Você já parou para pensar no que você teme? É estranho pensar assim, mas basta refletir para concluir que, na sociedade moderna, o medo se tornou algo tão natural quanto a respiração. Em meio ao medo da violência urbana, dos desastres naturais e de todos os outros males da nossa época, sentir-se intimidado é tão natural do ser humano no século XXI que assumimos certos medos sem nem mesmo perceber. Quando deixamos de dizer o que sentimos, quando decidimos manter a postura e a aparência mesmo naquele momento em que estamos quebrados em pedaços por dentro. Quando decidimos sorrir sem querer de verdade fazê-lo. O que dizemos, então, senão que temos medo de assumir nossa própria humanidade?
Temos medo do futuro. Temos medo do passado. E temos medo do presente, porque ele já foi futuro e um dia vai ser passado. Temos medo de nos arrepender e, por isso, medo de nos arriscar. Temos medo de abraçar, de olhar longamente, de sorrir sem motivo nenhum. Temos medo de parecer ridículos. Uma dica: não está funcionando muito bem. Temos medo da catarse, saia ela em forma de lágrimas, de palavras ou de um simples pedido de ajuda. Temos medo de precisar de ajuda e, por isso, ser julgados como dependentes. Temos medo de amar. Temos medo de não ser amados de volta. E, ao mesmo tempo, talvez por causa de todos esses medos, temos medo de ficar sozinhos. Porque no silêncio, no escuro, não sabemos mentir. Temos medo de ser sinceros, e machucar ou afastar alguém.
Temos medo do sobrenatural. Temos medo de morrer. Temos medo de nosso tempo acabar e de não ter vivido o bastante até lá. Temos medo do que vem depois. Temos medo de saber o que veio antes. Temos medo do que não conhecemos, e medo do que conhecemos bem demais. Temos medo da proximidade. Temos medo de mentir para nós mesmos e só perceber quando for tarde. Temos medo de errar. Temos medo das conseqüências.
E precisamos encarar que, no meio de tanto medo, não dá para simplesmente pedir que sejamos os seres mais destemidos do planeta. Aquele que não tem medo nenhum não é corajoso: é tolo. Mas que esse medo seja apenas mais um incentivo para que insistamos em passar por cima dele. Façamos do medo um combustível, não um freio. E que tenhamos um só medo justificado, e inescapável: o medo de parar de mudar. Porque um homem estático é um homem morto.
“I don’t know what’s right and what’s wrong anymore/ I don’t know how I’m meant to feel anymore/ When do you think it will all become clear?/’Cause I’ve been taken over by the fear” (Lily Allen em “The Fear”)
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