25 de abr. de 2010

Boletim Cinéfilo Mensal (Abril/2010)

Notícias (nunk excl) boletim abril 1

O rosto (e o registro em celulóide associado a ele) é de um dos mestres do cinema do século XX, mas a reputação, ao menos nesses últimos meses, tem sido mesmo a de criminoso. Ironicamente, foi logo depois de completar o célebre suspense O Inquilino, que também protagonizou, sobre um tímido burocrata que aluga um apartamento cujo dono anterior cometera suicído e suspeita que seus vinzinhos conspiram para que ele acabe fazendo o mesmo, que Roman Polanski viu-se em um avião com destino a Europa, na condição de foragido da justiça americana. A acusação veio de Samantha Geimer, uma jovem americana, na época menor de idade, que prestou queixa de abuso sexual contra o diretor, exatos oito anos depois do brutal assassinato da esposa deste, a atriz Sharon Tate, pelo célebre psicopata/neonazista/líder-de-seita Charles Manson. Desde então, Roman se tornou o primeiro fugitivo da justiça a vencer um Oscar, o de melhor direção pelo filme de guerra O Pianista, que Harrison Ford aceitou pelo amigo, seu diretor em Busca Frenética, e veria o quarto de seus filmes a estrear em Berlim, The Ghost Writer, lhe garantiu o Urso de Prata de Melhor Direção, se a justiça não o tivesse surpreendido em setembro passado, quando chegava a Zurique para receber um prêmio honorário.

De lá para cá, ele esteve encarcerado em seu chalé na estação de ski de Gstaad, na Suíça, e por enquanto espera o veredicto do Ministério da Justiça polonês, chefiado pelo aparentemente indeciso Folco Galli, que disse esperar um pedido formal do tribunal ianque para efetuar a extradição do cineasta. O que tem provocado mais comentários sobre o caso de polícia que se tornaram esses últimos trinta anos de vida do cineasta, no entando, é o fato de que a vítima Samatha Geimer, hoje casada e mãe de dois filhos como o próprio cineasta, já disse ter perdoado seu agressor e tentou diversas vezes fazer a justiça americana declarar o caso como encerrado. Depois da tentativa de arranjar um julgamento sem a necessidade de extradição de Polanski, o advogado Hervé Témime agora espera que as autoridades da terra natal do diretor tomem a decisão que ele define como “dizer a verdade e devolver de uma vez por todas a liberdade” ao seu cliente. Enquanto a novela não alcança seus capítulos finais, resta conferir o que o cineasta pôde fazer na ilha de edição de The Ghost Writer, mesmo a distância.

O que o trailer da nova obra mostra, ao menos, é um suspense dramático de alta tensão, desses que parecem estar na moda entre os diretores veteranos. Para efeitos de comparação meio toscos, The Ghost Writer, aparentemente, é o Ilha do Medo de Polanski, com uma pequena diferença: saem os estudos sobre a psique humana, entram as tramóias políticas em que um escritor (Ewan McGregor) se envolve ao aceitar redigir a “auto-biografia” de um polêmico primeiro-ministro britânico (Pierce Brosnan). Detalhe: a adaptação da novela de Robert Harris é o primeiro roteiro próprio que Polanski dirige desde 1999, quando chegou aos cinemas O Último Portal, estrelado por Johnny Depp. Em terras brasileiras, dá para conferir a peripécia do cineasta (e futuro presidiário?) a partir de 28 de Maio.

boletim abril 2

A vida é assim: enquanto uns vêem a própria liberdade ameaçada por algo que o tempo feixou para trás há décadas, outros colhem os louros de triunfos bem mais recentes. Quando Gladiador estreou em 2000, se tornando um dos maiores fenômenos de bilheteria e crítica do ano, só se falava de Ridley Scott e do novo astro que este “criara”, o australiano Russel Crowe. O diretor, veterano de quatro décadas dedicadas ao cinema e comandante de clássicos do pedigree de Blade Runner – O Caçador de Andróides, Alien – O Oitavo Passageiro e Thelma & Louise, sentiu pela primeira vez o gosto do reconhecimento universal ao trazer de volta à moda os épicos de capa e espada que um dia foram o forte da produção hollywoodiana. Tempos de Ben-Hur e Cleópatra, obras em que Scott se inspirou sem por isso perder a atenção da platéia moderna, em muitos sentidos mais cínica e exigente em relação a espetáculos e jornadas de personagem. O triunfo dele que é, indubitavelmente, um dos grandes mestres de câmera do cinema mundial, foi o começo de um longo processo que culmina com a definição de 2010 como o ano cinematográfico dos épicos. E entre Louis Letterier com Duelo de Titãs, Mike Nichols e seu Príncipe da Pérsia e até o chinês John Woo com o recente A Batalha dos Três Reinos, Scott volta a mostrar toda a sua perícia em comandar espetáculos grandiosos com o explosivo Robin Hood. Ah, e Crowe bateu cartão por lá, também.

