caminha na linha tênue entre o pop e folk com habilidade notável, lançando mão dos recursos dos quais precisa sem medo, visando muito menos manter um estilo rígido e muito mais realizar uma obra que toque, de todas as formas, a sensibilidade de quem ouve. E, claro, é muito bem sucedido na tarefa.

Em última instância, Eye to The Telescope se torna talvez a obra mais completa, fechada em si mesma, no nosso século, a tratar dos temas que sempre assombram e sempre assombraram a produção musical humana. E, claro, do maior deles: o amor. Portanto, em oito passos, essa é a KT Tunstall de Eye to The Telescope.

Fase 01: caindo de amores…

Black Horse and The Cherry Tree – (Faixa 04) – Letra Tunstall. Música Tunstall.

É com certeza o jeito certo de se iniciar no universo de influências de Tunstall. Levada por uma batida country e cantada com personalidade e força invejáveis, a canção que a revelou em um programa de TV britânico pode perder um pouco da força no estúdio, mas continua com uma batida empolgante e uma letra de identificação imediata e deliciosa. Não é o melhor que ela pode fazer, mas com certeza marca na memória uma personalidade musical extremamente forte.

Suddenly I See – (Faixa 09) – Letra Tunstall. Música Tunstall.

O maior hit da escocesa é também, não por acaso, a canção pop com levada mais animada desse disco de estréia. Mas não dá para perder de vista uma batida de violão e baixo contagiante, os vocais levados com desenvltura notável e a letra que expressa um sentimento, uma noção, que indentifica-se facilmente com uma fatia imensa do público. Impossível não se apaixonar, seja  pela personagem que KT monta em sua composição, ou pela própria cantora.

Fase 02: o auge da paixão…

Universe & U - (Faixa 07) – Letra Tunstall. Música Tunstall, Pleasure.

Apesar do clima de opressão, KT consegue suavizar os sons digitais inseridos com sabedoria para completar a expressão de uma letra descaradamente romântica, mas que nunca resvala no brega ou no lacrimoso gratuito. É uma canção de fazer subir arrepios pela espinha, interpretada com delicadeza e levada por um piano absurdamente bem harmonizado, uma produção pop-romântica de primeira, dotada de sofisticação rara.

Stoppin’ The Love - (Faixa 10) – Letra Tunstall. Música Tunstall, Tommy D.

O nome da música não parece concordar com o da fase, mas não se preocupe, as aparências enganam também em Eye to The Telescope. O que poderia ser um libelo depressivo sobre um defeito irrepreensível ou uma declaração de cinismo aberta e incômoda se transforma em uma pílula de esperança e paixão nas mãos de Tunstall e Tommy D. O ritmo constante e a compassada batida vão até onde podem ir, e KT soa feliz em acompanhá-los.

Fase 03: os garotos-problema…

The Other Side of The World – (Faixa 01) – Letra Tunstall. Música Tunstall, Terefe.

A canção que abre o repertório oficial da escocesa é uma composição sem complicações, que passeia com desenvoltura entre o pop-rock e o folk, levada por um violão de acordes acertados e num ritmo crescente e bem produzido. A interpretação intensa e emocional de Tunstall confere credibilidade a uma letra que alterna ascenção e queda de um relacionamento com um refrão que deve falar muito alto para muita gente. Ouça,  mas tente pensar no que está ouvindo.

False Alarm - (Faixa 08) – Letra Tunstall. Música Tunstall, Terefe.

Tunstall arquiva o que pode ser a interpretação mais emocionada e emocionante em muito tempo na música pop, tudo em cima de uma letra sincera, universal e autêntica. Levada fácil por um instrumental que, como a música, não surpreende, mas cumpre o que promete com louvores: ser uma balada a moda antiga com o espírito de produção, composição e significado da música atual. A mistura, nas mãos de KT e do produtor Martin Terefe, funciona a perfeição.

Fase 04: curtindo a fossa…

Under The Weather - (Faixa 03) – Letra Tunstall. Música Tunstall, Tommy D.

Sugere que talvez tenha sido mais acertado aproximar KT de Norah Jones do que de Dido, mas não deixa dúvidas da originalidade da escocesa na virada grunge-acústica perto do final. Com um punhado de surpresas melódicas, o clima melancólico casa bem com a letra mezzo-comodista, mezzo-autodepreciativa, mezzo-esperançosa que KT construiu como a mais contida das canções desse álbum de estréia. Como bem nos ensinam os talentosos: menos às vezes é mais.

Silent Sea - (Faixa 06) – Letra Tunstall. Música Tunstall, Hogarth.

O estilo acústico remete ao indie da canadense Feist, mas a voz de KT brilha mais bela do que nunca sobre o instrumental simplista, que consegue criar uma sensação crescente sem nunca recorrer ao apoteótico gratuito. A letra segue o mesmo estilo minimalista, em poucos versos alcançando o objetivo de passar uma sensação complicada demais para descrever longamente. É a prova cabal de uma sensibilidade musical notável.

E o setlist se completa com… Another Place to Fall (Faixa 02)                                                                  -                                                                      Miniature Disasters (Faixa 05)                                                                    -                                                                      Heal Over (Faixa 11)                                                                                         -                                                                      Through the Dark (Faixa 12)                                                                         -

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“…You can hear, she’s a beautiful girl, she’s a beautiful girl/ She fills up every corner like she’s born in black and white/ Makes you feel warmer when you’re trying to remember what you heard/ She likes to live you hanging on her world…

…Suddenly I see this is what I want to be/ Suddenly I see why the hell it means so much to me…”

(KT Tunstall em “Suddenly I See”)

1 comentários:

Fabio Christofoli disse...

Muito boa a crítica do álbum (que desta vez tenho autonomia pra falar hehehe)
Gosto muito do trabalho de KT Tunstall, quando ouvi Eye to The Telescope pela primeira vez, lembro que me viciei em "Other Side Of The World", essa musica me enfeitiçou, me trouxe uma serenidade, mesmo eu não sabendo exatamente o que sua letra dizia.
COnfesso que este não é meu álbum favorito dela, tenho uma preferência exagerada por "Drastic Fantastic", acho que por ser um álbum mais animado ou com uma variedade maior de tons.
Estou ansioso com o lançamento do próximo álbum, que se não me engano será lançado agora no final do ano.

Lembro que quando fui a Buenos Aires ia ter um show dela e eu meio que ignorei. Me arrependo até hoje! hehehe

Grande abraço