20 de ago. de 2010

Drastic Fantastic – Três discos em um

álbuns (nunk excl)drastic 1

**** (4/5)

Chega a ser hipocrisia exigir algum tipo de unidade a um músico. Especialmente para quem faz música pop, o segredo do sucesso lôngevo é abrosver referências o tempo todo, brincar com estilos diferentes e compor em função da mensagem, e não do estilo. Assim, seria equívoco meu condenar Drastic Fantastic, o segundo disco da escocesa KT Tunstall, por concentrar três estilos bem distintos em uma coleção de onze canções. E não deixa também de ser verdade que a intérprete e compositora já havia mostrado seu lado pop, country e folk na obra anterior, o excepcional Eye to The Telescope. Não é surpresa encontrá-los por aqui. Os conteúdos são os mesmos, mas as embalagens… quanta diferença!

Tunstall não foi exatamente um estouro de vendas em sua primeira gravação, apesar do sucesso estrondoso do hit “Suddenly I See”. Aqui, ela procura buscar com mais afinco o caminho para ser mais bem-sucedida comercialmente, e não parece encontrar grandes dificuldades para encontrá-lo. Apesar de não ter funcionado muito bem na prática, teoricamente os truques de Drastic Fantastic são coisa de quem entende do riscado. O problema é que, para quem procura apreciar música por ela mesma, e não por seu êxito comercial, e especialmente para quem se apaixonou pelas interpretações “almadas” de Tunstall, a produção refinadíssima entra na frente, com freqüência demais, da voz da cantora.

Talvez por isso seja um respiro a faixa final, Paper Aeroplanes, uma canção quase acústica e sem retoques digitais, com a voz de Tunstall soando clara por cima de uma melodia melancólica que lembra as melhores viagens de Norah Jones sem perder a própria identidade. É o que há de melhor, e mais atípico, em Drastic Fantastic. Se te agrada ou não, não estou aqui para dizer. Certeza mesmo, só a de que KT pode fazer melhor.

Disco Um” – Na cola do Black Horse (country)

Hold On – (Faixa 05) – Letra Tunstall. Música Tunstall, Case.

A influência do sucesso country menor do álbum anterior, a empolgante “Black Horse and The Cherry Tree”, é mais do óbvia, com a batida fragmentada e a levada constante. Tunstall arquiva uma interpretação carregada de vitalidade que carrega uma letra meio desconexa nas costas, dando algum sentido a produção realizada com cuidado excepcional por Ed Case. Daquelas que dá vontade de gritar “hit!” a cada acorde e virada de ritmo.

Whitebird – (Faixa 03) – Letra Tunstall. Música Tunstall.

Aqui a derivação é muito mais lírica e temática do que musical. Apesar de ser claramente country, a canção traz o dedilhar de violão característico das canções mais cadenciadas do estilo, com KT desdobrando-se em uma interpretação corajosamente contida por cima do instrumental. A letra metafórica é que lembra “Black Horse”, se tornando uma sensível auto-reflexão que é ajudada por uma produção mais sutil do que na maioria das faixas do disco.

Disco Dois” – Dido? Nem pensar! (pop)

Funnyman – (Faixa 04) – Letra Tunstall. Música Tunstall, Terefe.

Talvez um dos poucos acertos em cheio do pop desse disco, a canção de Tunstall feita em parceria com Martin Terefe, com quem a escocesa esteve em “The Other Side of The World”, funciona a perfeição com um instrumental crescente e surpreendente, uma letra agridoce e interpretação segura o bastante para jogar em campo seguro enquanto a produção dá seu show particular, mantendo a personalidade de Tunstall e jogando com sons mais pop do que nunca.

Hopeless – (Faixa 06) – Letra Tunstall. Música Tunstall.

É difícil pensar que a mesma compositora inteligente o bastante para produzir “Funnyman” tenha caído na armadilha de explorar um teritório que, absolutamente, não é o seu. O instrumental dessa sexta entrada do álbum lembra, no começo, o surf de Colbie Caillat, e a interpretação insossa de Tunstall é uma surpresa tão grande quanto a falta de graça e elegância da música como um todo. Na voz de Colbie, talvez funcionasse. Aqui, soa um peixe completamente fora d’água.

I Don’t Want You Now – (Faixa 07) – Letra Tunstall. Música Tunstall.

A letra meio revoltada, meio triunfante de Tunstall, que celebra a sabedoria do ser humano sem esquecer que todos nós erramos, e bastante, casa bem com um instrumental que prova que, já que o indie hoje é pop, nada como mexer um pouco nesse vespeiro para criar uma canção bonitinha, digerível e grudenta. É difícil atrelar esses adjetivos a KT, mas as guitarras anormalmente pesadas e as viradas em última instância empolgantes convencem qualquer um.

Disco Três” – De volta as raízes (folk/blues)

Beauty of Uncertainty – (Faixa 09) – Letra Tunstall. Música Tunstall.

A letra não se estende demais no que quer passar, casando perfeitamente com o título da música (certezas é o que você não vai achar aqui, mas talvez faça-o apreciar mais as dúvidas) e com o instrumental grave que permite a voz de Tunstall um brilho inédito nesse disco. Ela soa como um sussurro meio incômodo, meio belo, no pé do ouvido, que nos diz coisas verdadeiras sobre uma melodia carregada por um instrumental crescente e encantador. Belíssimo, belíssimo.

Someday Soon – (Faixa 10) – Letra Tunstall. Música Tunstall, Hogarth, Dixon.

A canção de mudanças e expectativas que Tunstall preparou carinhosamente como uma mistura acertadíssima de pop e folk funciona belamente, com a produção sofisticada dando polimento a uma melodia já naturalmente encantadora, mas jamais interferindo no cerne da composição e da interpretação medida da cantora. Talvez seja a canção do Drastic Fantastic que mais remeta a mistura competente do álbum anterior, e não aos extremos de gênero que reinam por aqui.

Faixas extras” – Completando o setlist… Little Favours (Faixa 01)                                                    -                                                                                                   If Only (Faixa 02)                                                                 -                                                                                                   Saving My Face (Faixa 08)                                               -                                                                                                   Paper Aeroplanes (Faixa 11)                                            -

drastic 2 drastic 3

Funnyman, you got a plan/ To be something wonderful/ Funnyman, listening to the words/ Turning on yourself/ Turning into a brand new universe/ Funnyman, you’ll never be anything else”

(KT Tunstall em “Funnyman”)

1 comentários:

Fabio Christofoli disse...

Como disse no post anterior, eu discordo um pouco e gosto mais desse álbum. Aliás, gosto da criticada Hopeless (na verdade eu gosto de meia música, mais do refrão) hahahhaha
Mas gostos são gostos né? É bom poder discordar de uma pessoa sensata e que apresenta bosn argumentos e que deixa aberto a possibilidade de pontos contrários.
Enfim, trata-se de uma grande artista.. Vamos torcer para que ela venha para o Brasil!