por Talita Rodrigues
Os Desconfiados
No mínimo, suspeito. Toda e qualquer atitude que ocorra sem motivo aparente é merecedor de investigação. Afinal, tudo que acontece no mundo tem um por quê; uma razão de ser. Esses são os desconfiados, procurando respostas em meio aos comportamentos que não podem entender. Quase tão intrigados quanto os questionadores, estes não podem lidar com o simples fato de acreditar. Colocar a mão no fogo por alguém é como assinar uma sentença de morte, sem volta. São os que pensam mil vezes antes de tomar uma decisão e analisam neuroticamente suas próprias palavras. São mestres na prática de "ficar com o pé atrás". Confiança é um assunto sério demais para eles. Levam tempo para confiar nos outros, mas qualquer passo em falso pode destruir tudo em questão de segundos. Nesse ponto, chegam até a parecer cruéis. Eles não esperam a perfeição, mas não toleram traições, sejam elas físicas ou mentais. Olham misteriosamente, penetram nos outros olhos, duvidam.
Às vezes, a desconfiança deles é confundida com solidão. Mas, não é proposital. Acontece que nem todos são capazes de esperar tanto tempo para serem dignos de confiança. E nessa jornada, os desconfiados acabam sendo deixados de lado e são vistos como pessimistas, infelizes.
Triste mesmo é que ninguém nunca parou para tentar compreender a causa de tamanha cautela. O que sucede é que os desconfiados de hoje foram os apaixonados, intensos e sonhadores de antes. Foram os que apostariam a vida pelo outro, os que acreditavam na verdade e que eram, muitas vezes, inconsequentes. Seguiam o coração e não pensavam nas consequências. Até o dia em que elas chegaram. Dor, ilusão e mais dor. Sem o chão no qual pisavam, os intensos perceberam que a vida não é justa e que as pessoas têm mais defeitos do que qualidades. E foi nesse dia, que eles se transformaram nos desconfiados. Aqueles que duvidam de tudo, até da própria sombra. Os que não se entregam, os que não se revelam. Vivem atrás de seus pensamentos, esperando que algo - ou alguém - possa valer um espaço dentro deles. Os desconfiados são apenas o resultado da decepção. São os fiéis soldados nessa luta. Na luta contra a injustiça.
Os Sinceros
Sinceridade demais é veneno. Chega a parecer grosseria e falta de educação. Sair por aí atacando as outras pessoas, ou discordando delas, simplesmente, para ser dizer diferente (do contra) não significa ser sincero. A sinceridade começa quando deixamos de mentir para nós mesmos e aceitamos nossa natureza, humana e torta. E não quando nos rotulamos donos da opinião própria.
Sincero é o sorriso que se ganha no reencontro, o olhar que parece parar o tempo. Sincero é um abraço de saudade, uma lembrança dos velhos tempos e o desejo de mudar e acreditar novamente. Sincero é não ter interesse, é almejar a felicidade do outro mesmo que ela se encontre longe da nossa. Esse sentimento é tão espontâneo que, muitas vezes, nem o percebemos nas coisas mais simples do dia-a-dia.
Creio que conheci poucas pessoas que me presentearam com sentimentos sinceros. E eu gostaria de agradecê-las, mas algumas resolveram se ausentar da minha vida, pelo menos por enquanto. E pode até parecer negatividade, entretanto não consigo encontrar verdade nem em metade das palavras que ouço hoje. É pessimista, eu sei. E eu espero que minha visão possa mudar algum dia, sinceramente.
Leiam o resto da série aqui –> Poeta de Parede
“There’s definitely, definitely, definitely no logic/ To human behaviour/ But yet so, yet so irresistible/ And me and my fear cannot” (Björk em “Human Behaviour”)
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