8 de dez. de 2011

Cópia Fiel (Copie Conforme, França/Itália/ Bélgica, 2010)

copie coforme 1

por Caio Coletti

Talvez o mais celebrado de um time grande de cineastas iranianos que dominaram o circuito dos festivais europeus no século XXI, Abbas Kiarostami, como quase todos os seus conterrâneos, já teve e ainda tem problemas com a sua terra natal e a mão-de-ferro do governo de Mahmoud Ahmadinejad. A parte ruim disso são os longos períodos que, às vezes, ele e outros grandes diretores precisam passar sem filmar. A boa são produções cosmopolitas, com ritmo europeu, que deixam o cineasta a vontade para praticar sua arte. Produções como esse Cópia Fiel (tradução digna, que milagre, para o original Copie Conforme), que chega a terras brasileiras com o selo de qualidade do Festival de Cannes de 2010, que prestou homenagem a Juliette Binoche, laureando sua atuação como a dona de uma loja de antiguidades, mãe de um garoto e esposa de um marido ausente, cujo destino se cruza com o do escritor interpretado pelo barítono de ópera William Shimell em uma tarde de diálogos intensos na Toscana italiana.

Três línguas (francês, italiano e inglês) são ouvidas durante os 106 minutos de Cópia Fiel, e é absolutamente notável como Kiarostami consegue dirigir seus atores e sua mise-en-scene num sentido em que essa pluralidade toda seja apenas natural. O roteiro do próprio cineasta é um primor de diálogo, mas também de construção de dois personagens magníficos. Mesmo que se concentre tanto nas angústias da Elle de Juliette Binoche, o script encontra tempo, sem se tornar cansativo por isso, para nos dar um bom panorama do leque emocional e conceitual de alguém como o James Miller de Shimell. Cópia Fiel mantem com tal naturalidade o interesse de quem o assiste com alguma boa vontade justamente porque é capaz de percorrer uma gama de emoções, sensações e raciocínios ampla em, relativamente, pouco tempo. E, claro, pelo carisma mais do que fundamental de um elenco reduzido aos dois protagonistas.

Juliette Binoche é superlativa, e isso nem mesmo basta para descrever sua atuação. Em certa cena, num dos diálogos mais intensos com seu par, num pequeno café italiano, a atriz representa um pequeno desmoronamento emocional, uma progressiva tristeza surgindo em seu olhar, fragilidade vindo a tona na expressão de seu rosto. É o trabalho de uma atriz que conhece bem o bastante o ser humano para construir uma muralha em torno do seu personagem, e fazê-la cair, assim, em alguns segundos, com alguns olhares. Binoche é adorável, elegante, graciosa, e é fácil de identificar-se com ela. É um caso raro de carisma puro combinado com talento descomunal. Seu par em cena, William Shimell, também surpreende com uma atuação classuda, detalhista e muito resistente, mas ainda assim expressiva e acertada o bastante para seguir sempre a altura de Binoche, ainda que o filme seja indiscutivelmente dela.

Na força desses dois protagonistas, nas suas suposições filosóficas intrigantes sobre a validade da arte e da cópia, na reflexão intensa que faz das oportunidades que temos da vida, na sensibilidade com que é guiado, Cópia Fiel é cinema para quem gosta do ritmo europeu, com certeza, e para quem não se importa com toneladas de diálogo ao invés de ação fisica. Mas é também um filme que ganha-nos por, em meio a tantas nacionalidades, demonstrar que a emoção e o arrependimento humanos são, por definição, universais.

Nota: 10

copie coforme 2 copie coforme 3

Cópia Fiel (Copie Conforme, França/Itália/Bélgica, 2010)

Escrito e dirigido por Abbas Kiarostami…

Estrelando Juliette Binoche, William Shimell…

106 minutos

0 comentários: