31 de jan. de 2017

Diário de filmes do mês: Janeiro/2017

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por Caio Coletti

Nem todos os filmes merecem (ou pedem) uma análise complexa como a que fazemos com alguns dos lançamentos mais “quentes” ou filmes que descobrimos e nos surpreendem positivamente. É levando em consideração a função da crítica e da resenha como uma orientação do público em relação ao que vai ser visto em determinado filme que eu resolvi criar essa coluna, que visa falar brevemente dos filmes que não ganharam review completo no site. Vamos lá:

inferno

Inferno (EUA/Hungria, 2016)
Direção: Ron Howard
Roteiro: David Koepp, baseado no livro de Dan Brown
Elenco: Tom Hanks, Felicity Jones, Omar Sy, Irrfan Khan, Sidse Babett Knudsen, Ben Foster
121 minutos

Há um motivo pelo qual, apesar dre formulaicas e dotadas da profundidade de um pires, as novelas de Dan Brown funcionam tão bem: elas são envolventes, abarrotam o leitor de informação e criam a impressão de um suspense que, na realidade, o escritor não move um dedo para criar. É difícil notar que os livros de Dan Brown são ruins, e só por isso eles são entretenimento (no sentido de “distração”, mesmo) de primeira. É difícil traduzir isso para o cinema, e a dupla Ron Howard (direção) e Akiva Goldsman (roteiro) foi apenas parcialmente bem-sucedida na missão – é impossível não notar que as histórias de Brown perdem o peso, e consequentemente o impacto imediato que distrai de sua fórmula manjada, quando transportadas de um livro de 500 páginas para um filme de duas horas. Em Inferno, que chega sete anos depois de Anjos e Demônios, Goldsman passa o bastão no roteiro para David Koepp, que toma mais liberdades com o material original e, surpreendentemente, acaba criando um produto ainda mais inano por causa disso. Inferno não só “drena a gordura” do livro original (e, de novo, Brown sem “gordura” não é nada), como subverte as ideias marginalmente interessante que mantinham o leitor interessado em mais essa jornada de Robert Langdon por uma (ou algumas) capitais europeias tentando impedir um plano maligno.

Dessa vez, trata-se do bilionário Bertrand Zobrist (Ben Foster), que escondeu em algum lugar um vírus geneticamente criado para infectar e matar metade da humanidade, a fim de resolver o problema que Zobrist vê como o grande mal da atualidade: superpopulação. Ao lado da garota-prodígio Sienna Brooks (Felicity Jones), o simbologista passeia por Florença, Veneza e Istambul a fim de impedir o plano de Zobrist – ou será que não é bem assim? Como de costume, a trama nos passa uma “rasteira” previsível perto do final, e o filme desperdiça bons atores em papeis mal-escritos, enquanto Howard briga com um orçamento consideravelmente menor do que o dos outros capítulos da saga, o que impede Inferno de ter o visual polido e a bela fotografia de Anjos e Demônios, por exemplo. Aparentemente, Hollywood é capaz de tirar a alma até do mais culpado dos prazeres.

✰✰ (2/5)

busan

Invasão Zumbi (Busanhaeng, Coreia do Sul, 2016)
Direção e roteiro: Sang-ho Yeon
Elenco: Yoo Gong, Soo-an Kim, Yu-mi Jung, Dong-seok Ma, Sohee, Eui-sung Kim
118 minutos

A história do subgênero de zumbis dentro do cinema de terror é recheada de críticas sociais. Em A Noite dos Mortos-Vivos (1968), de George A. Romero, os zumbis representavam a paranoia da invasão comunista que se espalhava no Ocidente. Em The Walking Dead (2011-), representam a queda das regras de civilidade antigas da sociedade, para o bem ou para o mal. Em ambas as obras, e quase todas as dignas de nota entre elas, os mortos-vivos são apenas catalisadores da mudança humana, e da realização de que frequentemente nos colocamos como nosssos piores inimigos. Invasão Zumbi, filme sul-coreano que virou fenômeno por todo o mundo, aplica essa lógica ao nascimento de uma ideologia individualista que vê o outro como ameaça, e não como semelhante. É um tapa na cara do discurso anti-imigração que vemos crescer com consequências trágicas ao redor do mundo, e não deixa de ser um posicionamento político – o grande vilão do filme não é um zumbi, e sim um oficial do governo, que é movido pelo medo e pelo egoísmo a influenciar uma parte dos sobreviventes a se voltar contra outra; a lição que o protagonista falho precisa aprender é justamente que a união e solidariedade entre seres humanos é fundamental para a sobrevivência; e nossos grandes heróis são um pai de família que usa sua força para ajudar aqueles a sua volta e uma garota pré-adolescente capaz de oferecer seu assento a uma velha senhora mesmo quando está fugindo de zumbis.

