30 de jun. de 2015

Diário de filmes do mês: Junho/2015

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por Caio Coletti

Nem todos os filmes merecem (ou pedem) uma análise complexa como a que fazemos com alguns dos lançamentos mais “quentes” ou filmes que descobrimos e nos surpreendem positivamente. Particularmente, eu não me dou a escrever críticas grandes de filmes que considero ruins ou irrelevantes, porque não vejo sentido em remoer demais os erros de uma produção cinematográfica. É levando em consideração a função da crítica e da resenha como uma orientação do público em relação ao que vai ser visto em determinado filme que eu resolvi criar essa coluna, que visa falar brevemente dos filmes que não ganharam review completo no site. Vamos lá:

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Chef (EUA, 2014)
Direção e roteiro: Jon Favreau
Elenco: Jon Favreau, John Leguizamo, Bobby Cannavale, Emjay Anthony, Scarlett Johansson, Dustin Hoffman, Sofia Vergara, Oliver Platt, Robert Downey Jr
114 minutos

Chef é, para quem conhece bem carreira de Jon Favreau, talvez o projeto mais pessoal que o ator/diretor/roteirista já fez. Celebrado pelas duas primeiras comédias que dirigiu (Crime Desorganizado e Um Duende em Nova York), o cineasta foi recrutado por Hollywood e comandou os dois primeiros Homem de Ferro, além do equivocado Cowboys & Aliens, de 2011. De certa forma, ainda que contando com um elenco estrelado e um “final feliz” hollywoodiano, Chef é o retorno de Favreau não só ao gênero que o consagrou como também ao tipo de história e valor de produção que o tornou um dos queridinhos da crítica no começo da carreira. Como tal, no entanto, o filme ousa ser também uma crítica mordaz às engrenagens da indústria, usando a frustração do personagem principal, um chef de cozinha apaixonado que é pressionado pelo dono do restaurante (Dustin Hoffman, ótimo) a cozinhar “o mesmo menu de sempre” como metáfora para as pressões da indústria cinematográfica sobre um autor como Favreau, que escolheu se aventurar por blockbusters tão cedo na carreira.

O mais bacana de Chef, no entanto, é que o diretor não quer realizar uma fábula amarga contra Hollywood, e sim um estudo de personagem e uma “dramédia” familiar que expressa algumas das frustrações que carrega como artista. Daí a importância do conflito com o crítico gastronômico interpretado por Oliver Platt, e o destaque dado à relação do personagem principal (que Favreau também interpreta, e com excelência) com o filho (Emjay Anthony), com a ex-mulher (Sofia Vergara) e com o melhor amigo (John Leguizamo). O elenco ajuda a abrilhantar o roteiro, que se estrutura de forma bem desenhada e segue sem derrapar até o final, quando um flashforward é inserido para nos mostrar a felicidade utópica do protagonista. É cruel dizer que Chef peca por ser idealista demais, principalmente em se tratando de um projeto tão pessoal para Favreau – a impressão que fica é que o diretor fez o filme para respirar o ar puro de fora da máquina hollywoodiana, e que o final feliz meio Sessão da Tarde, de pouca sutileza, faz parte desse respiro. Com um elenco brilhante e momentos genuinamente tocantes, Chef é um filme que faz por merecer a boa vontade do espectador para lidar com os poucos erros que ele comete.

✰✰✰✰ (3,5/5)

Limitless-Poster

Sem Limites (Limitless, EUA, 2011)
Direção: Neil Burger
Roteiro: Leslie Dixon, baseada na novela de Alan Glynn
Elenco: Bradley Cooper, Robert De Niro, Abbie Cornish, Andrew Howard, Anna Friel
105 minutos

Histórias de ascensão ao poder e desilusão idealista com os meandros do mesmo já foram contadas inúmeras vezes por Hollywod, em quase todos os cenários imagináveis. Esse arco narrativo particular foi o cerne de O Poderoso Chefão, e mais recentemente a política moderna ganhou sua própria versão da história em Tudo Pelo Poder, um grande filme que foi tragicamente ignorado pela temporada de premiações à época. Sem Limites, de certa forma, é uma variação dessa mesma trama – a diferença é que inclui elementos de ficção científica na mistura, produzindo um conto esperto sobre a inevitável corrupção daqueles que desejam o poder. A fábula de Eddie Morra (Bradley Cooper) e sua vida meteórica e perigosa depois de descobrir uma droga que o permite utilizar 100% das capacidades cerebrais não é um aviso anti-narcóticos, como muita gente interpretou – é uma condenação da ambição desmedida, uma análise fria e pessimista da pouca consideração que temos pela vida humana quando nossa felicidade (mesmo que seja uma felicidade artificial) está em jogo.