Dono de uma produção atribulada que incluiu a troca de atrizes para viver Lady Marian (de Sienna Miller para Cate Blanchett, eu ouvi alguém reclamando?) e uma total reformulação do roteiro, Robin Hood passou de subversão em que Crowe interpretaria tanto o herói-título quanto o vilão, o Cherife de Nottingham, para trama de origem que, no melhor estilo “estudo-de-personagem-com-batalhas-épicas”, mostra como o homem Robin Longstride (Crowe), se tornou o herói Robin Hood. O processo inclui o sueco Max von Sidow no papel misterioso de um certo Sir Walter Loxley, William Hurt encarnando o personagem real William Marshall, descrito por vários autores como “o maior cavaleiro que já viveu”, Danny Huston assumindo o fardo que já foi de Patrick Stewart e Sean Connery, em filmes diferentes como o rei inglês Ricardo Coração-de-Leão, e até o semi-desconhecido Matthew MacFayden, o cara da vez como o vilão de Nottingham. O roteiro é de respnsabilidade de Brian Helgeland, conhecido por textos díspares em qualidade, tais quais Coração de Cavaleiro, Sobre Meninos e Lobos e até o recente Aprendiz de Vampiro. Resta saber se ele acertou dessa vez. Se a segunda prévia do filme a cair na rede for o bastante para algum julgamento, dá para esperar muito do novo Robin Hood.

Mas enquanto 14 de Maio não chega para os cinéfilos brasileiros, o filme de Scott vai fazendo uma notável carreira antes mesmo de estrear, sendo selecionado para abrir o Festival de Cannes 2010 e tendo rumores de continuação pipocando para todos os lados. O diretor, aliás, está com a corda toda em estrevistas, e soltou o verbo sobre o esperado quinto filme da franquia Alien, iniciada por ele em 1979, que estava cotado para dirigir. Segundo Sir Scott, o projeto está em fase de polimento de roteiro, se passa três décadas antes dos acontecimentos do primeiro filme, não deve ter Sigoruney Weaver no elenco (mas pode ser protagonizado novamente por uma mulher) e visa explorar como a nave encontrada pelos humanos no primeiro filme, lotada de ovos da criatura, foi parar lá. Os fãs esperam, ansiosos, que o mistério sobre o carinhosamente apelidado Space Jockey (a criatura mostruosa que pilotava a tal nave) seja enfim solucionado.

P.S.: Por falar em Cannes, o festival francês deve ser tema de uma série de posts a partir da próxima semana de cinema por aqui, então aguardem uma overdose de informações sobre o maior festival do mundo do cinema!

boletim abril 3

Estou com uma pilha de páginas aqui na minha frente. Acho que já é a quarta versão do roteiro. É um trabalho em andamento. Já sabemos como será a história, agora estamos trabalhando para melhorar os três atos e os personagens. Será ambientado em 2085, trinta anos antes de Sigourney. A questão é descobrir quem diabos é o Space Jockey. Aquele cara sentado na cadeira da nave alien, lembra dele? Acho que vou ter que redesenhar as versões preliminares dos elementos do primeiro filme, como o Face Hugger. Não quero repetir. Mesmo o alien, como design, já está desgastado. Quando a produção engrenar mesmo, certamente vou conversar com H.R. Giger. Talvez a gente ivente coisas completamente diferentes”

(Ridley Scott atende as preces que os fãs vem fazendo desde 1997 e enfim mostra entusiasmo para continuar a série da forma certa)

1 comentários:

Mateus Souza disse...

A Justiça norte-americana é burra. E essa perseguição à Polanski é mais um exemplo disso. A aplicação de uma pena nesse caso já perdeu o sentido.

Abraço.