2 de set. de 2015

6 anos d’O Anagrama: 6 personagens de TV marcantes dos últimos 6 anos

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Essa semana O Anagrama completa 6 aninhos! Incrível pensar em como esse tempo todo passou rápido, e o quanto o site mudou de 2009 pra cá, mas mais incrível ainda é pensar em quanta coisa, quanta cultura pop, passou por aqui e pelo mundo nesse período. Por isso, para comemorar em grande estilo os 6 anos do site, resolvemos olhar para fora de nós mesmos e montamos uma série de listas selecionando alguns dos “itens” mais marcantes da cultura pop dos últimos anos. Serão dois posts de TV, dois de cinema e dois de música, para pagar tributo ao caráter multi-assunto d’O Anagrama, nos próximos seis dias, e embora as nossas seleções sejam muito pessoais, como sempre estamos mais que abertos para discutir quem faltou e quem sobrou nas listas com vocês, maravilhosos leitores!

Hoje, elencamos 6 personagens de TV que acompanhamos nesses 6 anos. Amanhã rola a última lista, com 6 álbuns que mais nos marcaram desde 2009.

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Gloria Delgado-Pritchett (Sofia Vergara)
de Modern Family (2009-)

por Gabryel Previtale

A belíssima atriz colombiana Sofia Vergara é o nome por traz da maravilhosa, divertidíssima e carismática personagem Glória Prichett. A atriz interpreta, na série Modern Family, a também colombiana Glória, casada com Jay Pritchett e mãe de Manny Delgado. Seu marido é americano e mais velho, o que leva o espectador (a primeira vista) a tirar várias conclusões errôneas e preconceituosas acerca da personagem. No entanto, quem a segue e acompanha a série sabe que Gloria quebra vários paradigmas, sendo uma excelente mãe e uma esposa mais que dedicada, que liga mais para o interior das pessoas do que para beleza. Entre tantos preconceitos que não cabem a personagem, existe a ideia machista de que mulher muito bonita não pode ser engraçada ou ser independente, e é aí que Sofia Vergara consegue brilhar e cravar sua marca como uma ótima atriz.

Mesmo dando um ar caricato a sua personagem, com um sotaque muito carregado (traço que suporta boa parte do humor da personagem), ela se mostra muito esperta, intensa e forte como mulher latina, com a série a colocando em situações cômicas, juntamente com o restante da família, onde sua personalidade divertida e forte consegue se sobressair. Sofia foi indicada 4 vezes ao Emmy pelo papel, além de eleita a terceira melhor mãe da TV americana e uma das 7 melhores personagens femininas de comédia pela BuddyTV.

Mais Sofía: A colombiana atua em Hollywood desde 2002, mas desde o sucesso da sitcom da ABC conseguiu papéis bem mais destacados em filmes que muito mais gente viu. As escolhas variam de comédias bobinhas (Os Smurfs, Noite de Ano Novo) até filmes com mais pedigree (vide o tragicômico Chef, em que nossa Gloria entrega uma atuação agradavelmente contida). Esse ano ela foi a co-estrela de Reese Witherspoon em Belas e Perseguidas, buddy-cop-comedy lançada no começo de Julho.

THE GOOD WIFE

Alicia Florrick (Julianna Margulies)
de The Good Wife (2009-)

por Rubens Rodrigues

Após a prisão do marido, envolvido em um escândalo sexual, a esposa do promotor viu sua vida mudar quando virou objeto de observação pública. Com dois filhos adolescentes para criar, Alicia Florrick voltou a trabalhar como advogada, carreira que havia largado ao casar com Peter Florrick. A premissa é interessante e promete um drama dos bons, o que The Good Wife entregou desde o começo.

Com desenvolvimento na medida certa, se desenrolando naturalmente, a série desconstrói a “boa esposa” durante a primeira temporada e constrói Alicia Florrick como a conhecemos hoje: mulher, mãe e advogada. Uma fortaleza que aprendeu da forma mais difícil a lidar com as voltas da vida. Os roteiristas Robert e Michelle King são brilhantes ao escrever o programa em volta dessa (des)construção da personagem interpretada por Julianna Margulies, que faz um dos trabalhos de maior destaque na TV atualmente. Alicia Florrick é dessas personagens que devem ser lembradas ainda por muito tempo.

Mais Julianna: Essa nova-iorquina é uma estrela da TV desde bem antes de embarcar em The Good Wife (ela passou seis temporadas, entre 1994 e 2000, em Plantão Médico), e faz bem pouco cinema. Desde o começo da série, atuou só em dois filmes: Amigos Inseparáveis e Confusões em Família, ambos comédias acima da média em que seus companheiros de cena são gente do calibre de Andy Garcia, Al Pacino, Christopher Walken e Alan Arkin.

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Arya Stark (Maisie Williams)
de Game of Thrones (2011-)

por Vanessa Dias

Game Of Thrones estreou em 2011 e, desde então, cada temporada junta um novo número considerável de fãs assíduos pela série. Como sabemos, no universo de Westeros é preciso ser o mais desapegado possível dos personagens, uma vez que você nunca sabe quem poderá ser o próximo cujo o sangue vai parar de correr pelas veias. No entanto, é inevitável apostar nos seus favoritos e torcer para que eles durem ao máximo na série.

Caçula da família Stark (e uma das poucas sobreviventes da linhagem), Arya é seguramente uma das personagens que mais amadureceu dos primeiros episódios até agora. A garotinha que tinha aulas de luta escondida, dizendo serem “aulas de dança”, sofreu uma série de eventos traumáticos e deu espaço a uma garota madura, amarga, talvez um pouco psicopata e certamente sedenta por vingança. Ainda sim, Arya se difere da maioria dos personagens da série principalmente por mostrar um amadurecimento na série sem deixar que seus ideais fossem corrompidos.

Ao contrário de alguns pensamentos calculistas tão vistos em alguns personagens, Arya nunca se importou com laços por interesse ou status. A garota se aproxima de todos que merecem sua amizade, sem olhar para classe social e nem mesmo levando em conta se isso poderá prejudica-la. Oposta a sua irmã, Sansa, que na primeira temporada queria acima de tudo casar com Joffrey e se tornar rainha (se ao menos ela soubesse o que lhe aguardava...), Arya mostrava tais ideais ainda como uma criança nobre – o amor pelo irmão bastardo Jon Snow, a amizade com o filho de um açougueiro fiel a ponto de desafiar o futuro Rei de Westeros, a decisão por não seguir os padrões da sociedade de ser a futura esposa de um nobre. Se analisarmos, Arya é inclusive uma mulher à frente de seu tempo e sociedade. Sempre defendeu que mulheres podem ser mais que moedas de troca em acordos políticos, dizendo ainda na primeira temporada que “essa não era ela”. A Stark não cedeu às pressões sociais mesmo em momentos de crise, mantendo a autenticidade e princípios – o que, convenhamos, é um pouco raro de encontrar na série.

É característica predominante na personagem a coragem. Arya é extremamente corajosa e, ao contrário de praticamente todos os outros personagens, a garota não é ambiciosa. Certamente Arya não iria se importar nem um pouco de nunca ter conhecido King’s Landing, de ainda estar em Winterfell, ao lado de Nymeria e dos irmãos. Infelizmente a vida em Game Of Thrones não é, em momento algum, uma máquina de realização de desejos e, como sabemos, a vida de Arya (e de todos os Starks, no geral) não foi nem um pouco justa. Arya sofreu e, sim, se tornou extremamente amarga de uma maneira irremediável. Passou a não ter receio de matar, a não sentir condolência por pessoas que julgava não merecer e, acima de tudo, a buscar vingança por aqueles que ama. É justamente por isso que, apesar da mudança e dos sentimentos negativos fervilhando, a personagem se mantém doce: é de suas perdas e de boas lembranças que a garota tira forças para continuar sobrevivendo. O que move o desejo de vingança de Arya não é uma raiva cega, mas justiça.

A verdade é que Arya não precisa de grandes cenas chocantes ou ambição sem tamanho para ganhar destaque na série. Tampouco precisa ser extremamente forte ou traiçoeira para estar entre os sobreviventes de Westeros. Arya é esperta o suficiente para, aos onze anos de idade, enganar um assassino profissional e se manter anônima em um universo onde sua cabeça é prêmio, sem deixar de ser doce e altruísta o suficiente para abrir mão de alguns amigos, se for o melhor para eles. É impossível saber o que o futuro de Game Of Thrones guarda para a caçula Stark. Só podemos desejar que, a cada episódio, Arya continue aplicando a primeira lição aprendida durante as aulas de dança. What do we say do death? Not today.