Pode ser que o diretor/roteirista Sang-ho Yeon não seja sutil, mas quem disse que sutileza é fundamental para o cinema de gênero? Invasão Zumbi esfrega na nossa cara sua ideologia enquanto desfila competência e criatividade na direção, concepção visual e construção narrativa, já que é essencialmente uma incansável perseguição que nunca esgota suas formas de dificultar a vida dos protagonistas. Com 118 minutos, Invasão Zumbi é tão angustiante como thriller que parece ter muito mais – tal e qual o recente O Homem nas Trevas, é um exercício de masoquismo que recompensa o espectador com um final bem construído e uma experiência cinemática excepcionalmente inventiva. É o melhor filme do subgênero em anos, e vai ser difícil superá-lo.

✰✰✰✰ (4/5)

hell or high water

A Qualquer Custo (Hell or High Water, EUA, 2016)
Direção: David Mackenzie
Roteiro: Taylor Sheridan
Elenco: Ben Foster, Chris Pine, Jeff Bridges, Dale Dickey, Gil Birmingham, Katy Mixon
102 minutos

Eu queria muito ter amado A Qualquer Custo. David Mackenzie, o diretor britânico desse filme distintamente americano, é um dos meus cineastas preferidos em atividade, graças a seu trabalho incrível em Os Sentidos do Amor e Enarcerado. Taylor Sheridan é o roteirista que virou astro com Sicario, um filme que genuinamente me impressionou com sua construção de personagem e clima. Ben Foster, Chris Pine e Jeff Bridges estão entre os atores que eu sempre tenho prazer de ver em cena, especialmente a dupla de intérpretes mais novos, que parece criminalmente subestimada na maioria das vezes. Mesmo com tudo isso a seu favor, A Qualquer Custo ainda ficou devendo algo para mim quando seus créditos subiram, após 102 minutos de um faroeste moderno apropriadamente árido, espetacularmente fotografado e muito bem atuado, mas anêmico. Sheridan, em seu habitual cinismo e pendor para histórias sombrias, se esquece de fazer o mesmo que fez em Sicario, e nos dar uma jornada de personagem na qual o filme investe tempo e peso o bastante para que nos importemos com o que acontece nesse cenário desolador. A Qualquer Custo não é só um filme pessimista – é um filme frio, e o diretor Mackenzie, apesar de competente como de costume, parece visivelmente desconfortável com isso.

A trama acompanha dois irmãos (Foster e Pine), residentes de uma parte dos EUA coberta de poeira, em que o sistema bancário agiu como um câncer e deprivou os moradores e homens de negóciso de cada centavo que tinham no bolso. Nesse cenário, o personagem de Pine precisa de dinheiro para garantir que o banco não tome posse do rancho da família, onde foi encontrado petróleo – por isso, pede ajuda para o irmão recém-saído da cadeia, e os dois partem roubando pequenas quantias de bancos enquanto um policial astuto, às portas da aposentadoria (Bridges), os persegue. A fúria de Foster e a contumaz e cuidadosa construção de personagem de Bridges aprofundam personagens para muito além do roteiro, enquanto A Qualquer Custo caminha resoluto para sua conclusão contundente, mas nada expressiva.