Curiosamente, o roteiro de Leslie Dixon (Hairspray) não hesita em herdar da novela de Alan Glynn esses dois clichezões (o da história de ascensão ao poder e o da questão “do que seríamos capazes com 100% do nosso cérebro?”), principalmente porque sabe que a força da trama está no discurso político e moral que tece ao misturar essas duas coisas. Há algo de novo e refrescante em Sem Limites, mesmo que haja muito pouco de original nele – parte da culpa, é claro, é do diretor Neil Burger (O Ilusionista), um dos mais eficientes “diretores-por-contrato” de Hollywood hoje e um esteticista com o olho certeiro para expressar as emoções da trama. Ele faz também um bom trabalho de direção de atores, orientando Cooper e Abbie Cornish, o casal principal, a trazer gravitas a seus papéis ao mesmo tempo em que se aproveita da verborragia e do carisma natural de seu protagonista. Sem Limites convence o espectador de sua própria inteligência até certo ponto, principalmente porque se mantem um passo a frente de nós, meros mortais, o tempo todo – e o resultado é um dos blockbusters mais interessantes dos últimos tempos.

✰✰✰✰ (4/5)

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Terremoto: A Falha de San Andreas (San Andreas, EUA/Austrália, 2015)
Direção: Brad Peyton
Roteiro: Carlton Cuse
Elenco: Dwayne Johnson, Carla Gugino, Alexandra Daddario, Ioan Gruffudd, Archie Panjabi, Paul Giamatti, Kylie Minogue, Colton Haynes
114 minutos

O cineasta canadense Brad Peyton tem um dos currículos menos auspiciosos de Hollywood atualmente. Para além de curtas-metragens e episódios do procedural Republic of Doyle, o diretor só assinou as sequências Como Cães e Gatos 2 e Viagem 2: A Ilha Misteriosa. O novo Terremoto: A Falha de San Andreas até herda desse último o seu astro, o ex-campeão de luta livre Dwayne “The Rock” Johnson, um ator surpreendentemente carismático para suas origens. Ele é o ponto fundamental de Terremoto, e faz seu trabalho de forma bastante decente como um piloto do corpo de bombeiros de Los Angeles, recém-divorciado, que se vê na obrigação de resgatar a ex e a filha quando um tremor de proporções mastodônticas atinge a Costa Oeste americana. O problema aqui não é o elenco, que é completado por um time surpreendente de nomes famosos (e atores competentes) que inclui Carla Gugino, Paul Giamatti e até a jovem Alexandra Daddario. Todos eles lutam contra os clichêzões dos seus personagens, criando seres humanos que seriam bastante envolventes em tela caso o filme ao redor deles fosse outro.

Sim, porque Reed e o roteirista Carlton Cuse (Lost, Bates Motel) moldam o seu filme-desastre para espelhar aqueles famosos feitos cinematográficos do diretor alemão Roland Emmerich, que destruiu o planeta em O Dia Depois do Amanhã e 2012. Da história da família que foi separada por uma tragédia do passado e as consequências emocionais dela até a fotografia de Steve Yedlin (Carrie), que tenta criar imagens genuinamente impressionantes nas sequências carregadas de CGI, tudo é um reflexo do estilo de Emmerich dirigir. O problema é que Reed não tem o senso de escala e a capacidade de conversar com o espectador no sentido de localizar seus personagens dentro da catástrofe que assistimos em takes abertos e generosos. O problema de San Andreas não é sua falta de surpresas, mas a pouca habilidade de seu diretor de criar tensão genuína mesmo que o espectador já saiba, no fundo, o destino dos personagens. O resultado é um filme morno, que falha em divertir ou emocionar de qualquer maneira o espectador.

✰✰ (2/5)

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