Mais Maisie: A mais feroz dos Stark foi o primeiro papel dessa jovem (18 anos!) britânica. Desde então, ela aproveitou a fama para estrelar uma minissérie de suspense da BBC (The Secret of Crickley Hall), um filme de ação B (Heatstroke), uma dramédia familiar elogiada (Gold) e o misterioso The Falling, que ganhou trailer recentemente. Ainda esse ano ela participa de dois episódios da nona temporada de Doctor Who, argumentadamente a série mais popular da Inglaterra.

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Hannah Horvath (Lena Dunham)
de Girls (2012-)

por Caio Coletti

Não faltam polêmicas envolvendo Girls, a comédia que a HBO estreou em 2012 e se tornou um dos carros-chefe do canal, ou mesmo envolvendo sua criadora e protagonista, Lena Dunham. Da exposição constante da nudez de suas personagens até a reclamação quanto à pouca diversidade racial na série, a jornada de Hannah Horvath como personagem não foi uma das mais tranquilas desses últimos 6 anos na TV. Há algo de essencial a se reconhecer sobre ela, no entanto: Hannah é corajosamente falha de uma maneira que poucas protagonistas na televisão são hoje em dia. Egocêntrica, com uma opinião de si mesma nada modesta, verborrágica, cheia de paranoias e preocupações fúteis. Hannah começa a série dizendo que talvez seja a voz da sua geração, e talvez Lena Dunham tivesse essa mesma ambição lá em 2012 – a jornada da personagem em Girls, no entanto, é uma de luta pelo aperfeiçoamento pessoal e, ao mesmo tempo, apego àquelas características que fazem Hannah ser quem ela é, e isso inclui todos os defeitos citados aí em cima.

“Eu sou um indivíduo e sinto o que sinto quando sinto”, ela diz em certo ponto da série, com convicção inabalável. No mundo imperfeito de Girls, que reflete sempre e de forma muito honesta também as limitações de sua equipe de criação e roteiro, somos incentivados a abraçar Hannah e suas amigas (igualmente problemáticas) da forma como elas são. Há algo de muito relacionável nisso, porque é o que todos nós desejamos quando saímos da frente da tela para encarar o mundo real – ou deveríamos desejar, ao menos. Hannah é, no cenário televisivo de hoje, uma das personagens que mais mudou e melhorou na sua jornada narrativa, e paradoxalmente também a que foi escrita com o melhor senso de coesão e fidelidade aos traços fundamentais da sua personalidade. Há algo de refrescante na honestidade e vulnerabilidade desse processo, e algo de muito especial também.

Mais Lena: Concentrada na série da HBO, Lena não teve muito tempo para continuar a carreira cinematográfica como roteirista, que tinha começado bem com Mobília Mínima e Nobody Walks. Como atriz, ela apareceu em pequenos papéis nas comédias Supporting Characters (projeto pessoal do companheiro de Girls Alex Karpovsky), Bem-Vindo aos 40 e Um Novo Começo. Quem estiver ansioso por mais Lena, no entanto, deve correr ler Não Sou uma Dessas, livro auto-biográfico que ela lançou ano passado.

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Claire Underwood (Robin Wright)
de House of Cards (2013-)

por Caio Coletti

Robin Wright é um dos talentos mais gritantemente mal-aproveitados de Hollywood. Encarnando a esposa do senador (no começo da série) Frank Underwood feito por um Kevin Spacey sempre excelente, ela construiu praticamente sozinha uma das personagens mais fascinantes e importantes dos últimos anos da televisão. Durante o primeiro ano, no qual o roteiro estoico da série deixava muito (demais?) para a imaginação quanto ao casamento de Frank e Claire e os objetivos que verdadeiramente moviam as ações de ambos, ela quietamente dispôs as fundações da personagem. O trabalho sutilmente brilhante garantiu que, no segundo ano, Claire ganhasse mais destaque e a trama a analisasse com mais cuidado – Robin nos mostra, durante aqueles 13 episódios, uma mulher com um compasso moral que aprendeu que, em alguns casos, os fins justificam os meios. O showrunner Beau Willimon não foi gentil com a personagem, cavando falhas nessa atitude de paladina da justiça com métodos escusos, e no terceiro ano o que vimos foi Robin operando uma lenta realização na agora primeira-dama, um confronto com as verdades de sua situação e seu casamento.