✰✰✰✰ (3,5/5)

ice age

A Era do Gelo: O Big Bang (Ice Age: Collision Course, EUA, 2016)
Direção: Mike Thurmeier, Galen T. Chu
Roteiro: Michael J. Wilson, Michael Berg, Yoni Brenner
Elenco: Deni Leary, John Leguizamo, Ray Romano, Seann William Scott, Josh Peck, Simon Pegg, Queen Latifah, Keke Palmer, Jennifer Lopez, Jessie J, Max Greenfield, Adam Devine, Jesse Tyler Ferguson, Stephanie Beatriz, Nik Offerman, Michael Strahan, Wanda Sykes
94 minutos

A Era do Gelo nunca foi a franquia de maior qualidade no cenário da animação, mas não merecia o final cínico de uma continuação puramente mercadológica como O Big Bang, quinto filme da franquia, que decepcionou (relativamente) nas bilheterias. Isso porque, essencialmente, A Era do Gelo costumava funcionar como cinema graças ao afeto que nutria por seus personagens e pelas relações familiares que eles formavam. A simplicidade dessa premissa no primeiro filme foi esticada de forma perigosa, porém hábil, nos capítulos seguintes, até O Big Bang, que parece jogar qualquer pretensão narrativa para o alto e deixar as ideias mais piradas dos animadores ganharem asas – no pior sentido. É claro que a linha do tempo da saga está cada vez mais bagunçada, mas esse não é nem mesmo o maior problema, especialmente frente à história pouco inspirada do filme, que coloca os heróis como responsáveis por evitar a queda de um asteróide eletromagnético na Terra com a ajuda da doninha Crash, vista no terceiro filme (o dos dinossauros), tudo enquanto Manny e Ellie precisam lidar com Amora prestes a se casar e sair de casa.

As pinceladas temáticas nunca foram tão óbvias quanto aqui, enquanto os personagens antigos parecem cansados e manjados, visto que o roteiro não nos apresenta nada de novo ou interessante sobre eles – enquanto os filmes anteriores nos introduziam a facetas diferentes de Manny, Sid e Diego, ou pelo menos a consequências novas das personalidades que conhecíamos, O Big Bang repete conflitos previsíveis que nunca são entre os protagonistas, mas sim deles com terceiros. Com a animação mais desleixada da série, O Big Bang diverte em determinadas seções de sua história, especialmente ao apresentar alguns novos personagens, mas perde o frescor até nos segmentos estrelados pelo mascote Scrat, que nunca pareceram mais fora do lugar na saga.

✰✰✰ (2,5/5)

gott

A Garota no Trem (The Girl on the Train, EUA, 2016)
Direção: Tate Taylor
Roteiro: Erin Cressida Wilson, baseada na novela de Paula Hawkins
Elenco: Emily Blunt, Haley Bennett, Rebecca Ferguson, Justin Theroux, Luke Evans, Edgar Ramirez, Laura Prepon, Allison Janney, Lisa Kudrow
112 minutos

Eu sabia que Emily Blunt estaria incrível em A Garota no Trem. Para uma atriz da estatura da britânica, agarrar um papel como o de Rachel, uma recém-divorciada alcoólatra que mente para sua colega de quarto sobre ter sido demitida, é uma oportunidade única, e ela não a desperdiçou – mas se Blunt é a espinha dorsal de A Garota no Trem, toda desespero e arrependimento, é surpreendente notar que Haley Bennett e Rebecca Ferguson são o coração do filme. Na pele da jovem Megan, a quem Rachel observa do seu trem todos os dias, até o momento em que ela desaparece sem deixar traços, Bennett arquiva uma complexa e sedutora atuação que conseque o feito de não perder de vista, ao mesmo tempo, a banalidade pura da personagem e sua transcendência. Como Anna, a atual mulher do ex de Rachel, Ferguson é uma revelação, indo muito além do carisma e fisicalidade que demonstrou em Missão: Impossível 5 para superar, na base da sutileza, suas duas exepcionais companheiras de cena. Mesmo soberbamente atuado como é, no entanto, A Garota no Trem não consegue escapar de sua frivolidade como thriller maniqueísta, que pouco ou nada tem da complexidade do filme/livro mais relacionado com sua fama, o Garota Exemplar de Gillian Flynn e David Fincher.

