17 de dez. de 2011

Talk That Talk – Rihanna, de cantora a ícone pop.

s

**** (4/5)

É fácil, ao analisar a carreira de Rihanna, especialmente desde o Good Girl Gone Bad, de 2008, como uma orientada por decisões mercadológicas espertas, e pouco mais do que isso. É fácil também, ao perceber que o Talk That Talk é lançado cerca de um ano depois de sua última e mais definitiva coleção de inéditas, o ótimo (e absurdamente bem-sucedido) Loud, julgá-lo como um álbum apressado, com a pura intenção de vender algumas cópias a mais, produzir uma mão cheia de singles e manter a coroa de uma das majestades pop da atualidade confortavelmente pousada na cabeça da cantora barbadiana. Mas quem ouviu o Rated R, quem entendeu o Loud e quem é capaz de apreciar arte pop orientada fortemente pela personalidade de quem a faz vai perceber que, ainda que soe, sim, um pouco precipitado, esse Talk That Talk é, muito mais do que isso, um álbum urgente. E cheio de excelentes decisões.

Para começar, esse novo álbum, em parte, vai muito mais longe na missão de se aproximar do eurodance (a mesma orientação que produziu o indiscutível hit “Only Girl (In The World)”), do que aquele que o precedeu. Bom exemplo disso são “Where Have You Been” e o primeiro single, “We Found Love”, ambos com a mão do produtor e DJ britânico Calvin Harris. A segunda conta até com o nome do mesmo, creditado como participação especial. Também, pudera: a composição do single é um trabalho solo de Harris, que ainda a produz, com seus teclados e sintetizadores vindos direto do dance dos anos 90 apoiando uma boa letra que Rihanna, como em cada uma das faixas desse Talk That Talk, toma para si com paixão e personalidade notáveis. Talvez parente temática de “S&M”, “We Found Love” trascende os limites da ode suja ao sado-masoquismo (embora fale com algum prazer de um amor ruim) e cria de uma premissa pop resumida em uma única frase, no refrão, um leque de significados extremamente interessante. Rihanna deixa as suas dinfunções amorosas para trás, mas celebra o fato de ter achado esse amor em “um lugar sem esperança”.

Por outro lado, ao mesmo tempo que mergulha de cabeça nesse contexto eurodance, Rihanna também ensaia uma reaproximação do hip hop que dominava o Good Girl Gone Bad. Tal influência é claramente sentida na segunda porção do álbum, definida pela parceira com Jay-Z na canção-título, “Talk That Talk”. Disfarçada de nova “Umbrella”,  essa versão 2.0 de “What’s My Name” conta com o monotom sexy de Rihanna (um recurso que, independente de estar no repertório da cantora há tempos, ainda não carece de apelo), com um bom refrão e climatização excelente de produção, que garante três minutos de entretenimento hip hop, mas não a primazia e entrega que Rihanna é capaz de mostrar em seus melhores momentos. “Cockiness (Love It)” tampouco o faz, é verdade, mas a faixa ainda tem a considerável vantagem de ser um triunfo de criatividade. A melodia surpreende a cada quebra de ritmo, a harmonia vocal que leva a canção, junto com a batida, lembra um pouco as produções de Timbaland e, ainda mais de leve, o electroclash de artistas como Peaches. É, de novo, a alquimia de artista pop funcionando a todo vapor em um álbum de Rihanna.

No território das baladas, o Talk That Talk toma uma abordagem tão musical e tematicamente variada quanto a do Loud. “We All Want Love” é levada por um riff de guitarra derivado do melhor do indie britânico (leia-se The Kooks, Strokes), mas tem o sabor tropical que é uma das assinaturas de Rihanna, e conta com o seu carisma vocal (que não é pouco) para levar adiante melodia e letra que sugerem um hino de apelo universal cujo maior triunfo, no final das contas, é ser quase exageradamente adorável. “Farewell”, a faixa que encerra o Talk That Talk, é uma power ballad de primeira, remetendo a uma abordagem mais tradicional das longas notas de “Complicated” (mas não demonstrando tanto o desempenho vocal de Rihanna) ou mesmo a canção “Firebomb”, do Rated R. Ao cantar “Adeus, alguém vai sentir sua falta”, ela pode estar dando adeus a si mesma na encarnação perturbada que vimos no Rated R ou no escapismo imediato do Loud. Pode, também, estar dando voz aos próprios fãs, cantando que “seria ainda pior se você não tomasse a estrada”, indicando que uma mudança de direção é fundamental para manter-se fiel a si mesma. Talvez a gente vá sentir, sim, falta da Rihanna que dava voz as nossas feridas e fazia-as instrumento da própria auto-estima. Mas vê-la e ouvi-la assim, apaixonada por si mesma e por tudo o que ela se tornou, é ainda melhor.

Tudo muito interessante, mas “Drunk On Love” é, em absoluto, uma outra história. Com o sample de uma canção da banda alternativa The xx, mais a sequencia de sintetizadores inspirada no clima de “Te Amo”, é dificil no entanto não se ver completamente cativado pela interpretação mais intensa e entregue de Rihanna. Assim como ela, “Drunk on Love” é forte, decidida, de emoções primárias… mas também absurdamente vulnerável.

É esse o ponto do Talk That Talk, afinal. Seja retomando um pouquinho da inocência (na faixa de abertura, “You Da One”), mergulhando de vez no eurodance, adereçando mensagens universais que soam menos feridas e mais otimistas ou simplesmente jogando um pouco do sex game no qual ela se colocou como rainha, a Rihanna desse novo álbum está muito mais confortável para pôr sua alma para fora atrás de um microfone. E é por isso que, excelente ou apenas competente, cada faixa do Talk That Talk é tão totalmente dela. No contexto da música pop atual, Rihanna toma o lugar único daquelas que, apenas com a própria voz e personalidade tornada em arte pop, sem encenações e por vezes até fazendo da falta delas o seu maior triunfo, são capazes de cativar um público gigantesco.

talk that talk 2 talk that talk 3

Take me away/ I wear my heart on my sleeve/ Always let love take the lead/ I may be a little naive/ You know I’m drunk on love!/ Drunk on love!/ Nothing can sober me up/ It’s all that I need” (Drunk on Love)

Suck my cockiness, lick my persuasion/ Eat my poison and swallow your pride/ Down down/ Place my wants and needs over your resistance/ And then you come around/ You come around/ You come around” (Cockiness)

2 comentários:

Livre como a arte deve ser disse...

LINDA<PERFEITA!!!! O cd é MARAVILHOSO ela sempre se supera.
Rihanna Navy

222 disse...

Ótima resenha!