por Caio Coletti
“Eu amo outro, e por isso eu me odeio”. Essa citação do poeta Sir Thomas Wyatt (veja o original aqui) é usada pela britânica Tahliah Barnett na introdução do seu ainda não lançado LP1, o primeiro álbum de uma carreira que começou em 2012. Conhecida pelo pseudônimo FKA Twigs, a moça liberou o primeiro EP, em companhia de vídeos para as quatro canções, em Dezembro daquele ano, revelando o ponto alto de uma transição de dançarina de backup em vídeos de divas pop (incluindo "Price Tag", da Jessie J) a fashion icon da cultura underground, e finalmente a artista de frente. Ambição é o que não falta para ela, mas Twigs é na verdade uma garota de 26 anos a procura de aperfeiçoamento próprio.
Em entrevista ao Pitchfork, a moça falou sobre o sentido de usar a citação de Sir Wyatt como introdução para o álbum: “Eu amo a minha música, então eu quero produzir, escrever e servir minha música. Eu tive que aprender sobre equalização, programação, e tive que melhorar como pianista e baixista, tudo isso. Você pode ter grandes aspirações, mas aí você descobre que que seu nível de habilidade ou suas inseguranças estão te prendendo. Então você começa a se odiar”, disse ela. O resultado dessa paixão auto-destrutiva é uma produção musical que melhorou exponencialmente desde o EP1 (acima), aquele lançado em 2012.
Nos últimos dois anos, o som de Twigs perdeu muitas características que trazia diretamente do eletro, suavizando os timbres dos sintetizadores e realçando cada vez mais a voz de soprano da moça, que sempre tem o efeito de fazer a melodia parecer leve como uma pluma. Pouco a pouco, a britânica se distanciou de suas colegas emergentes do pop e passou a fazer um som muito próprio, misturando tendências do R&B minimalista contemporâneo com elementos eletrônicos e múltiplas camadas vocais. FKA Twigs, em suma, é uma expressão muito urgente de um novo pop avant-garde.
Isso fica muito claro no EP2 (abaixo), do ano passado, que trouxe as duas canções mais ouvidas da artista até hoje: a climática “Papi Pacify”, que veio com um polêmico e hipnotizante vídeo que representa o melhor do que Twigs pode fazer visualmente (e não é pouco, com sua produção refinada e sua expressão intensa da sensualidade agressiva); e a lindamente composta “Water Me”, que ficou famosa por realçar os traços exóticos da cantora no vídeo.
Depois de toda essa infiltração no mundo musical, Twigs parece estar pronta para encarar os holofotes do seu primeiro álbum completo, que sai no dia 12 de Agosto. Segundo ela, o tempo que passou como dançarina e cantora de um show de cabaré ajudou nesse sentido: “Agora eu me sinto destemida em relação as minhas ideias e minha performance no palco, uma vez que eu encarei plateias tão difíceis, como um cômodo cheio de homens bêbados que vieram para o cabaré porque acharam que iam ver garotas nuas. Mas quando eles chegam, eles veem artistas circenses bizarros, e eu cantando jazz, e um garoto plantando bananeiras. Então você tem que ser capaz de controlar aquela plateia, hipnotizá-los e cativá-los no palco”, ela contou ao Pitchfork.
A julgar pelas músicas e pela bizarra imagem de Twigs como uma deusa antiga que serve água para suas súditas direto do próprio dedo (sério, nós não conseguimos uma melhor descrição), que domina o vídeo de “Two Weeks” (abaixo), o primeiro do LP1, a missão está mais do que cumprida. Dado o distanciamento necessário, não é de se duvidar que no futuro olharemos para FKA Twigs e veremos a Björk da nossa geração.
Pra quem gosta de: Björk, Ellie Goulding, iamamiwhoami, The Weeknd, Drake, Chet Faker
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