A direção pesada de Tate Taylor não ajuda. O cineasta, responsável por Histórias Cruzadas, tem o hábito de reunir grandes elencos e deixá-los brilhar como nunca antes, mas também a mania de enterrá-los por baixo de uma direção burocrática. O roteiro fragmentado de Erin Cressida Wilson (Secretária) procura arredondar as pontas afiadas da novela original, mas encontra poucos caminhos para aprofundar a trama ou as personagens para além do que as atrizes são capazes de fazer. Filmado e musicado de forma eficiente, A Garota no Trem é como aquele produto tecnicamente perfeito que poderia ser transformador, caso se permitisse. Não é o que acontece, não importa o quanto o trio principal tente.

✰✰✰✰ (3,5/5)

peregrine

O Lar das Crianças Peculiares (Miss Peregrine’s Home for Peculiar Children, Inglaterra/Bélgica/EUA, 2016)
Direção: Tim Burton
Roteiro: Jane Goldman, baseada na novela de Ransom Riggs
Elenco: Eva Green, Asa Butterfield, Samuel L. Jackson, Judi Dench, Rupert Everett, Allison Janney, Chris O’Dowd, Terrence Stamp, Ella Purnell
127 minutos

Muito já foi dito sobre o motivo pelo qual os filmes de Tim Burton já não são mais os mesmos. Há uma parte do público que acha simplesmente que a “nova fase” do cineasta não é compreendida pelo gosto cinematográfico atual, e outra parte que acusa o diretor de cinismo corporativo por emprestar seu estilo visual para super-produções que não representam sua verdadeira voz cinematográfica. Eu gosto de pensar que Burton simplesmente não tem mais histórias para contar – aos 59 anos, 30 deles na ativa no cenário cinematográfico, o americano de Brubank, Califórnia esgotou seus impulsos criativos em filmes como Edward Mãos-de-Tesoura, Ed Wood, A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça, Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas e Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet. Quantos diretores você conhece que tem mais de uma mão cheia de grandes filmes em seu nome? Em retrospecto, é a partir desses filmes que vamos nos lembrar de Burton como artista, e suas investidas mais recentes, este O Lar das Crianças Peculiares incluído, são o resultado da apropriação de seu estilo por Hollywood – Burton não se improta em fazê-los porque eles lhe dão uma desculpa para continuar fazendo o que ama, e ele não pretende conjurar inspiração onde ela não existe.

Dito isso, O Lar das Crianças Peculiares tem uma trama adorável emprestada (e bastante modificada) do livro original de Ransom Riggs, uma protagonista excentricamente memorável na pele de Eva Green, e um senso de diversão kitsch que passa mais perto de Beetlejuice do que de Alice no País das Maravilhas. O resultado é um agradável conto infanto-juvenil, que adere a vários clichês do gênero, mas não incomoda por isso. A história acompanha um garoto (Asa Butterfield), que perde o avô (Terrence Stamp) e descobre que os contos fantásticos sobre crianças super-poderosas contados por ele eram verdade, sendo recrutado para lutar contra um nefasto vilão (Samuel L. Jackson) que ameaça a sobrevivência de todo esse “mundo paralelo”. Para quem ainda espera o retorno do Burton de verdade, esse não é o seu filme; para quem ainda não superou a onda de adaptações infanto-juvenis, talvez seja.

✰✰✰ (3/5)

hidden

Estrelas Além do Tempo (Hidden Figures, EUA, 2016)
Direção: Theodore Melfi
Roteiro: Allison Schroeder, Theodore Melfi, baseados no livro de Margot Lee Shetterly
Elenco: Taraji P. Henson, Octavia Spencer, Janelle Monae, Kevin Costner, Kirsten Dunst, Jim Parsons, Mahershala Ali, Aldis Hodge, Glen Powell
127 minutos

Estrelas Além do Tempo era uma história que precisava ser contada. A trama baseada em história real envolve três mulheres negras que trabalharam com a NASA durante a época da corrida espacial contra os russos, ajudando nas primeiras missões para além da orbita da Terra. Nessa época ainda segregada dos EUA, as mulheres negras empregadas na NASA só podiam ser “computadores” – ou seja, faziam a matemática bruta enquanto os homens (brancos) levavam o crédito pelas teorias e realizações. Katherine Johnson, Dorothy Vaughan e Mary Jackson quebraram esse tabu, cada uma de sua própria maneira, e o filme de Theodore Melfi tem o mérito de trazer essa história à luz, e de escalar as pessoas certas para interpretá-la. Para além de sua importância como documento histórico, no entanto, Estrelas Além do Tempo poucas vezes ultrapassa o patamar de “um filme correto”, e dificilmente fez por merecer seu lugar entre os indicados a Melhor Filme desse ano. Na direção, Melfi adiciona tanta leveza e ritmo ao filme que a densidade da história e do roteiro ficam quase perdidos, não fosse a atuação centrada das três protagonistas.