Muito alarde se faz quanto às citações ácidas e sombrias de Frank, um dos vilões (e não, ele não é um anti-herói) mais verdadeiramente assustadores da televisão hoje em dia, mas a verdadeira carta na manga de House of Cards (sem trocadilhos) é Claire. Uma personagem tremendamente humana que carregou a série, com essa humanidade, para um caminho menos cínico, que enxerga a tragédia de seus personagens e a grandeza, mesmo que duvidosa, deles. Wright é a grande responsável por termos, hoje em dia, a House of Cards que aprendemos a amar, e realiza temporada após temporada um dos trabalhos mais precisos, importantes, fortes e sutis do cenário televisivo. Estamos melhores, como espectadores, com Claire Underwood em cena – e isso não é pouco.

Mais Robin: Quem acompanha o cinema um pouco mais avidamente sabe que House of Cards é só mais uma marca na carreira brilhante dessa texana. Ela estreou em 1987 em A Princesa Prometida e fez todo mundo se apaixonar por ela em Forrest Gump – de 2013 para cá, esteve no polêmico Amor Sem Pecado, com Naomi Watts, no lindo O Congresso Futurista (que revisamos aqui no site), e no thriller O Homem Mais Procurado, que tem uma das últimas atuações do falecido Philip Seymour Hoffman.

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Rust Cohle (Matthew Mcconaughey)
de True Detective (2014)

por Caio Coletti

Eu confesso que não estou assistindo a segunda temporada de True Detective, a antologia criminal da HBO, mas poucas histórias na televisão me afetaram e fascinaram tanto quanto a do primeiro ano da série de Nic Pizzolato. Há algo de verdadeiramente mitológico ou místico na forma como o roteirista moldou seus personagens e a filosofia deles em torno de noções centrais de narrativa (de certa forma, True Detective é uma história sobre o ato de contar histórias), niilismo e psicologia. Há algo de ainda mais especial no personagem central da série, o Rust Cohle interpretado por Matthew McConaughey – escrito sob medida para entrar para o imaginário popular com seus longos monólogos sobre a futilidade da vida e da percepção humana, Rust é também, habilmente, transformado em um personagem integral e intenso, com motivações e sentimentos identificáveis. McConaughey, no que é absolutamente a melhor performance da sua carreira, o interpreta com a sensibilidade certa, construindo uma atitude debochada e cínica só para desmoroná-la perto do final, quando vemos Cohle acordar depois de solucionar o caso que ocupa a temporada inteira (e quase morrer no processo).

O processo minucioso de desenho dessa linha narrativa apenas torna sua conclusão ainda mais tocante, revelando o âmago da narrativa da temporada e dos dois personagens principais que acompanhamos. Cohle deixa de ser essa criatura sobrenatural que aparece em nossas telas, na expressão perdida e fascinante de um ator com o qual estamos acostumados a dialogar, para nos dizer que a vida nada mais é que “um sonho que tivemos dentro de uma sala trancada”; ele se torna um ser humano com esperanças e sonhos e desejos e pensamentos demais dentro de si, que precisa estourar tudo isso em algum momento. Há algo de muito catártico em ver Rust chorar como chora em “Form and Void” (1x08), por mais cruel que isso seja – faz pensar que, se a vida é mesmo essa gigantesca ilusão, talvez seja melhor tirar tudo o que pudermos dela.

Mais Matthew: Difícil é saber onde Matthew não está nos últimos anos. Depois de se firmar como ator sério e com um Oscar na prateleira, o ator americano estrelou Interestelar, que dividiu críticos e espectadores mas segue sendo um dos filmes obrigatórios de 2014, e The Sea of Trees, drama de Gus Van Sant (Gênio Indomável) mal-recebido em Cannes. Ano que vem ele atua sob o comando de Gary Ross (Seabiscuit) no épico de Guerra Civil The Free State of Jones.

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