por Caio Coletti
Silent Hill, Frankenstein, Lost, Jogos Mortais… Declaradas ou não, todas essas fórmulas vêm misturadas em Projeto Labirintho, o próximo romance do meu caro amigo Renan Barreto, parceiro de longa data aqui d’O Anagrama e autor do Renan Barreto Online. Mas elas aparecem nessa mistura ao lado do toque pessoal de um escritor competente que tem uma história de fato muito intrigante para contar. No decorrer das 152 páginas do seu novo romance, Renan se mostra capaz de brincar com as influências de sua formação (de espectador, leitor e gamer) sem perder o toque pessoal e o sentimento de suspense necessário a trama, marcas registradas de um escritor com personalidade e talento incontestáveis. Para quem está por dentro do universo em que ele se situa, é uma experiência de leitura e tanto.
Talvez a parte mais interessante de se observar nesse Projeto Labirintho seja a construção intensa de personagens que o escritor empreende com seu protagonista, Harry, e o misterioso Frank, que parece o acompanhar em todos os momentos críticos da trama. Harry é um homem traumatizado por um acontecimento de sua juventude, que abandonou o sonho que o próprio pai lhe impôs para construir uma vida sem muito sentido, e vazia, como a de todos os que aparecem presos com ele nessa jornada. Katherine perdeu os pais quando criança, e se perdeu do irmão, Luan, anos mais tarde. Ricardo é um mochileiro sem teto fixo e, portanto, sem família. Nenhum dos três tem para quem voltar. Talvez por isso seja ainda mais instigante vê-los perdidos, juntos, na selva tropical, vigiados constantemente por Frank e Igor, o deformado e enlouquecido personagem inspirado no ajudante do próprio Doutor Frankenstein de Mary Shelley.
Há um trecho em particular em que Harry conversa com Frank, preso em uma cela sem portas, que sintetiza muito bem, nos diálogos diretos e no jogo de perguntas e respostas, a competência de Projeto Labirintho ao lidar com os personagens e com a complexa trama a que se propõe: sem complicar demais na escrita, Renan Barreto nos leva para um trajeto que, se não é muito tortuoso para um suspense (mas tem seus momentos apreensivos), rende 152 páginas de um brilhante entretenimento e ainda reflete, na complexidade de seus protagonistas, a vida meio vazia de todos nós, presos nesse labirintHo da vida cotidiana.
“Nem todos nós estamos livres. Às vezes nossos labrint(h)os não estão lá fora, mas dentro de nós mesmos. Nos prendemos sem querer, nos libertamos sem saber. O que é ser livre, afinal?”
(Renan Barreto em “Projeto Labirintho”)
1 comentários:
Ah, fazia um tempo que não via nada do Renan. Tomara que a distribuição do livro seja boa pra que compre uma cópia aqui em Brasília.
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