Ao contrário do que faz em Empire, Taraji P. Henson sabe que, como Katherine Johnson, precisa controlar seus impulsos iconoclastas e entregar uma atuação discretamente emocional, e brutalmente eficiente. É o que ela faz, especialmente na única cena de catarse de sua personagem, e no charmoso desenvolvimento de seu romance com o Coronel Johnson (Mahershala Ali). Octavia Spencer empresta a mesma honestidade e comunicatividade à Dorothy Vaughan que marcou suas melhores personagente – é impressionante ver o quanto a atriz dialoga fácil com as expectativas do espectador. Por fim, Janelle Monae é uma revelação como Mary Jackson, muito mais do que em seu papel em Moonlight, imbuindo a personagem com uma força de caráter e uma versatilidade emocional que o outro filme não lhe permitiu mostrar. Dois trios tão excepcionais de mulheres, um na frente das câmeras e outro por trás da história verdadeira, mereciam um filme que ousasse, criasse e brilhasse mais.

✰✰✰✰ (3,5/5)

moana

Moana: Um Mar de Aventuras (Moana, EUA, 2016)
Direção: Ron Clements, John Musker
Roteiro: Jared Bush
Elenco: Auli’i Cravalho, Dwayne Johnson, Rachel House, Temuera Morrison, Jermaine Clement, Nicole Scherzinger, Alan Tudyk
107 minutos

O ambiente criativo dentro da Walt Disney Studios, hoje em dia, é claramente o melhor que existe dentro de Hollywood. Caso contrário, os filmes da Pixar, Marvel e da própria Disney Animation não tomariam os riscos calculados que tem resultado em sucessos de bilheteria sem precedentes. Ao dizer isso, não quero dizer que não exista uma cultura corporativa dentro da Disney, mas que ela funciona em harmonia com o lado criativo e entende que diretores, roteiristas e animadores precisam ter uma voz, porque o público raramente compra um produto sem alma. Moana, a nova aventura de princesa da Disney, demonstra isso com excelência – sua correção étnica e política quase impecável, além de seu hábil desvencilhar dos clichês estabelecidos décadas atrás pelo subgênero de princesas dentro da Disney, mostram que uma equipe criativa inteligente e conectada com a sensibilidade moderna está por trás do filme. Ao mesmo tempo, essas concessões ao público são minuciosamente calculadas, a fim de evitar que o filme perca um público mais conservador (por isso que a Disney ainda não teve um personagem LGBT, por exemplo), ou os fãs mais radicais que ainda se prendem às tradições da franquia. Em Moana, esse equilíbrio essencialmente cínico é apaziguado por pelo menos um excelente trabalho artístico: o de Lin-Manuel Miranda na composição das canções originais.

De “How Far I’ll Go” a “We Know the Way”, as músicas de Moana são as melhores da Disney em muito tempo. A mistura hábil de música pop e Broadway que Miranda, com seu mega-sucesso Hamilton, representa, cai muito bem à história, que acompanha a filha do chefe de uma aldeia que redescobre o passado velejante de seu povo e assume a missão de se juntar ao semideus Maui (Dwayne Johnson) para restaurar a segurança de seu modo de vida. A cultura das ilhas do pacífico é explorada pelo roteiro, mas realmente vendida pelos visuais espetaculares do filme, especialmente em sua passagem final – enquanto isso, a música de Miranda e a carismática performane de Dwayne Johnson carregam o filme para um confortável território cosmopolita. Belamente realizado e equilibrado, Moana é mais um acerto (ainda que moderado) da Disney.

✰✰✰✰ (4/5)

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